Lucas 18.9-14
Prezada Comunidade:
Duas pessoas foram ao templo para orar. A oração podia ser feita em qualquer lugar. No entanto, os judeus tinham certas concepções a respeito do templo. Para eles, o templo era considerado a morada de Deus. Representava o espaço que Deus habitava na terra. Isso significa que ir ao templo era um ato de busca da presença de Deus. Se aqueles dois homens foram ao templo, era porque sentiam a necessidade de Deus. E, ao irem àquele lugar para orar, estavam certos. Séculos antes de Jesus, o profeta já dissera em nome do Senhor: “A minha casa será chamada casa de oração para todos os povos” (Is 56.7).
A influência e atração do templo para os judeus se estendia para além das fronteiras da Palestina, como o mostrava claramente a obrigação de pagamento do imposto ao templo por parte dos judeus que não viviam na Palestina. Pagar esse imposto se havia convertido, nos tempos de Jesus, em um ato de devoção para o templo.
No tempo de Jesus, a cobrança de impostos não era feita pelos romanos diretamente, mas indiretamente. Os romanos tercerizavam a cobrança de impostos para a elite da sociedade. Essas elites contratavam pessoas que trabalhavam nos postos de aduana; e, em troca, o cobrador de impostos recebia um salário. Os cobradores de impostos praticavam sistematicamente a pilhagem e a extorsão dos campesinos. Devido a isto, o povo tinha para estes cobradores de impostos a mais forte hostilidade por serem colaboracionistas com o poder romano. As pessoas os odiavam e os consideravam ladrões. Eram tão desprestigiados que se pensava que nem sequer podiam obter o arrependimento de seus pecados, pois para isso teriam que restituir todos os bens extorquidos, tarefa praticamente impossível porque eles tinham roubado tanta gente que nem sabiam mais a quantos. Isto faz pensar que o arrecadador citado na parábola era um alvo fácil dos ataques do fariseu, pois era sem vergonha e sem honra, um ladrão.
O fato de o fariseu orar de pé não deve ser interpretado como arrogância. Orava-se de pé. O problema não estava na posição do seu corpo. Sua oração se divide em duas partes. Na primeira, o fariseu agradece a Deus pelos pecados que não cometeu. Na segunda, apresenta a Deus o que fez de positivo. Ao agradecer pelos pecados evitados, fazia questão de destacar que era um “separado”, diferente e superior às outras pessoas. Ao apresentar suas obras, mostrava, mais uma vez, sua superioridade. A lei estabelecia um jejum por ano; o fariseu jejuava duas vezes por semana. Quanto ao dízimo, ele fazia questão de declarar: “Pago o dízimo de todas as coisas que adquiro”. Era um dizimista sensacional. Não se limitava a dizimar o que ganhava, mas também o que comprava. Não queria correr o risco de consumir mercadoria que não tivesse sido dizimada por seu próprio produtor.
Uma pessoa tão generosa, tão fiel à igreja, tão cumpridora da vontade de Deus, nós também gostaríamos de ter em nossa Comunidade. Ele apresenta as mais belas obras!... Se esta não for a vida honrosa, qual será? Não há quem pudesse pôr defeito nele; É um homem que merece elogios. Sim, ele se elogia a si mesmo. No cômputo geral, ele era sensacional diante de Deus. Certamente Deus precisava de gente semelhante a ele. Aos olhos dos judeus do tempo de Jesus, se houvesse muito mais fariseus semelhantes àquele, o mundo seria melhor.
No entanto, Jesus termina a sua parábola dizendo que esse fariseu não saiu do templo em paz com Deus. Qual é o problema desse fariseu? O que Jesus viu nele que aparentemente nós não vemos? O que Jesus viu nele como inaceitável aos olhos de Deus. Que pecado teria cometido o fariseu?
O erro do fariseu é o de ser um justo que não é bom para com os demais. Ou seja: Jesus diz: uma pessoa pode ser justa e fazendo isso ela está obedecendo a Lei de Deus no Antigo Testamento. Mas Jesus traz uma novidade: O Deus do Antigo Testamento quer que você seja justo, mas não deixe de ser uma pessoa boa. Uma pessoa boa não se considera superior aos demais, ela não despreza os outros por causa de suas qualidades e virtudes pessoais. Ela não se alegra com a desgraça dos outros. Foi este o grande erro do fariseu. Ele confiava tanto em si mesmo, que nem precisava de Deus. Era Deus quem precisava dele.
Mas Jesus parece alertar para mais uma coisa. Engana-se quem pensa que o fariseu mora somente dentro de pessoas que se consideram muito religiosas. O fariseu também pode morar dentro de pessoas que se dedicam a obras sociais, mas não valorizam muito a igreja. Em pessoas que se consideram superior as demais, porque elas são mais solidárias que as outras pessoas. Também essas pessoas correm o risco de pensar que são melhores que as demais e por causa de suas boas obras sociais, pensam que não precisam tanto de Deus.
Portanto, Jesus proclama, a misericórdia como valor fundamental do reino de Deus. Quando o pecador busca a Deus (como foi o caso desse publicado), quando a pessoa vai a igreja e procura pela presença de Deus, implorando pelo perdão de Deus e dispondo-se a mudar de vida, então essa pessoa deve ser acolhida e valorizada. Essa é a atitude que agrada a Deus.
O ensino dessa parábola é que o ser humano depende, exclusivamente, da graça de Deus. Todas as pessoas podem desfrutar de paz com Deus unicamente se confiarem não em seus próprios méritos, mas tão-somente na misericórdia do Senhor. Essa foi a única coisa correta no comportamento do publicano: que ele confiou em Deus, em sua misericórdia e em sua graça.
No Salmo 51, porém, diz-se: ‘O sacrifício que agrada a Deus é um espírito contrito; um coração contrito não desprezarás, ó Deus’ (v. 19). Assim é Deus, diz Jesus, como está escrito no Salmo 51. Ele diz sim ao pecador desesperado que procura por Deus. Ele é o Deus dos desesperados e sua misericórdia com os de coração contrito é sem limites. Assim é Deus”. Amém.
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