No mundo em que vivemos somos regidos pelo condicional. Vale o esquema “se, então”. Por exemplo, se tenho dinheiro, então posso comprar o que quero/preciso; ou, se a pessoa que amo me amar, então haverá casamento; ou ainda, se o meu time jogar melhor, então vencerá.
Tão forte é o condicional em nossa vida que temos dificuldade de entender o incondicional: um amor incondicional; uma vitória sem esforço; um prêmio sem merecimento. Tão forte é o condicional em nossa vida que temos dificuldades de entender um Deus que nos ama incondicionalmente. A gente sempre acha que tem que fazer alguma coisa para merecer este amor. A gente sempre acha que não está fazendo o suficiente para justificar o perdão de Deus que liberta, que alivia. A gente sempre acha que alguma contribuição tem que ser dada para recompensar o carinho e a aceitação de Deus.
Na lógica de Deus não vale o esquema “se, então”. Tudo que precisamos fazer é receber, aceitar, agradecer, viver de acordo com o recebido. Não há condições para receber. Só liberdade para agir.
Em Romanos 5, 1 e 2 o apóstolo Paulo fala desta gratuidade, do caráter incondicional da fé e do que ela faz em nós: reconcilia, perdoa, cura, acolhe, envia. E mais: a incondicionalidade, a gratuidade da salvação cria a esperança.
A partir do principio da esperança, o apóstolo Paulo afirma que uma pessoa cristã, mesmo não estando livre do sofrimento pode fazer do sofrimento uma experiência libertadora. Jogando sobre os sofrimentos a energia da esperança, eles serão dominados e superados. A esperança leva à perseverança e esta à superação do sofrimento.
Nossa dificuldade com o amor incondicional de Deus não termina quando se tem uma fé inabalável, nem quando se é movido pela esperança. Continuamos no mundo do condicional. Em nossa vida continua valendo o esquema “se, então”. Ou seja, se aceito que Deus me ama de graça, incondicionalmente, então vou angariando forças para resistir aos sofrimentos, para não me deixar abalar e assim vou crescendo na esperança que me dá olhos claros para entender como as coisas são e como podem ser mudadas.
Mas, neste caso, o condicional já não é mais uma auto-justificação, nem uma auto-salvação e sim o resultado prático da esperança que é suscitada pela fé em Jesus Cristo. Amém.
P. Carlos Musskopf, pastor da IECLB na Paróquia ABCD, Santo André/SP