“... assim andemos nós também em novidade de vida.” (Romanos 6.3-5)
Estou aqui pensando no uso que fazemos da internet e sua relação com a justificação por graça e fé. Deus nos justifica e por isso somos santificados. Ou seja, o modo de vida que se espera das pessoas é este orientado por Deus.
Paulo na carta aos Romanos escreve assim: no batismo fomos sepultados e ressuscitados com Cristo para que “andemos nós também em novidade de vida.” (Romanos 6.3-5)
Mas o que isto significa nas nossas relações com a internet? Aqui faço um exercício sobre como este modo de ser e viver a fé do Cristo pode se dar no espaço da internet.
Sabemos todos e todas que o tempo da pandemia acelerou o processo de ingresso da IECLB no mundo virtual. Também a vida das pessoas é regida pelo uso da internet através das mídias sociais, aplicativos, sites e portais. Diariamente as pessoas e as igrejas beneficiam-se do seu uso. A internet é fonte de informação, “vivência” e edificação na fé.
Primeiro quero olhar para a dimensão da fé. A fé produz sentido na vida das pessoas. As pessoas têm fé e são movidas pela fé por ser ela relevante para a vida. Sentem-se acolhidas e confortadas nas fragilidades, apoiadas nas dúvidas, renovadas na esperança eterna. Este sentido pode ser produzido por diferentes formas:
a) pela Palavra: o contato entre a pessoa que crê e o sagrado passa pelo discurso, pela narrativa da fé (Michel Foucault). A palavra é também central na Igreja Luterana. Perpassa a espiritualidade desde o relato da criação até a proclamação dominical do perdão e da promessa de salvação em Jesus Cristo. A Palavra produz sentido religioso. Cabe-nos, como Igreja e pessoas de fé, observar isto atentamente. Usar bem da palavra na internet produzirá um sentido de fé belo; usá-la mal produzirá feridas e cicatrizes na fé;
b) por ritos: ritos religiosos marcam a vida de fé das pessoas. Um casamento, a confirmação, o batizado de um filho/a, ... não são esquecidos. São inscritos na alma. Agora na pandemia a Igreja realiza virtualmente cultos, mantem espaços de oração, de louvor, oficia sepultamentos e celebra orações memoriais virtuais, cerimônias de bodas de casamento, estudos bíblicos, ... Ritos produzem sentido de fé e a internet é um dos templos de produção de sentido na vida das pessoas.
O esforço necessário, como Igreja e pessoas de fé, é por manter este um espaço saudável. Limpo. Digno de ser chamado “casa de oração”, “templo de pregação da palavra”, “lugar da acolhida de Deus”.
A justificação e santificação nos ensinam que:
1. Devemos dar às pessoas o que recebemos de Deus. Recebemos perdão, vida e salvação. Devemos dar às pessoas perdão, vida e salvação. Ser a elas como um Cristo. O espaço da internet não elimina este sentido e pedido de Deus;
2. Lutero se refere à santificação como aquela vivida em comunidade e que edifica a comunidade. Santificação sempre edifica o corpo comunitário. Desferir ataques à IECLB nas redes sociais não edifica o corpo. A justificação nos liberta para o bom uso das mídias sociais;
3. P. Tillich nos lembra que a santificação sempre cuida da fragilidade da vida das pessoas. As pessoas postam da sua vida na rede social. A igreja posta cultos e orações a Deus. As pessoas procuram preencher espaços de fé na rede social. Buscam alimento e sustento para suas fragilidades. Como as acolhemos? Com ataques ou palavras e gestos de misericórdia? A justificação e a santificação nos comprometem com a acolhida na fragilidade;
4. Para a igreja e as pessoas de fé a internet – como o templo também – é espaço de manifestação da graça de Deus. Espaço da graça em duplo sentido: no sentido da resistência por não deixar o mal proliferar e por ser espaço de anúncio da revelação amorosa de Deus, de proclamação da palavra que cria sentido à vida de fé e organiza o caos (como no Gênesis);
5. A internet ainda cumpre outro papel importante por ser uma vitrine da igreja de Jesus Cristo. A internet é espaço de divulgação do Evangelho, do nome da Igreja, do que ensina e de como se faz ver e representar na sociedade brasileira. Uma vitrine precisa ser organizada. O critério para esta organização é sempre o próximo: o que edifica, o que convida e o que cuida a exemplo da parábola do bom samaritano.
A internet pode ser santa? Não, não creio nisto. Mas creio que pessoas podem fazer um bom uso dela, deixa-la ser um espaço de acolhida a exemplo de nossos templos.
Que você e eu sejamos parte deste grupo
P. Marcos Jair Ebeling