Estudo Bíblico 20
Ana Luiza Knaak Geppert (estudante de Teologia);
Pastora Marli Brun
Programa de Gênero e Religião – Faculdades EST
Texto: Gálatas 3.28; Joel 2.28 – Solo Fide – Katharina Schütz Zell
O agir de Deus por meio da fé
Katharina Schütz Zell acreditava no seu direito de pregar na igreja. Pela fé ela sabia que o Espírito de Deus (Ruah) habitava nela, conforme palavra bíblica Joel 2.28 que afirma: “E acontecerá, depois, que derramarei o meu Espírito sobre toda a carne; vossos filhos e filhas profetizarão [...]”. Como calar a voz se Ruah habita em nós?
O conhecimento bíblico-teológico fez com que Katharina soubesse que as pessoas são justificadas apenas pela fé e não por intermédio de obras. Hoje anunciamos que as obras humanas, especialmente as leis, não podem restringir ou negar, por questões de gênero, a vocação de uma pessoa. Pela fé, mulheres e homens são pessoas justas (Rm 1.17). Essa fé não se trata de um exercício de piedade. Ela é uma dádiva recebida de Deus que nos faz viver em comunhão e amor, rompendo com todas as formas de exclusão. É uma fé que nos faz enxergar a outra pessoa e a nós mesmas, como imagem e semelhança de Deus. Na interpretação que Zell fez do Pai Nosso, ela fala de Deus como um avô e como uma mãe que tem o prazer em amamentar.
Pela fé na luta pelos direitos
Confiante no agir de Ruah em sua vida, Katharina escreveu ao Bispo pedindo que mudasse as regras (leis) da igreja para que mulheres também pudessem pregar. Sua escrita foi fundamentada biblicamente com palavras como às do apóstolo Paulo à comunidade dos Gálatas: “Deste modo, não pode haver judeu nem grego; nem escravo nem liberto; nem homem nem mulher; porque todos vós sois um em Cristo Jesus” (Gl 3.28).
Quando Katharina Zell defendeu o direito das mulheres pregarem na igreja, ela sabia que mulheres e homens participaram do movimento de Jesus e contribuíram na edificação das primeiras comunidades cristãs. As mulheres (e não somente os homens) tornaram-se discípulas, apóstolas, missionarias, pregadoras, diáconas, profetisas.
A importância da participação e protagonismo das mulheres foi reconhecida por Jesus, mas velada e negada por tradições posteriores. Quando a igreja deixou de ser um movimento e se tornou uma instituição, a lógica cristã da igualdade e justiça de gênero foi deixada para trás e substituída pela lógica excludente, machista, hierárquica, patriarcal, própria do mundo daquela época. Prevaleceu, na organização da igreja cristã, a supremacia masculina e submissão das mulheres. Desse modo, mulheres que exerciam qualquer cargo ou função religiosa passaram a ser desconsideradas ou consideradas heréticas.
Na Idade Média, as mulheres tinham pouco acesso aos espaços públicos. Algumas, como Katharina Schütz Zell, tiveram a sorte de ter acesso à educação, devido a posição social de sua família. Os espaços de formação teológica, para atuação na igreja, podiam ser acessados exclusivamente por homens. A reformadora não apenas defendeu seu direito à participação protagonista das mulheres na igreja como testemunhou sua fé através de seus escritos, pregando (quando possível), atuando na edificação da comunidade, acolhendo pessoas refugiadas, hospedando os reformadores Zwínglio e Ecolampándio, dentre outros.
No movimento da Reforma, Katharina Schütz Zell foi um dos exemplos de mulheres que rompeu com os padrões de submissão impostos pela sociedade e religião da época. Casou-se com Mateus Zell, padre da catedral de Estrasburgo que, ao adotar a teologia da reforma, foi excomungado pelo bispo. O casal trabalhava em conjunto para estabelecer a teologia da reforma em sua cidade. Antes mesmo de se casar, Katharina era uma liderança atuante em sua comunidade, dentro dos limites historicamente estabelecidos pela igreja. O direito de pregar, defendido por ela, tornou-se realidade em algumas igrejas
oriundas do movimento da Reforma, somente no século XX. Outras igrejas ainda continuam definindo o lugar da mulher como um lugar de sub-missão.
Que possamos sempre lembrar que fé é confiar em Deus, é encontrar refúgio em nossas aflições, força para lutar. Que nesse momento, mais do que nunca, possamos ser Katharinas, e que a nossa fé, assim como a dela, não seja inerte, mas que seja uma fé que nos coloque em ação em amor, justiça e paz.
Para refletir:
O que significa para ti a salavação somente por fé?
O que significa para tua comunidade?