Deuteronômio 30.15-20
Prezada Comunidade:
Falar das escolhas fundamentais que fazemos na vida é um tema importante e muito oportuno em nossos dias. Fazemos escolhas diariamente. Tanto na profissão como em outras atividades corriqueiras. Até cansamos de ter de escolher com tanta frequência. A propaganda de produtos e a campanha eleitoral tem o objetivo de nos envolver a todos sutilmente e nos fazer pensar quais deveriam ser as nossas “melhores” escolhas. Basta comprar determinado produto ou votar determinada pessoa e podemos ficar tranquilos então. Até mesmo agradecidos. Basta pagar o preço que nos pedem, e podemos viver felizes.
Poder escolher nem sempre é uma alegria. Para muitas pessoas, a necessidade de ter de escolher traz sofrimento. Escolher sempre significa deixar algo para trás. Por isso, o livro de Deuteronômio 30.15-20 fala sobre escolhas que são abençoadas por Deus e sobre escolhas que não são abençoadas por Deus.
O texto bíblico diz: escolher o caminho da vida, do bem e da bênção ou escolher o caminho da morte, do mal e da maldição. Há liberdade de escolha. No entanto, cada escolha tem a sua consequência. A escolha da vida está ligada ao grande mandamento (obedecer os mandamentos de Deus - Dt 30.16), ampliado por Jesus para amar aos outros como você ama a você mesmo - Mateus 22.34-40. Para o Antigo Testamento o mais importante era amar (obedecer) os mandamentos de Deus, e Jesus acrescenta um segundo mandamento – ame o próximo como você ama a você mesmo.
Amar a Deus e amar ao próximo resulta em bênção. O texto encerra com a insistência do autor para que os ouvintes, isto é, o povo de Israel, escolham a vida: amando o Senhor, dando ouvidos à sua voz e apegando-se a seus mandamentos. Dessa escolha dependem a vida, a multiplicação do povo e a longevidade na terra.
Portanto, o texto bíblico enfatiza que as nossas escolhas sempre trazem consequências: para o bem ou para o mal. Por isso, antes de culpar a Deus pelo mal que atinge as pessoas, elas deveriam primeiro se perguntar se o que estão vivendo não é consequência de suas escolhas.
Lutero assinala no Tratado da Liberdade Cristã que “toda a Escritura de Deus está dividida em duas partes: preceitos e promessas”. Ele também afirma “que a pessoa cristã não vive em si mesma, mas em Cristo e em seu próximo, ou então não é cristã. Vive em Cristo pela fé, no próximo pelo amor” (LUTERO: 1983, p. 42-43).
Temos liberdade para escolher. Portanto a escolha de uma pessoa cristã deveria estar sempre afirmada no duplo mandamento do amor (amor a Deus e ao próximo). A fé vem pelo ouvir a pregação, e a pregação, pela palavra de Cristo (Rm 10.17). A consequência do ouvir a palavra de Cristo é a prática do amor. O culto cristão está ligado a uma vida guiada por atitudes éticas, amorosas, transformadoras.
Essa semana certamente aconteceu uma das escolhas mais importantes de nosso país nos últimos anos. Os 61 senadores(as) decidiram cassar o mandato da presidenta Dilma e do governo do PT, que na opinião deles não governou bem nesse segundo mandato, fez promessas que não cumpriu e fez gastos excessivos, sem autorização do poder legislativo. Assim terminou um governo de 13 anos, que melhorou a vida de milhões de pessoas, que implementou vários projetos sociais de inclusão e proteção aos mais pobres, as mulheres, aos negros, as pessoas com outra condição sexual. Seria injusto não reconhecer foi um governo abençoado para milhões de pessoas nesse pais. Por outro lado, também foi o governo que investigou e foi investigado por causa da corrupção. Apesar de não ter sido comprovada a corrupção da presidenta, os opositores dizem que a cassação da presidenta foi feita dentro da lei e a expulsão do PT do governo foi um avanço para o Brasil. Dizer que tudo foi feito dentro da legalidade – ainda não nos tranquiliza. A história da humanidade está cheia de pessoas inocentes que foram condenadas no seu tempo, dentro da legalidade. Até mesmo Martin Lutero, que não negou a sua fé diante dos políticos e religiosos de seu tempo, foi condenado e banido em 1521 pelo imperador Carlos V, dentro da legalidade.
Ganhar e perder grandes ou pequenas eleições faz parte da democracia.
No entanto, a partir de nosso texto bíblico dessa prédica devemos nos perguntar: Foi feita uma escolha: será que essa escolha dos senadores(as) é abençoada por Deus?
A Palavra de Deus nos diz que as escolhas serão abençoadas ou não – isso depende se usamos o critério do amor a Deus e do amor ao próximo no momento da decisão.
Por isso - podemos perguntar: a escolha dos senadores foi feita motivada pela busca da justiça ou por raiva a um partido? A decisão foi em favor do povo e contra a corrupção, ou foi para escapar eles mesmos do braço da Justiça, blindando os políticos denunciados por corrupção? Pergunto isso porque dos 81 senadores, 49 deles (60%) são alvos de processos na Justiça com acusações de lavagem de dinheiro, crimes contra a ordem financeira, corrupção e crimes eleitorais.
