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ID: 363

Qual a diferença entre o batismo de João Batista e o Batismo de Jesus?

Por quê luterano@s batizam bebês?

13/01/2019

Lucas 3.15-17; 21-22

Estimada Comunidade,
Estimados rádio-ouvintes:
Hoje é o domingo em que as igrejas cristãs lembram do Batismo de Jesus. Mas o batismo de João Batista é o mesmo batismo de Jesus? Qual é a diferença? 

Conforme a Bíblia, o batismo é um mandamento de Deus, instituído por Jesus (Mateus 28.19). Mas não foi Jesus quem inventou o batismo. O batismo é uma novidade de João Batista.

No tempo de João Batista, as pessoas estavam desiludidas com as instituições religiosas e políticas. A religião judaica estava dominada por dois grupos: os fariseus e os saduceus. Os fariseus eram um grupo religioso conservador que acreditava que Deus se manifestaria nesse mundo no momento em que todos os judeus cumprissem a Torá. Por isso, sua tarefa era ensinar e vigiar para que os judeus cumprissem as leis da Torá. Quem infringia a Lei estava atrapalhando e atrasando a manifestação de Deus. Os saduceus, por sua parte, formavam um partido político-religioso da elite. Eles não tinham nenhum interesse pelo povo. Eles eram a classe alta de sacerdotes do templo.  Nessa situação de desânimo religioso e de frustração política aparece João Batista. Ele diz basicamente 3 coisas:
1) O mundo está sob a iminência do castigo de Deus.
2) Nada de bom se pode esperar dos líderes religiosos e políticos. As lideranças religiosas e políticas se afastaram da vontade de Deus, e por isso, elas irão ser consumidas pelo fogo do juízo de Deus
3) No entanto, Deus deseja um povo novo – constituído de pessoas que praticam a justiça e a misericórdia. O mundo só vai melhorar se cada pessoa quiser melhorar e começar por ela mesma. As atitudes individuais são a chave para um mundo melhor. Quem quisesse ser membro desse novo povo de Deus – como sinal de compromisso pessoal de viver uma nova vida – então João Batista convidava essa pessoa para ser batizada. O compromisso era com João Batista. Depois desse compromisso, João Batista mandava a pessoa voltar para sua casa.

O próprio Jesus, depois de ouvir essa pregação de João Batista se deixou batizar. E diz o nosso texto bíblico que sobre ele desceu o Espírito Santo. Os fariseus ensinavam que desde o tempo de Esdras (século V a.C.), Deus já havia falado tudo na Torá e que agora somente era necessário aprender e obedecer a Lei de Deus. Quando o Evangelho diz que o Espírito Santo desceu sobre Jesus, ele quer dizer que - através de Jesus - Deus está começando um novo tempo de comunicação com as pessoas.

Depois de ensinar os seus discípulos sobre as atitudes que Deus deseja ver na vida de cada pessoa, Jesus recomendou aos seus discípulos que continuassem a repetir o gesto do Batismo como o início de uma nova vida. O gesto era o mesmo, mas Jesus criou uma nova fórmula: A água deveria se unir às palavras de benção em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo (Mt 28.19). Com isso o compromisso não era mais com uma pessoa, mas com o próprio trino Deus. Além disso, no Batismo de João cada pessoa era enviada de volta ao seu lugar para ali praticar essa nova vida. No Batismo de Jesus não somos enviados ao mundo como cavaleiros solitários para mudar o mundo com nossas atitudes individuais. No Batismo de Jesus somos integrados numa Comunidade, num novo povo de Deus. Esse novo povo de Deus é a Igreja, o corpo de Cristo. É na igreja que Deus continuará nos presenteando com a graça de Deus, que Deus continuará nos motivando a viver os ensinamentos de Deus. E é na Igreja que Jesus faz a promessa: Eis que estarei convosco todos os dias, até o fim dos tempos (Mt 28.20).

