Jesus Cristo diz: “Os sãos não precisam de médicos e sim os doentes” Lucas 5.31.
A comunidade luterana que se reúne no Embu das Artes, grande São Paulo, é constituída por poucos membros e seu espaço de culto é uma pequena sala alugada. Situada no primeiro piso de um conjunto comercial, a vista, por meio de uma janela com grades, dá de frente para o Pronto Socorro municipal, esta imagem me fez lembrar outra; que a Igreja é como um hospital.
Existem muitas imagens para descrever a Igreja, particularmente gosto muito da imagem do hospital, pois hospital é sinônimo de cura, a pessoa vai ao hospital para se tratar e ficar curada. A Igreja é como um hospital, dela participam pessoas que se sabem pecadoras – “doentes” – em busca de perdão – “cura”. No hospital a cura exige do paciente disposição para seguir o tratamento e as recomendações médicas, também na Igreja ser perdoado significa mudança de comportamento, ou seja, seguir as recomendações de Jesus: “Vá e não peque mais” João 8.1. Mas acima de tudo, a imagem da igreja com hospital nos ajuda a perceber que as pessoas sofrem com seus pecados e estes trazem consequências sérias para suas vidas.
Escrevo essa meditação no dia internacional das mulheres e não deixo de pensar na jovem grávida espancada por seu companheiro, que ficou hospitalizada por três dias em decorrência de tamanha violência, mas que não tem coragem de denunciá-lo por medo de que algo pior possa aconteçer.
As pessoas sofrem num mundo doente, se não houver cura, a dor vai continuar e casos como da jovem espancada serão mais do mesmo. Para que a cura aconteça é preciso tratamento.
Hoje convido vocês a pensarem e refletirem sobre a Igreja e o Pronto Socorro. Se o hospital é identificado como um local de tratamento e cura, o pronto socorro é um local de ajuda diante da urgência do sofrimento pessoal. No pronto socorro ninguém é curado, apenas aliviado de seus sintomas.
Infelizmente também se experimenta a vida na igreja como alivio para os sofrimentos que se fazem mais urgentes, do contrário vai-se aguentando em casa até não ter mais condições e aí sim se busca ajuda. Quando aquela dor é suavizada volta-se a velhos hábitos e segue-se a vida como ela sempre foi.
A verdade nisso tudo é que o pecado – “as doenças” – continua existindo, gerando dor e sofrimento. Somente a cura, não o alívio, permitirá às pessoas experimentar uma nova vida e àquela jovem sentir-se acolhida verdadeiramente por uma igreja que a ama e não viver estigmatizada sob a sombra do medo e violência. A Igreja não pode se furtar de insistir na cura, por mais que seja tentador viver do alívio imediato.