No entanto, nós sabemos que Deus pode usar pessoas pecadoras para fazer coisas boas. Esperemos que assim seja.
No entanto, tem uma outra coisa lamentável nessa situação. Tudo isso afetou profundamente nossa democracia. E não me refiro as eleições. Democracia é muito mais do que isso. Democracia é sinônimo de abertura, de diálogo, de convivência com a diversidade, com ética social, com colaboração, com honestidade, com disposição para corrigir erros na base do consenso. O que estamos vendo no dia a dia é democracia?
A Bíblia diz que as boas escolhas – as escolhas abençoadas por Deus – são as escolhas pela vida, pela promoção da vida! Este é o desejo de Deus: vida para todas as pessoas. Mas, ao mesmo tempo nos alerta: Nós somos livres e responsáveis por nossas escolhas e suas consequências.
Para saber se essa decisão é abençoada por Deus ou não, vamos ter que ficar atentos – esperar as medidas desse novo governo – para ver se essa escolha é vai ser uma bênção para a população ou não.
Para nos ajudar a entender a situação atual, lembrei-me da história do SE É BOM OU SE É MAU SÓ O FUTURO DIRA.
Um agricultor, em seu leito de morte, chamou seus três filhos para repartir entre eles os bens. Aos dois mais velhos foram destinadas as mais belas terras enquanto que o Ernesto recebeu como herança um banhado, imprestável para a agricultura. Os amigos quando souberam dessa estranha divisão de bens, se solidarizaram com o Ernesto, pela injustiça cometida pelo pai.
- Que azar, heim homem?
O Ernesto, no entanto, respondia: Se isso é bom ou se é mau, só o futuro dirá.
Passou um ano e uma seca terrível atingiu aquela região. Todas as plantações morreram por falta de umidade. A terra de banhado do Ernesto ficou boa para a agricultura. Ele plantou e colheu em abundância. O preço estava em alta. Ganhou muito dinheiro. Os seus amigos foram visitá-lo para cumprimentá-lo.
- Que sorte, heim homem.
Ele, no entanto respondia: Se isso é bom ou se é mau, só o futuro dirá.
Um tempo depois ele foi comprar um lindo cavalo de raça. Era caro, mas era um puro sangue. Comprou o cavalo e naquela mesma noite o animal fugiu. Ninguém conseguia encontrá-lo. Os amigos vieram visitá-lo com ar de decepção. Tanto dinheiro investido naquele animal e nenhum prazer. Não ficou nem uma noite no curral.
- Que azar, heim homem.
Ele, no entanto respondia: Se isso é bom ou se é mau, só o futuro dirá.
Três dias se passaram e no amanhecer do quarto dia uma grande surpresa. O cavalo estava de volta e trazia com ele outros dois puro sangue selvagens. Era uma alegria só. Os amigos vieram ver a novidade e com alegria diziam:
- Que sorte, heim homem.
Ele, no entanto, respondia: Se isso é bom ou se é mau, só o futuro dirá.
Passou mais uma semana e um dos filhos do Ernesto, com 18 anos, havia apostado com seus amigos que ele conseguia montar um dos cavalos selvagens. A rapaziada ficou de se encontrar as escondidas, no domingo à tarde, num canto do pasto, onde estavam os cavalos. O filho mais novo do Ernesto se aproximou com muito cuidado. O cavalo parecia assustado, mas não se movia. E, num só pulo, o rapaz pulou em cima do animal. O cavalo selvagem assustado começou a pular com o rapaz em cima dele. Pulou duas ou três vezes até que o rapaz caiu. Na queda fraturou a perna. Os amigos foram chamar o pai que levou o filho ao hospital. A perna precisaria ficar engessada por 45 dias. Os amigos vieram visitar o Ernesto.
- Que azar, heim homem?
Ele, no entanto, respondia: Se isso é bom ou se é mau, só o futuro dirá.
Passou mais uma semana quando vieram os soldados com ordens claras. Todos os jovens maiores de 18 anos deveriam se apresentar imediatamente para partir para a guerra. Ninguém ficaria de fora, exceto por problemas de saúde. Todos os jovens tiveram que partir, apenas o filho do Ernesto, com a perna quebrada não precisou ir. Os amigos, entristecidos, vieram falar com o Ernesto. Os filhos deles agora estavam longe, correndo sério risco de vida. Enquanto que o Ernesto tinha o filho dele ali, sob os seus cuidados.
- Que sorte, heim homem?
Ele, no entanto, respondia, Se isso é bom ou se é mau, só o futuro dirá.
Cassaram a presidenta Dilma. Que bom, dizem alguns. Que lamentável, dizem outros.
O certo é que se isso é bom, ou se é mau, só o futuro dirá.
Que a graça de nosso Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus nosso Pai e a comunhão do Espírito Santo estejam no meio de nós. Amém.