Os primeiros lideres da igreja cristã pregavam que a igreja – o povo de Jesus – deveria se destacar por viver entre si os ensinamentos de Jesus. A igreja deveria ser o lugar onde cada pessoa pudesse desenvolver a boa semente lançada no coração das pessoas pela Palavra de Deus. Mas havia um problema. A influência do mundo – o ambiente social - fazia com que muitas pessoas relaxassem e até abandonassem os ensinamentos de Jesus. A boa semente se perdia porque o ambiente não era favorável. Por isso, desde o ano 300 d.C. começou a propagar-se que a forma mais eficaz de viver os ensinamentos de Jesus era distanciar-se do mundo. E assim surgiram os monastérios e os conventos. Quanto mais fechado fosse o convento, melhor seria para o desenvolvimento da boa semente.  

Também na compreensão luterana, nós ensinamos que a criança recém-nascida não é uma folha em branco. Cada um de nós já nasce com a semente do pecado. Pecado é a inclinação do ser humano de querer viver por sua própria conta, sem prestar contas a ninguém. É o desejo de cada pessoa querer ser o seu próprio deus e de cada um estabelecer suas próprias normas e valores. 

Para Martim Lutero, a semente do pecado vai se desenvolvendo naturalmente dentro de nós. As coisas da natureza humana são bem conhecidas, diz o apóstolo Paulo em Gálatas 5.19. São: imoralidade, ações indecentes, inimizades, as brigas, as ciumeiras, os acessos de raiva, a ambição egoísta, a desunião, as divisões, invejas e assim por diante. Por isso, toda criança precisa ser educada. Ela precisa ser ensinada a respeitar os outros, a compartilhar, a dividir. Essa é a tarefa principal da família. Deus quer fazer de cada ser humano uma pessoa boa, onde o Espírito de Deus possa desenvolver nela a bondade, a alegria, o amor, a paz, a paciência, a delicadeza, a fidelidade, a humildade e o domínio próprio. Essas coisas são os frutos da boa semente a Palavra de Deus e nós não conseguimos ensinar e nem alcançar sem a ajuda de Deus. 

Quando vemos com frequência em nossas crianças as brigas, as ciumeiras, os acessos de raiva, a ambição egoísta, a desunião, as divisões, invejas e assim por diante, é sinal que a natureza humana, a semente do pecado está se desenvolvendo. 

O que fazer então? 

Como pais/mães, padrinhos e madrinhas devemos rogar a Deus para que consigamos educar a criança. Isso significa inibir o crescimento da semente do pecado ajudando a criança a ajudar a produzir os frutos da boa semente que são a bondade, a alegria, o amor, a paz, a paciência, a delicadeza, a fidelidade, a humildade e o domínio próprio. 

Martim Lutero também lembrava que Jesus não quer apenas uma igreja (ou conventos) onde se faz a vontade de Deus, mas Deus quer que o mundo todo faça a vontade de Deus. Por isso, nós – luteranos e luteranas – não educamos nossos filhos e filhas para a igreja, mas para que sejam bons servidores de Deus no mundo. Quando Jesus diz “Quem crer e for batizado será salvo, mas quem não crer será condenado” (Marcos 16.16) ele quer dizer que a minha fé não faz o batismo, a minha fé somente recebe o batismo. A iniciativa do batismo é exclusiva de Deus. Quando nós luteranos e luteranas batizamos bebês, nós dizemos Deus nos adota como seus filhos e filhas, sem que nós precisemos fazer nada para merecer isso. 

Pelo Batismo Deus nos diz que nós não fomos jogados nesse mundo. Pelo Batismo Deus nos assegura que nossa vida, nosso passado-presente-futuro vai estar sempre nas mãos de Deus. Deus quer fazer de nós pessoa boas, bons cidadãos, pessoas que se esforçam para produzir os bons frutos da boa semente da Palavra de Deus. Jesus quer ser o nosso guia, o nosso bom pastor, o nosso Salvador. Ele quer nos orientar, nos aconselhar para que esses frutos transformem o mundo. 

