Saudação: Olá meu irmão! Olá minha irmã! Que a graça e a paz de Cristo estejam conosco. Amém.
Mensagem: A crônica Eu sei, mas não devia, publicada pela autora Marina Colasanti, no Jornal do Brasil, em 1972, continua atual.
Partilho alguns trechos com pequenas adaptações:
“A gente se acostuma a acordar de manhã sobressaltado porque está na hora. A tomar o café correndo porque está atrasado. A ler o jornal no ônibus porque não pode perder o tempo da viagem. A comer sanduíche porque não dá para almoçar. A sair do trabalho porque já é noite. A cochilar no ônibus porque está cansado. A deitar cedo e dormir pesado sem ter vivido o dia.
A gente se acostuma a abrir o jornal e a ler sobre a Pandemia. E, aceitando a Pandemia, aceita os mortos e que haja números para os mortos. E, aceitando os números, aceita não acreditar no distanciamento social. E, não acreditando no distanciamento social e no uso de máscara, aceita ler todo dia da Pandemia, dos números, da longa duração.
A gente se acostuma a (...) ser ignorado quando precisava tanto ser visto.
A gente se acostuma a pagar por tudo o que deseja e o de que necessita. E a lutar para ganhar o dinheiro com que pagar. E a ganhar menos do que precisa. E a fazer fila para pagar. E a pagar mais do que as coisas valem. E a saber que cada vez pagar mais. E a procurar mais trabalho, para ganhar mais dinheiro, para ter com que pagar nas filas em que se cobra.
A gente se acostuma (...) a engolir publicidade. A ser instigado, conduzido, desnorteado, lançado na infindável catarata dos produtos.
A gente se acostuma à poluição.
A gente se acostuma a coisas demais, para não sofrer. Em doses pequenas, tentando não perceber, vai afastando uma dor aqui, um ressentimento ali, uma revolta acolá. A gente se acostuma para não se ralar na aspereza, para preservar a pele. Se acostuma para evitar feridas, sangramentos, para esquivar-se de faca e baioneta, para poupar o peito.
A gente se acostuma para poupar a vida. Que aos poucos se gasta, e que, gasta de tanto acostumar, se perde de si mesma.
Querido irmão, querida irmã, a gente se acostuma, mas não devia! Por isso, carreguemos como provocação para ação o que o apóstolo Paulo diz: “E não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus” (Rm 12.2).
Não deixemos as nossas vidas se esvaziarem acomodadas e conformadas numa rotina repetitiva e estéril que não nos permite admirar a beleza de tudo o que Deus põe a nossa volta.
Oração: Oremos: Bondoso Deus, abra nossos olhos para ver as inúmeras possibilidades de vida abundante que nos ofertas. Livra-nos de amarras e mazelas que nós mesmos criamos. Por Cristo. Amém.
Bênção: Que Deus mantenha a tua cabeça fria, o coração quente, as mãos abertas e os pés sem pressa e sem preguiça. Amém.