Sobre a literalidade
Em época de pandemia, não faltam Instituições Religiosas pregando a chegada do Apocalipse, com a lógica demoníaca medieval que afirma que a doença é uma consequência do pecado. Portanto, finalmente Deus inicia a sequência do fim dos tempos, com a morte de milhares de pessoas sufocadas, de forma horrível, pela infecção do Corona Vírus 19.
Nada mais obtuso e oportunista.
Apocalipse é a palavra grega para a revelação através do contato imediato com Deus, não para fim de mundo.
Mas, mais do que o entendimento tendencioso de alguns líderes religiosos, é necessário ficarmos atentos ao risco da literalidade na interpretação da Escritura Sagrada, ou seja, o movimento obscurantista que ignora que Deus estabeleceu a Escritura Sagrada de forma que ela possa ser compreendida pela humanidade em diversas épocas, e isso dando ao homem a capacidade da Interpretação Histórica do texto, utilizando a hermenêutica, a simbologia e todos os recursos adquiridos nós últimos dois séculos.
A escritura vem dar respostas às questões presentes dos anseios humanos, não ameaçar com palavras que fossem restituídas de significação.
Nós Evangelhos Sinopticos, quando o Diabo tenta Jesus com a própria literalidade( se você é filho de Deus, peça que ele transforme pedra em pão, que te faça voar) o Nazareno responde de forma límpida: não se testa Deus, esperando que o poético e o simbólico de sua palavra se materializem perdendo seu caráter Sagrado.
O Sagrado se diz no poético.O Sagrado eleva e consola, não apregoa nem ameaça.
Não mais.
Dr. Maurício Garrote - Médico e Psiquiatra, membro na Paróquia do ABCD
Kierkegaard Hoje