Quem já não se sentiu derrotado? Quem já não trilhou o caminho da vida se achando e achando que não precisa de ninguém para conquistar seu lugar no mundo? Quem não desejou profundamente voltar atrás e começar tudo de novo? Quem não desejou ter uma segunda chance depois de errar? Quem não pensou em algum momento da vida: “Ah, se eu tivesse outra chance! Se eu pudesse voltar atrás faria tudo diferente”... Ou talvez você tenha o sentimento de que errou demais e por isso não há como recomeçar, não há como consertar o que se quebrou...
Este é o contexto do profeta Jeremias no texto que ouvimos antes. O povo de Judá e os moradores de Jerusalém novamente desobedeceram a Deus e estão sofrendo as consequências. Jeremias tem a tarefa de ajudar o povo a juntar os cacos e assim possibilitar que algo novo surja. Entretanto o profeta não consegue ver como isso possa de fato acontecer. Jeremias está cansado de ver tanta maldade e desobediência. Seu coração está sem esperança, por isso ele clama a Deus por ajuda, por misericórdia... (Jr 17.14-18).
Deus escuta o clamor de Jeremias e responde através de um encontro com um oleiro. Deus diz a Jeremias: “Desça até a casa onde fazem potes de barro, e lá eu lhe darei a minha mensagem” (v 2).
Jeremias prontamente obedece e vai ao lugar indicado por Deus. Na casa do oleiro se depara com um ambiente de trabalho repleto de barro, poeira e vasos de barros. Lugar onde apenas se ouve a roda girar. O oleiro em silêncio vai moldando o vaso até que fique perfeito. Olhando esta cena Jeremias começa a entender do por que Deus o querer ali.
O profeta observa e vê o que depois Deus destaca. O Deus da Vida é o oleiro que trabalha sem cansar em busca do pote perfeito. A roda de madeira que gira sem parar é o passar do tempo com suas alegrias e tristezas, sofrimentos e vitórias. O barro é o ser humano, pó da terra, com todas as suas imperfeições e sujeiras...
O Oleiro de um punhado de barro transforma com paciência, amor e cuidado o simples e sujo barro em um belo pote de barro: frágil, útil e precioso pote de barro. Assim é. Cada vida é o resultado da mão criadora de Deus (Is 64.8). O barro em si não tem valor, mas na mão do Criador torna-se uma obra de arte.
O profeta Jeremias olha tudo com atenção e ouve as explicações do Deus da Vida. Tenta sentir o que Deus quer dizer, alertar e ensinar. Percebe que o oleiro realiza seu trabalho com atenção, carinho e responsabilidade. É Deus oleiro que com seus pés faz girar a roda da vida, com suas mãos carinhosas e habilidosas dá forma ao barro, através de seus olhos atentos faz cada vaso com suas características e utilidade. Cada vaso é único. Cada vaso é feito individualmente. Cada vaso tem o seu tempo nas mãos do oleiro. Sim! Cada pessoa é única para Deus. Cada pessoa é especial e nada escapa aos seus olhos. Nenhum detalhe escapa aos olhos do Deus que molda com carinho a vida de cada pessoa...
E o profeta Jeremias continua a observar o ofício do oleiro e pensa na vida e no Deus da Vida. O oleiro trabalha atentamente e com muito cuidado vai dando forma ao barro. Mas, de repente algo acontece. O vaso lindo e quase pronto se quebra. Quem é o culpado? Qual a razão de ter quebrado? A culpa é do oleiro? Não pode ser. Deus faz tudo com perfeição, pensa Jeremias. A culpa é da roda? Não. Não pode ser. A roda da vida continua a girar como sempre. Então é o barro? Sim, provavelmente pensa o profeta. Uma pedrinha ou um pouco de areia, algo no barro resistiu à mão do oleiro e tudo caiu em pedaços...
Assim o profeta Jeremias percebe que o ser humano consegue resistir ao que Deus quer realizar em sua vida. É teimoso e não quer se colocar nas mãos do oleiro. (Não adianta; nós vamos seguir os nossos planos. Todos nós vamos agir de acordo com a teimosia e a maldade do nosso coração v. 12). Para o profeta não tem mais jeito. Deus queria fazer uma coisa boa com o barro, porém o barro resistiu às mãos do Oleiro. Como ajudar o povo a abrir o coração e colocar-se nas mãos do Deus da Vida, o Oleiro que quer moldar a vida com perfeição?
Mas, existe esperança e ela está registrada no versículo 4: “Quando o pote que o oleiro estava fazendo não ficava bom, ele pegava o barro e fazia outro, conforme queria.”.
O oleiro com paciência e compaixão reúne os cacos, cada um deles, e transforma novamente numa bola de barro. Coloca esta bola de barro na roda, e com tempo e dedicação, trabalha para que dali surja um vaso mais bonito do que aquele que se quebrou.
Deus diz a Jeremias: “Vocês estão nas minhas mãos assim como o barro está nas mãos do oleiro”. Jr 18.6b.
Nós, seres humanos, fomos criados e amados por Deus. Deus Criador tem um plano para nossa vida e quer nos moldar segundo esse plano. Deus é um oleiro paciente. Quando nos colocamos em suas mãos, feito barro que se deixa moldar, Ele não nos joga fora. Ao contrário, Ele nos dá novas chances, continua trabalhando conosco.
E nós? No dia a dia da vida, na verdade, queremos ser o oleiro e não o barro. Queremos decidir a forma que o barro vai tomar. Achamos que não precisamos da ajuda de Deus. Acreditamos que conseguiremos nos moldar sem ajuda, seguindo nossos próprios caminhos. (“Não adianta: nós vamos seguir os nossos planos...” v.12). Entretanto nós somos barro, queiramos ou não. Queremos, tentamos e não conseguimos alcançar a perfeição.
Por outro lado, quando reconhecemos nossas fragilidades e falhas, estamos dizendo para Deus: “Eu preciso ti, oleiro, preciso que moldes a minha vida”. E Deus abre seus braços, abraça e cuida de nós. Se cairmos e a vida parecer desmoronar, Deus em Cristo e pelo Espírito Santo reconstrói o que deu errado e nos ajuda a enfrentar as dificuldades. Minhas e de quem se achegar ao Oleiro de mente e coração abertos.
Assim, deixemos Deus moldar nossas vidas, sobretudo nestes tempos sombrios, de tantas incertezas e mentiras. Abracemos as pessoas que sofrem, animemos quem está cansado, sejamos pessoas solidárias e amorosas. Busquemos o caminho que promove vida, bem estar e que desperta esperança. Escutemos a voz do Deus da vida, da justiça, do amor com claridade e sintamos suas mãos carinhosas nos moldando.