Que a paz de Deus, o amor de Jesus Cristo e o discernimento do Espírito Santo estejam com você! Amém
Eu cresci na roça, numa realidade de distanciamento entre casas, mas de muita solidariedade e apoio recíproco entre vizinhos. Esse suporte solidário entre vizinhos não era apenas desejável, mas necessário porque pouquíssimas pessoas tinham carro naquele tempo e naquele lugar; o transporte público era bastante precário e morávamos a uns 4 Km da parte urbana do distrito - um percurso que, normalmente, era feito a pé. Se houvesse alguma emergência médica, por exemplo, algum acidente, como eu mesma cheguei a ter, vizinhos solidários eram o recurso mais imediato com o qual se podia contar.
Onde morávamos, a grande maioria das famílias era de origem alemã, descendentes de imigrantes que foram incentivados pelo Governo Imperial brasileiro a virem para cá no século XIX. Mas também havia umas pouquíssimas famílias de pessoas negras, descendentes de escravos trazidos contra a sua vontade a estas terras.
As famílias descendentes de imigrantes alemães, como a minha, falavam o dialeto alemão e eram, maiormente de confessionalidade evangélico-luterana. E as famílias de pessoas negras falavam português e comungavam na igreja católica.
Tenho muitas lembranças da minha infância, e hoje quero contar de uma experiência que influenciou bastante no meu modo de me relacionar com as pessoas até hoje. Compartilho com vocês o meu olhar de criança sobre a capacidade de comunicação entre duas vizinhas próximas e já idosas: a Dona Hilda e a Dona Dora.
Dona Hilda era de origem alemã e luterana; Dona Dora era de origem africana e católica. Elas moravam a uns 100 metros de distância uma da outra e tinham suas próprias rotinas familiares, de afazeres domésticos e com a roça. Mas, como era costume entre vizinhas e vizinhos, se visitavam de vez em quando e durante umas duas horas tomavam chimarrão juntas e conversavam. Às vezes minha mãe e outras mulheres da vizinhança aumentavam essa roda de conversas e partilha. Foi num desses encontros que reparei que a Dona Hilda não falava uma palavra em português e a Dona Dora não falava uma palavra no dialeto alemão, mas as duas conversavam e pareciam se entender perfeitamente. Cada qual falava o idioma que dominava e escutava o idioma da outra. E elas conversavam sobre o cultivo de chás, plantas e flores, sobre receitas culinárias, sobre a vida familiar e muitas outras coisas. E eram amigas.
Hoje, quando me defronto com situações de racismo, discriminação, intolerância religiosa e tantos outros comportamentos humanos que segregam e afastam pessoas, sou ainda mais grata por ter na minha história o exemplo de amizade entre essas duas mulheres simples. Elas não problematizavam as coisas que, naturalmente, poderiam afastá-las, mas construíram formas de comunicação que ultrapassaram a linguagem das palavras. Elas viviam sua fé, na prática.
Como disse o profeta Miquéias: “O Senhor já nos mostrou o que é bom, ele já disse o que exige de nós. O que ele quer é que façamos o que é direito, que amemos uns aos outros com dedicação e que vivamos em humilde obediência ao nosso Deus.” (Miquéias 6.8).
Oremos: Querido Deus, sabemos que nos trazes ao mundo livres de preconceitos e que todo nosso comportamento e temperamento, de alguma forma, são aprendidos. Ajuda-nos a nos deixar sempre inspirar pelos melhores exemplos, aqueles que promovem relacionamentos salutares e que decorrem da sincera vontade de viver como te agrada. Ajuda-nos a viver em humilde obediência a ti. Amém.
Bênção:
Que a bênção de Deus, o Todo-Amoroso, esteja com você e te anime a sempre oferecer o que você tem de melhor para as outras pessoas. Amém.
Pa. Aneli Schwarz
Belo Horizonte/MG