Portanto, a Biblia nos faz lembra hoje do Batismo. O Batismo de João Batista que queria o compromisso pessoal com o João batista de pessoas que estavam dispostas a individualmente fazer a vontade de Deus. O Batismo de Jesus que nos ensina que não conseguimos fazer essa vontade de Deus individualmente sem nos alimentar e nos orientar constantemente da Palavra de Deus que recebemos e ouvimos na igreja. Pois, assim como as crianças precisam ser educadas, assim também os adultos precisam da orientação da Palavra de Deus. Caso contrário, os frutos da natureza humana vão se multiplicar e assim nos afastamos cada vez mais da vontade de Deus. A pessoa cristã é um aprendiz durante toda a sua vida. Como criança, adolescente, jovem, adulto e mesmo depois de velho – ele depende da orientação de Deus para produzir os frutos do Espírito Santo. Por isso, Martim Lutero ensinava que “a vida cristã outra coisa não é que um diário batismo, começado uma vez e sempre continuado. Essa luta diária contra o pecado se dá através de toda a vida”. 

Portanto, o Batismo é o início de uma vida cristã. Deus quer fazer de todos nós pessoas boas, que possam transformar esse mundo. Mas para isso, devemos nos comprometer com Jesus a educar nosso@s filho@s e afilhad@s para que a boa semente se desenvolva dentro deles. Isso só vai acontecer se nós mesmos nos alimentarmos constantemente da Palavra de Deus e participarmos de nossa igreja. Como luteranos e luteranas nós não precisamos de conventos para educar os nossos filhos a fazer a vontade de Deus. Cada vez que batizamos os bebês no culto, nós dizemos que pais/mães/padrinhos e madrinhas e a própria comunidade vão assumir esse papel de educadores.

Por isso, nesse tempo de férias escolares, lembre-se do seu filh@, de seu afilhad@ e do desejo de Deus de fazer dessa criança uma pessoa boa que produz os frutos da boa semente de Deus. Se cada um de nós se empenhar nessa tarefa, Jesus nos garante - eis que estarei convosco todos os dia até o fim dos tempos - e assim vamos conseguir transformar o mundo. 

Oremos:
Eterno Pai e terna Mãe,

Hoje te pedimos, estende tua mão sobre todas as crianças do mundo e abençoa-as.
Ajuda-nos a entender que todas as crianças do mundo são nossas crianças e que cada uma delas é um membro da nossa família.
Que nossos irmãozinhos não mais sofram agressão,
que nossas irmãzinhas já não sejam vítimas de maus-tratos,
que nossas filhas jamais padeçam violentadas,
que nossos filhos nunca mais derramem lágrimas amargas por causa da violência.
Não permitas, ó Eterno, que descansemos enquanto uma só dessas nossas crianças,
em qualquer lugar do planeta, padecer sob qualquer tipo de opressão, humilhação, abandono ou desamor.
Que nossos irmãozinhos experimentem a alegria,
que nossas irmãzinhas conheçam a felicidade,
que nossas filhas aprendam a sorrir,
que nossos filhos vivam em paz.
E que as crianças do mundo encontrem em nós, suas irmãs e irmãos mais velhos, a proteção, a segurança e o carinho de que necessitam para crescer em estatura, sabedoria e graça, diante da Eternidade e da humanidade.
Desde agora e para sempre.
(LuizCarlosRamos)

Amém!
 


Autor(a): Nilton Giese
Âmbito: IECLB / Sinodo: Sudeste / Paróquia: Belo Horizonte (MG)
Área: Confessionalidade / Nível: Confessionalidade - Prédicas e Meditações
Área: Comunicação / Nível: Comunicação - Programas de Rádio
Testamento: Novo / Livro: Lucas / Capitulo: 3 / Versículo Inicial: 15 / Versículo Final: 22
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Prédica
ID: 50756
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