Olá. É muito bom estarmos juntos novamente. Saúdo a você com votos de paz e de bênçãos do Deus que é Pai, Filho e Espírito Santo.
Aquele outro pai tinha a difícil tarefa de educar o filho rebelde além da conta. Tentou de tudo, mas parecia não ter sucesso. Em todas as fases de crescimento do filho apareciam novas situações assustadoramente preocupantes para o pai zeloso e orante. Sim, orava sempre por seu filho. E fazia mais: a cada falta grave, a cada afronta que sofria do filho, fincava um prego atrás da porta do seu quarto de dormir. Apenas o pai sabia dos pregos e parava ali, em frente a eles, intercedendo pelo filho que amava.
Certo dia o filho se deu conta de seus desatinos e, arrependido, se joga nos braços do pai que, embora triste, continuava confiante. O filho pede perdão e ambos celebram com alegria a nova fase.
Em seguida foi o pai para seu quarto e arrancou cada um daqueles inúmeros pregos das agressões e desrespeitos sofridos durante os anos. Mas ficaram as marcas dos pregos. Estas marcas ele não conseguiu esconder.
“Supremo rejeita a tese do direito ao esquecimento no País”, diz a manchete do jornal em letras garrafais de primeira página no dia 12 de fevereiro. E continua: “O direito ao esquecimento – no qual uma pessoa poderia pedir à Justiça a proibição da publicação ou exibição de fato antigo, ainda que verdadeiro, sob justificativa de defesa da intimidade – foi rejeitado pelo Supremo Tribunal Federal por 9 votos a 1”.
Toda esta discussão acontece no contexto do pedido de uma família onde aconteceu um assassinato há mais de sessenta anos. Assassinato que gostaria de ver esquecido. A minha tese é de que a nacroimprensa sensacionalista e factoide que temos, venceu, enquanto a família sofrida, perdeu. Quanta repercussão teve este fato, percebeu?
Quisera que tamanha repercussão tivesse também o fato de nos encaminharmos para a lembrança de outra morte violenta e descabida, acontecida há bem mais tempo. Esta morte não deveria ser esquecida – e nem negada – por ser a morte na cruz, a morte daquele que autoriza o esquecimento da culpa e do pecado por causa de sua graça abrangente e universal. Por isso estamos na quaresma.
É evidente, e é de nosso conhecimento, que Deus é justo, mas perdoador. Por exemplo, quando finalmente seu povo teve a liberdade de voltar depois do exílio na Babilônia, recebeu do profeta a notícia: “Quem pedir bênção para si na terra, que o faça pelo Deus da verdade; quem fizer juramento na terra, que o faça pelo Deus da verdade. Porquanto as aflições passadas serão esquecidas e estarão ocultas aos meus olhos.” (Is 65.16) Ou seja, Deus permite viver a nova realidade, e esta inclui o esquecimento de fatos passados. Esquecidos porque foram perdoados, mesmo que fiquem as marcas.
Jesus reproduziu este conceito em sua mensagem de amor e justiça, afrontando os tribunais do supremo sinédrio. Os apóstolos amplificaram este conceito. Leia-se a carta de Paulo ao Romanos, grande escrito conceitual da justiça da graça divina. Ou, do mesmo Paulo, ao declarar “...uma coisa faço: esquecendo-me das coisas que ficaram para trás e avançando para as que estão adiante, prossigo para o alvo, a fim de ganhar o prêmio do chamado celestial de Deus em Cristo Jesus”, que nos impulsiona para a frente sem sempre ter que ruminar o que passou (Fp 3.12-13).
É evidente que há uma grande diferença entre a justiça divina – da graça e do perdão – e a justiça humana – que exige cumprimento de penas após julgamento justo e condenação. Porém, não ter o direito de esquecer um fato que ainda traz dor à família após sessenta anos, no meu ver, só para ter os interesses comerciais de uma parcela da imprensa resguardados, não parece ser evangélico.
Queridas e queridos. Finalmente, “quem está unido com Cristo é uma nova pessoa; acabou-se o que era velho, e já chegou o que é novo” (2Co 5.15 NTLH)
Oremos: Bondoso Deus e Pai, tu nunca esqueces do pecador, mas esqueces do seu pecado. “Ó Deus, não há outro deus como tu, pois perdoas os pecados e as maldades daqueles do teu povo que ficaram vivos. Tu não continuas irado para sempre, mas tens prazer em nos mostrar sempre o teu amor.
Novamente, terás compaixão de nós; acabarás com as nossas maldades e jogarás os nossos pecados no fundo do mar. Como prometeste antigamente ao teu povo, tu serás fiel e mostrarás o teu amor a nós, por obra e mérito do teu Filho Jesus Cristo, nosso Senhor e Salvador. Amém
Livres da terrível tirania do pecado e dos descaminhos que ele sugere, vivamos a alegria, porque o Senhor perto está.