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ID: 363

O que Jesus espera da sua igreja, das nossas comunidades e de cada um(a) de nós?

Prédica

08/09/2019

Lucas 14.25-33

Estimada Comunidade:

O texto do Evangelho de hoje traz palavras duras. Mas ao mesmo tempo ele traz uma luz sobre o que Jesus quer da sua igreja, das comunidades cristãs e de cada um(a) de nós.

O Evangelho começa dizendo que “grandes multidões o acompanhavam” (v.25). E aí Jesus se vira para essa multidão e diz: “Quem quiser me acompanhar não pode ser meu seguidor se não me amar mais do que ama a seu pai, sua mãe, a sua esposa, os seus filhos, seus irmãos, suas irmãs e até a si mesmo. Não pode ser meu seguidor quem não estiver pronto para morrer.”(v.26-27)

Vejam como são duras essas palavras de Jesus e ao mesmo como são orientadoras. De imediato, Jesus parece dizer que a qualidade é mais importante que a quantidade. Muitas pessoas podem dizer que acreditam em Jesus, mas poucos se dispõem a deixar que a palavra de Jesus faça uma diferença em seu modo de pensar e de agir. Quem quer seguir a Jesus deve se comprometer com atitudes de desprendimento e de renúncia. 

As palavras de Jesus dizem que as “portas do reino” estão abertas para as pessoas que o amam mais do que a si mesmas e a sua família (v. 26). O seguimento a Jesus inclui a coragem de renunciar, de não pensar apenas nos seus interesses e nos interesses de sua própria família(v. 26). 

O seguimento a Jesus pressupõe a coragem de romper com valores deste mundo que estão fundamentados na competição, no lucro, na luta pelo poder, no cada qual por si mesmo. Tudo isso que o mundo diz que precisamos fazer para vencer na vida, tudo isso Jesus diz que é preciso renunciar.

Mas então Jesus quer que eu brigue com meu pai, minha mãe, enfim com todo mundo que gosta de mim, para depois segui-lo? Não, não é bem assim. O que Jesus pede é que uma pessoa cristã não seja uma pessoa egoísta, que pense apenas em si mesma ou no bem-estar de sua própria família. Jesus deseja que as comunidades cristãs assumam uma nova forma de vida onde o amor ao próximo, a solidariedade, a prática da justiça e a renúncia ao egoísmo sejam evidentes. O livro de Atos dos Apóstolos nos conta que as primeiras comunidades cristãs colocaram esse desafio de Jesus em prática. Diz Atos 2.44-47: Todos os que criam estavam juntos e unidos e repartiam uns com os outros o que tinham. Vendiam as suas propriedades e outras coisas e dividiam o dinheiro com todos, de acordo com a necessidade de cada um. Todos os dias, unidos, se reuniam no pátio do Templo e nas suas casas partiam o pão e participavam das refeições com alegria e humildade. Louvavam a Deus por tudo e eram estimados por todos. E cada dia o Senhor juntava ao grupo as pessoas que iam sendo salvas.”

Portanto, Jesus destaca que a mensagem de Jesus deve ter consequências na nossa forma de viver e de entender o mundo. As parábolas da construção da torre (v. 28-30) e da preparação para a guerra (v. 31-32) enfatizam que a opção pelo seguimento a Jesus precisa ser refletida, medida e calculada. Não é algo tão simples. Seguir a Jesus implica estar disposto a construir uma nova sociedade, a educar nossos filhos(as) com os valores de vida digna para todas as pessoas, onde o bem-estar de cada pessoa é importante. A mensagem de Jesus quer construir um mundo mais justo, mais igualitário, mais solidário. Para Jesus a fé se pratica – se vive - no do dia a dia.

As primeiras comunidades cristãs trataram de viver esse chamado de Jesus. Elas queriam mostrar que Jesus não deve ficar apenas dentro das igrejas, mas ele quer ser respeitado, honrado, visto também nas atitudes das pessoas cristãs.

Mas essa forma de vida comunitária precisava enfrentar-se a alguns conflitos religiosos e políticos. Por exemplo, para os judeus Jesus não é o filho de Deus, mas ele é apenas um enviado de Deus. Esse conflito gerava dúvidas das pessoas em relação ao poder de Jesus. Era importante aceitar que Jesus é o Filho de Deus, porque isso garante a nossa salvação. Nós não somos salvos por uma pessoa, por um enviado de Deus. O nosso Salvador é o próprio Filho de Deus.

