Estudo Bíblico 4
Pastora Mariela Alejandra Pereyra
Iglesia Evangélica Luterana Unida
Tradução: Marcia Blasi, IECLB
Lucas 10.38-40. Marta e Maria nos convidam para entrar na sua casa!
Vamos ler este belo texto juntas. No Evangelho de Lucas, temos muitas histórias de mulheres e cenas diárias de discipulado. Existem muitos outros textos com diálogos desafiadores e transformadores de Jesus com as mulheres.
Algumas pistas para a leitura do Evangelho proposto:
No tempo de Jesus, o lugar da mulher era totalmente regulado, dentro de sua casa e a serviço do homem (pai, irmão, marido). O Evangelho de Lucas narra com detalhes a situação da mulher judia dominada pela casa, pelo estado e pelo templo, embora, ao mesmo tempo, traga à cena uma mulher profeta, impura, estrangeira. No mundo do Novo Testamento, nada é tão linear nem simples de interpretar.
Naquela época, era considerado uma bênção não nascer mulher e elas não tinham acesso à educação, nem podiam falar em público. Jesus quebra os estereótipos da época, dialoga, chama e discute com as mulheres; em muitas ocasiões, ele muda sua atitude ou opinião sobre o assunto levantado.
Como podemos imaginar, e como testemunham os textos, os apóstolos foram desafiados diante das mudanças sociais e religiosas da pregação de seu Mestre. Muitas vezes tentaram colocá-lo dentro da norma estabelecida de seu tempo. Jesus, no entanto, continuou chamando e pregando uma outra realidade possível, a do Reino de Deus, onde há justiça para todas as pessoas sem distinção.
Na realidade de Covid-19, percebemos as injustiças no modo como as mulheres são tratadas e o lugar que lhes é destinado. Diante da crise, o retrocesso na vida “dentro de casa” é evidente, mesmo quando homens e mulheres permanecem em casa, os papéis e funções continuavam a ser injustos e opressivos.
Convido você a compartilhar algumas perguntas consigo mesma e / ou com outras mulheres:
Como está a situação em sua casa, a portas fechadas? Existe uma distribuição equitativa e digna de tarefas entre as pessoas que moram na casa?
Tens tempo para sentar e descansar, ouvir, pensar e orar?
Tens percebido um aumento no abuso verbal e / ou físico?
Como está o relacionamento entre as pessoas com as quais vives?
Para dentro das portas ...
Voltando ao texto, vemos que Jesus é recebido na casa dessas duas mulheres. É muito significativo que elas têm nomes: Marta e Maria.
Como era costume e lei, Jesus é recebido e atendido conforme o esperado. No entanto, se olharmos mais de perto a cena, poderemos ver claramente o lugar de uma das irmãs, Maria, discípula de Jesus a seus pés, e ele ensinando. Na verdade, as duas provavelmente estavam ouvindo, mas uma tem a possibilidade de ser exclusivamente uma discípula naquele momento. Por que Marta não deixa tudo e se senta também? Ela faz o que quer, ou melhor, faz o que pode, vê uma injustiça na ação de Maria que não a ajuda.
Para a maioria das mulheres, a distribuição de tarefas triplicou e quadruplicou nesta realidade do Coronavírus, as casas tornaram-se um local de demanda constante e não há mais tempo a sós, elas estão sempre a serviço de trabalho, família, auxílio nas aulas online das crianças, “Reuniões virtuais”, tarefas domésticas, compras, etc., etc.
Hoje também é necessário denunciar novamente que toda pessoa que tem sua vida diminuída por papéis estereotipados vive uma situação injusta e violenta. Como construir casas de paz se a situação é de desigualdade e na falta de oportunidades? As injustiças que continuam a manter o sexismo, o classismo e o racismo não têm lugar no diálogo e no discipulado cristão. Uma teóloga chamada Dorothe Sölle disse que as lágrimas das mulheres são a manifestação mais forte da impotência diante da legalidade da injustiça. Quanta raiva, impotência e dor guardadas por gerações precisam ser curadas?
A importância de novos hábitos
A sociedade civil incorporou rapidamente novos hábitos de higiene, transporte e saúde pública. Entendemos por hábito qualquer comportamento aprendido (isto é, não nascemos com nenhum hábito) repetindo automaticamente e sem pensar nisso.
Nas campanhas da mídia e do governo, incorporamos a lavagem das mãos e o uso de máscaras, por exemplo. Bem, se podemos incorporar esses hábitos, também podemos desaprender muito bem as outras atitudes automáticas que nos foram ensinadas.
Ninguém nasce machista, ninguém nasce violento, ninguém nasce racista. É em nossos lares, sociedades e até igrejas que transformamos hábitos em cultura ou opiniões difíceis de mudar.
Agora é um excelente momento para sermos discípulas, sentar, ouvir e transformar o hábito e a dinâmica interna dos lares que habitamos. É urgente ressignificar a dinâmica de nossas realidades, nossas casas e a maneira como nos relacionamos.
Queridas irmãs, a partir das coisas mais pequenas e simples do cotidiano construímos caminhos para outras realidades, outro mundo onde a justiça e a paz podem habitar. Aprendemos e também pudemos perceber como hábitos podem ser reeducados, transformados e alguns até desaparecem com muito
comprometimento, mudança de atitude e ajuda de Deus.
Hoje pedimos à Sabedoria Divina que nos guie, proteja e abençoe a encontrar caminhos de justiça e bem-estar. No evangelho de Lucas 10.42, lemos: Maria escolheu a melhor parte!
Vamos trabalhar juntas e unidas para que as pessoas possam escolher, optar por caminhos sem violência e pressão de outras. Seremos companheiras e companheiros no discipulado e na vida plena Isso é possível no encontro com Jesus e no diálogo
