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ID: 363

Quem era Barrabás?

23/03/2016

Marcos 15.6-15

Prezada Comunidade:
No mês de março de 1966, John Lennon afirmou que os Beatles eram mais populares que Jesus. Ele disse que o cristianismo estava em decadência e que os Beatles haviam se tornado mais populares que Jesus Cristo. Quando a noticia chegou nos Estados Unidos, os discos dos Beatles foram proibidos em várias emissoras de rádio e queimados publicamente. Diversos shows foram cancelados e este episódio marcaria o desinteresse dos Beatles por oferecer espetáculos ao vivo, e a partir de então eles se tornaram exclusivamente uma banda de estúdio.

Na leitura do evangelho de hoje também escutamos sobre uma pessoa que era mais popular do que Jesus. Horas antes de ser crucificado, Jesus de Nazaré foi submetido a uma curiosa votação, ao lado de um personagem chamado Barrabás. Não era para ganhar um cargo político, mas para ganhar o direito à vida. Jesus perdeu. Esse texto bíblico também nos faz pensar sobre o famoso dito popular de que a voz do povo é a voz de Deus. Devemos ter cuidado, porque já no tempo de Jesus, essa voz das ruas foi manipulada para gritar pelo nome de Barrabás.

Mas quem era Barrabás?
O Evangelho de Mateus diz que Barrabás era um preso famoso (Mt 27.16). Os Evangelhos de Marcos e Lucas dizem que ele era um agitador que tinha matado pessoas durante uma revolta (Mc 15.7; Lc 23.19). Do Evangelho de Marcos também sabemos que – quando Barrabás foi preso - uma multidão foi até o governador Pilatos pedir que ele o soltasse da prisão. O Evangelho de João diz apenas que Barrabás era um ladrão (Jo 18.40). 
Mas se Barrabás era um assassino, um revolucionário e um ladrão, como foi possível que uma multidão fosse pedir a sua liberdade para Pilatos?

O Evangelho de Marcos (15.7) diz que Barrabás foi preso junto com alguns homens que tinham matado uma pessoa numa stasis (uma palavra grega que significa enfrentamento, luta, disputa). Assim como hoje, essa palavra era usada também no âmbito deportivo. E em Jerusalém, o rei Herodes havia construído um grande hipódromo, onde aconteciam as corridas de bigas (carroças) e de cavalos. Esses jogos eram muito famosos, aconteciam nas grandes festas – como a Páscoa dos judeus- e tinham grande simpatia popular. E assim como hoje, também naquele tempo havia briga entre as torcidas. E por isso, o assassinato pelo qual Barrabás foi preso, não parece ter sido um assassinato político, mas sim um assassinato cometido pela briga de torcidas, na qual Barrabás se viu envolvido. Desta forma se explica a popularidade de Barrabás, como um famoso desportista, um condutor de vigas, cujos torcedores se envolveram numa briga que resultou em um assassinato. Por isso, Barrabás também acabou sendo preso junto com os assassinos. Isso explica por quê uma multidão foi até Pilatos e pedir a liberdade de Barrabás ((Mc 15.8). Por fim, Pilatos não teve nenhum impedimento em conceder essa liberdade.

Mas o Evangelho de João diz que Barrabás era um ladrão?

Nós sabemos que João usa as palavras com um significado profundo e alegórico. Ele diz que Jesus é a luz do mundo, a porta do curral, o pão da vida. No capítulo 10.1-18 temos a parábola do Bom Pastor. Nessa parábola, Jesus diz que todo aquele que não entra pela porta do curral, mas pula o muro, esse é um ladrão e um bandido. E todo aquele que não entra pela porta do curral (que é Jesus), portanto, que não crê em Jesus, é comparado a um ladrão e um bandido. Entre esses “ladrões” que não conheceram, nem acreditaram em Jesus está Barrabás. Esse atleta  seduzia e fascinava as pessoas com suas proezas, mas não ele conheceu nem acreditou em Jesus. A multidão pediu a liberdade desse atleta e se esqueceu do Bom Pastor que era Jesus.

Portanto, Barrabás não parece ter sido um subversivo, um assasino, nem um ladrão. Era um atleta – um condutor de bigas – provavelmente nem era judeu - que corria no hipódromo de Jerusalém. Certo dia ele se envolveu num incidente. Alguns torcedores fanáticos mataram uma pessoa e, por isso, foram presos, junto com seu ídolo Barrabás. Barrabás se envolveu num incidente que quase lhe custou a vida. Mas graças a Jesus de Nazaré, que estava ali, ele foi salvo. A condenação (o sacrifício) de Jesus de Nazaré salvou a Barrabás.

E isso é sempre assim. Onde quer que Jesus esteja, ali existe proteção e alivio. Talvez Barrabás jamais tenha se dado conta que o Filho de Deus salvou a sua vida. Barrabás esteve ali, a poucos metros ao lado de Jesus, mas nunca o conheceu. Somente respirou aliviado quando ouviu o anúncio de sua libertação e – certamente - fugiu o mais rápido que podia daquela situação de perigo.

Essa situação se repete muitas vezes também conosco, em nossas vidas. Volta e meia estamos perto de incidentes, de acidentes e de desgraças que acontecem bem perto de nós, dos quais saímos são e salvos e, respiramos aliviados. Mas não nos damos conta de quem foi que nos salvou. Não nos damos conta de quem esteve ao nosso lado nesse momento de perigo, cuidando-nos. Se em cada incidente que passamos abríssemos nossos olhos, certamente poderiamos ver a Jesus de Nazaré ali do nosso lado, como esteve ao lado de Barrabás, devolvendo-nos a vida e dando-nos uma nova oportunidade.

Essa nova oportunidade de vida nos deveria ajudar a reconhecer a presença de Jesus e a discernir pelo critério do amor – onde está a voz de Deus nesse mundo de hoje, e a não confundir a justa e necessária luta contra a corrupção - com o ódio partidário, que dividiu nossas famílias e nossa gente.

Que a graça de nosso Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus nosso Pai e a comunhão do Espírito Santo estejam no meio de nós. Amém.
 


Autor(a): Nilton Giese
Âmbito: IECLB / Sinodo: Sudeste / Paróquia: Belo Horizonte (MG)
Área: Celebração / Nível: Celebração - Ano Eclesiástico / Subnível: Celebração - Ano Eclesiástico - Ciclo da Páscoa
Área: Confessionalidade / Nível: Confessionalidade - Prédicas e Meditações
Testamento: Novo / Livro: Marcos / Capitulo: 15 / Versículo Inicial: 6 / Versículo Final: 15
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Prédica
ID: 37241

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