A Igreja em Tempos de Coronavírus



ID: 3207

Trabalho e Bênção - Provérbios 16.3 - Ministro Candidato Éder Behling - 01 de junho de 2021

Oração em tempo de coronavírus

01/06/2021

Peça a Deus que abençoe os seus planos, e eles darão certo. (Pv 16.3)

No mundo bíblico, trabalho e religião sempre estiveram relacionados. A separação moderna da sacralidade do trabalho é um processo que ocorreu mais recentemente. Na Bíblia, trabalho e religião fazem parte do mesmo contexto. Por isso, existem várias ritos e cuidados que se devem ter para o que trabalho realizado seja abençoado.

Seja o trabalho pastoral ou no campo, o trabalho sempre foi importante para o povo hebreu. Desde o período do nomadismo até à ocupação das terras de Canaã, o trabalho se dava essencialmente no cuidado pastoral, bem como na agricultura e produtos que rendiam, bem como no respetivo comércio. Existiam, entre os Hebreus, pessoas de várias profissões, após a saída do Egito, Moises supervisionou a construção da arca da aliança e do santuário dedicado a Javé, bem como a elaboração dos paramentos e objetos destinados ao culto.

Nos tempos de Davi e dos reis, já havia uma economia de excedentes, sendo que o desenvolvimento da vida urbana (já presente na Mesopotâmia desde o iv milénio a.e.c.), fez com que surgissem artesãos independentes. Ao mesmo tempo ainda haviam grupos nômadas na região que constituíam uma complementaridade saudável para a economia. Havia trabalhadores que recebiam por dia trabalhado, contratados por um determinado período, para tarefas específicas. E mesmo casos em que eram contratados por longos períodos de tempo, como sucedeu, por exemplo, com Jacob, que combinou com seu tio Labão cuidar-lhe do gado durante sete anos, era possível uma renovação, se assim as partes o entendessem (Gn 29:20; 27-30). Podiam ser remunerados em dinheiro e/ou em géneros.

É interessante notar que os capítulos 24 a 28 do livro do Êxodo contêm uma descrição pormenorizada dos trabalhos encomendados por Deus a Moisés, que recebe a incumbência de incluir no santuário que viria a ser construído dois altares e um átrio com colunas, com ornamentos e objetos de culto ricamente adornados. São enumeradas medidas precisas, produtos e materiais específicos: será necessário azeite puro de azeitonas pisadas, para manter as lâmpadas do candelabro do santuário sempre acesas; requerem-se animais para holocausto. A agricultura e pastorícia são, pois, dois trabalhos fundamentais também para o culto.

Certos trabalhos estavam confiados às mulheres hebreias, que detinham relevante papel na economia. As leis de celebração do Sábado, o acender das velas, a preparação da mesa, as regras relativas à alimentação, a comida a escolher e como cozinhar adequada e santamente (as leis de kašrut), tudo isso pertence à mulher, que assim transforma a mesa doméstica num altar.

Também o trabalho no campo era regido por regras divinas. Quando se fazia a colheita, não se podia colher tudo até as às extremidades do campo e as espigas caídas não podiam ser apanhadas. Se ao fazer a colheita ficasse esquecido algum feixe, não era permitido voltar lá para o levar. Também na vindima não podiam ser apanhados os bagos caídos. Ao colher as oliveiras, não se podia voltar a colher o resto das azeitonas que tinha ficado nos ramos. Tudo isto deveria ser deixado para as viúvas, órfãos, pobres e demais desprotegidos (Lv 19:9-10; Dt 24:19-21).

De três em três anos, os hebreus tinham que tirar a décima parte de tudo o que tinham produzido nesse ano e ir entregá-la aos responsáveis da sua cidade, que a redistribuíam aos estrangeiros, órfãos e viúvas (Dt 14:28-29). Deviam, passados cada seis anos, observar no sétimo um ano de descanso durante o qual não trabalhavam a terra, não semeavam nem podavam, e o que ela produzisse nesse ano deveria servir de alimento a todas as pessoas da casa, seus diaristas e hóspedes, e animais.

Também o descanso das pessoas era importante, tanto que existe um mandamento para isso. Santificar o dia de descaso. Para o povo hebreu, isso ocorria no sábado. A primeira indicação desta norma está no segundo capítulo do livro do Génesis, em que Deus, contemplando tudo o que havia feito nos seis dias anteriores, decidiu descansar no sétimo dia. E isso era observado rigorosamente.

Deus está presente em todos os passos da vida quotidiana, desde o trabalho até o lazer, além do tempo de oração. E aqui temos o sentido da benção de Deus. Todas as vezes que os hebreus iam fazer algo, um trabalho no campo, na cidade, no seu ofício. Eles se colocam sob a benção. Invocavam a Deus para que abençoasse aquilo ia ser feito, e no fim invocam a Deus para que abençoasse aquilo que tinha sido feito. Todo o trabalho pertence ao Criador, e é por sua graça e em seu louvor que o Hebreu desempenha as suas tarefas diárias e as oferece a Deus, o misericordioso criador.

Texto baseado em:
FERNANDES, Maria – Trabalho e religião na literatura bíblica: alguns exemplos do Antigo Testamento. Lusitania Sacra, Lisboa, v. 36, p. 29-39, jul.-dez. 2017. Disponível em: http://hdl.handle.net/10400.14/26762. Acesso em: 27 de maio de 2021.

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