Mateus 5.38-48
Oremos:
Amado Deus, concede-nos a humildade de ouvir a tua palavra e receber o teu chamado. Por Jesus Cristo nosso Senhor. Amém.
Prezada Comunidade;
O Evangelho de Mateus traz hoje o tema do comportamento humano, da ética cristã. Esse tema tem muito a ver com os comentários e análises que nessa semana ouvimos sobre os acontecimentos no Espírito Santo. Um desses comentários diz o seguinte:
“A ausência da polícia revela uma realidade assustadora: o caos ético e moral que se encontra o nosso país. Quando a polícia se torna a regra de conduta das pessoas, o instrumento de controle que as impede de cometer crimes percebe-se a falta de consciência ética e moral. [...] A conclusão é a seguinte: Se precisamos de polícia para sermos honestos – ou se precisamos do radar para respeitar uma velocidade segura no trânsito, - somos uma sociedade de bandidos soltos!” (Sérgio Oliveira).
Muitas análises dizem que o comportamento das pessoas é de desespero por causa da falta de segurança política e social. É difícil exigir do povo algo diante da incoerência, do mal exemplo de muitos de nossos governantes.
Lá no ano de 1500, Martim Lutero dizia que o ser humano é um lobo. E a quantidade de lobos nesse mundo é muito maior do que as ovelhas. Não se pode governar o mundo com o sermão da montanha. Por isso Deus instituiu o Estado – para controlar os lobos. O Estado tem a função de aplicar e fazer cumprir as leis. Lutero enfatizava: as nossas autoridades não são autônomas e nem divinas. Elas devem estar à serviço da vontade de Deus. Sua principal tarefa é cuidar da justiça, do bem-estar e da paz entre as pessoas. Quando os governantes se desviam dessa tarefa, - ou quando o estado foi dominado pelos lobos - então eles deixam de ser legítimos aos olhos de Deus e nesse caso devemos resistir a elas.
No entanto, além da questão política, também precisamos dizer que o comportamento social de uma pessoa cristã deveria se distinguir nesse mundo repleto de maus exemplos.
No Evangelho de hoje Jesus nos dá algumas orientações. Ele diz: não se vinguem dos que fazem mal a vocês. Jesus também fala do amor aos inimigos (adversários). E algumas vezes Jesus deixou claro que os inimigos podem ser os membros da própria família (Mt 5.11-12, Mt 10.36,).
E quando isso acontece, quando estamos diante de um inimigo, ou de alguma pessoa que nos prejudicou o que devemos fazer? Como devem agir os seguidores de Jesus, como devemos agir como cidadãos do reino de Deus?
Vejam bem: Quando Jesus diz: Não se vinguem dos que fazem mal a vocês. Ou amem seus inimigos e orem pelos que vos perseguem, ele não está dizendo que devemos ter uma atitude de submissão total e completa diante da pessoa má. Quem se submete dessa maneira está, de fato, dando sua colaboração para que o mal prevaleça. Jesus muitas vezes resistiu diante do mal. Ele foi tentado pelo diabo no deserto (Mt 4.1-11), defrontou-se, pois, com o “perverso” e resistiu. Não recorreu à violência contra o tentador. Mas resistiu, opondo-se radicalmente à submissão. O assunto portanto é, como se resiste ao mal – sem fazer uso da violência?
Foi um indiano chamado Mohandas Karamchand Gandhi (1869-1948), – quem leu o Sermão da Montanha de Jesus e a partir daí desenvolveu formas e técnicas não-violentas de protesto contra o mal e de desobediência civil contra o estado britânico.
Por exemplo:
a) Gandhi, para acelerar o processo de independência do seu país, Índia, da dominação da Inglaterra – e diante da proibição britânica de que os indianos sequer fabricassem seus tecidos – organiza uma grande queima de tecidos britânicos. Por isso, os indianos até hoje não usam terno e gravata, ou vestidos europeus, mas preservam a identidade nacional na sua forma de vestir.
b) Também nos Estados Unidos, os negros americanos, diante das leis segregacionistas que impediam seu acesso a determinados ambientes, estritamente frequentados por brancos, organizam “sit-ins”, isto é, entram nestes lugares, como por exemplo, um bar, um ônibus, sentavam-se e não se levantam e nem se intimidam diante dos mais diversos tipos de pressão.
O conflito – a resistência- não é uma coisa ruim. Jesus ensinou que diante da maldade não devemos ser passivos ou conformistas. Devemos resistir – mas sem violência contra quem resistimos.
Mas como nós podemos saber que comportamento assumir diante da nossa realidade e diante de pessoas más hoje em dia?
Segundo Martim Lutero, Deus instituiu a Igreja para orar – mas também para orientar as pessoas a viver no dia-a-dia conforme a vontade de Deus. A Igreja tem dupla função: orar e educar.
Para isso Lutero escreveu o Catecismo Menor para as famílias. Nesse Catecismo – que nós usamos hoje no Ensino Confirmatório – começa com os 10 mandamentos. Vocês lembram qual é o primeiro mandamento?
Para Lutero o primeiro mandamento era o principal de todos. Eu sou o Senhor teu Deus. Devemos temer e amar a Deus e confiar nele acima de todas as coisas. Se observássemos esse único mandamento, teríamos um critério para decidir o que Deus espera de nós como cristãos nesse mundo. O primeiro mandamento é o vigia, a norma, um princípio para a vida cristã.
Por exemplo: Se o Senhor é o meu Deus, eu posso ser corrupto? Se o Senhor é o meu Deus eu posso ser indiferente diante da maldade ou deixar de ajudar ao meu próximo? Se o Senhor é o meu Deus, eu posso caluniar, mentir, roubar, enganar alguém? Se o Senhor é o meu Deus, eu posso ser uma pessoa violenta?
Quem sabe vocês podem fazer a experiência. Considerem a partir de hoje essa norma em vossas vidas: Eu sou o Senhor teu Deus. Essa norma também o apóstolo Paulo recomendou para as primeiras comunidades dizendo assim: Tudo o que fizerdes, em palavra ou ação, fazei-o em nome do Senhor, dando por ele graças Deus Pai. (Col 3.17).
O filósofo alemão Immanuel Kant – que também era luterano – escreveu o livro Crítica à Razão Pura, que é um dos um dos mais influentes trabalhos na história da filosofia e que deu início ao chamado idealismo alemão, ele recomendava a seguinte norma ética: “Tudo aquilo que você não puder contar como fez, não faça; Se você tiver razões para se envergonhar do que vai fazer, então não faça.”
Portanto, a Lei não deveria servir apenas para proibir, mas ela também deve orientar. Da mesma forma, o Evangelho – que é a vontade de Deus revelada por Jesus - quer tocar o ser humano em seu coração e assim ser um princípio, uma orientação de conduta na vida de todos nós.
Que a graça de nosso Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus e a comunhão do Espírito Santo estejam no meio de nós. Amém.