Um outro conflito nas primeiras comunidades era um conflito político. Chamar Jesus de Senhor, era um problema politico. Quem queria ser chamado de Senhor era o imperador. E os cristãos diziam que o seu senhor não era o imperador, mas somente Jesus. Ele é o nosso único Senhor.
Desta forma, as comunidades cristãs precisaram conviver com esses problemas. Se dissessem que Jesus Cristo é o Senhor, elas eram perseguidas pelas autoridades romanas. Se dissessem que Jesus é o Filho de Deus, então elas eram atacadas pelos líderes da religião judaica que diziam que Jesus não era o Filho de Deus mas somente um enviado de Deus. Por isso, ser cristão não era algo neutro. Ser cristão significava assumir um conflito social, politico e religioso

Esses tempos eram bem difíceis. Tempos em que muitos cristãos foram presos. E quando as autoridades romanas prendiam alguém, essa pessoa para salvar a sua vida tinha que negar a Jesus Cristo como Senhor e proclamar publicamente uma maldição contra Jesus. Os cristãos que não faziam isso eram condenados a morte. Muitas pessoas abandonaram a sua fé e a igreja, para salvar a própria vida. Mas houve também aquelas pessoas que assumiram os riscos, mesmo diante do sofrimento e da morte. Eles foram chamados de mártires.

Como, por exemplo, a história dos 40 mártires de Sebaste, na Armênia - no ano 322 d.C. Trata-se de 40 soldados cristãos oriundos da Capadócia (atualmente Turquia). O general romano Agrícola os obrigou a prestar culto ao imperador romano, porém estes soldados se negavam. Era inverno e entardecia. Como castigo, os 40 soldados cristãos foram obrigados a tirar as roupas e foram colocados sobre um lago congelado. O frio imobilizava suas articulações e começaram a congelar. Na margem do lago havia uma fogueira e só poderia ir até ela para se aquecer quem abjurasse sua fé em Cristo. Os 40 soldados se abraçavam para suportar o frio intenso, e animavam-se cantando hinos. Um dos 40 não suportou a tortura e saiu do grupo, mas antes de chegar à fogueira caiu morto. Conta-se que um dos guardas romanos que estavam vigiando os 40 soldados, ficou tão impressionado com a fé deles, que tirou sua roupa e foi juntar-se aos outros 39 que estavam sobre o lago congelado. Na manhã seguinte todos estavam mortos.

Como podemos ver – para algumas das primeiras comunidades cristãs, seguir a Jesus foi algo exigente. Hoje em dia Jesus não pede que nos sacrifiquemos até a morte por nossa fé, mas ele pede sim que sacrifiquemos o nosso egoísmo e vivamos uma nova forma de vida, onde não tenhamos medo do confronto com os poderes religiosos e políticos de nosso tempo.

Desta forma, assim como olhamos para as primeiras comunidades cristãs, devemos olhar também para as nossas comunidades cristãs de hoje e perguntar: - O que as pessoas enxergam em nossas comunidades cristãs de hoje? Qual é o lugar da mensagem de Jesus diante dos problemas sociais como o aumento da pobreza, o desemprego, a agressão ao meio ambiente e a destruição dos recursos naturais?

De imediato podemos dizer que ser uma pessoa cristã - além de ler a Bíblia e orar, ela deve também defender e promover a vida. Não pensar somente em si mesma, nos seus próprios interesses, ou apenas nos interesses de sua família. Seguir a Jesus Cristo significa colocar o Reino de Deus e a sua justiça acima dos interesses pessoais. Seguir a Jesus é deixar-se transformar pela mensagem do Evangelho e colocar em sua vida os valores de Jesus. Isso significa que as vezes Jesus nos chama a apoiar pessoas e organizações que defendem a vida, a solidariedade, a compaixão, o perdão, a justiça para todo@s, o amor. Por isso, como Conselho nacional de Igrejas Cristãs (CONIC-MG) nos unimos ontem ao Grito dos Excluidos. Essa atividade é organizada pela Igreja Católica e reúne muitas outras organizações sociais e ONGs em solidariedade com as vítimas de Brumadinho, porque a mensagem de Jesus hoje nos diz que pessoas que estão fazendo isso, são nossos irmãos e nossas irmãs, sendo de nosso comunidade religiosa ou não.

No domingo passado nos lembramos de Martim Lutero que dizia: No dia do juízo, Deus não vai perguntar a mim se eu fui um bom cristão. Deus vai perguntar isso ao meu vizinho, aos pobres e as pessoas que conviveram comigo. Por isso, devemos nos perguntar: O que será que as pessoas vão dizer de mim? O que será que as pessoas vão dizer de você? O que será que as pessoas vão dizer de nossas comunidades?

Devemos levar esse desafio de Jesus em nossos corações e refletir se nossos valores de vida estão de acordo com o que Jesus espera de nós.

Que a graça de nosso Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus nosso Pai e a comunhão do Espírito Santo estejam com cada um e cada uma de nós. Amém.
 


Autor(a): Nilton Giese
Âmbito: IECLB / Sinodo: Sudeste / Paróquia: Belo Horizonte (MG)
Área: Confessionalidade / Nível: Confessionalidade - Prédicas e Meditações
Área: Comunicação / Nível: Comunicação - Programas de Rádio
Testamento: Novo / Livro: Lucas / Capitulo: 14 / Versículo Inicial: 25 / Versículo Final: 33
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Prédica
ID: 53082
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