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ID: 363

Mateus 5.17-27

A educação cristã não pode mais estar baseada no temor do castigo nem na promessa dos prêmios, mas no valor da verdade e do bem.

11/02/2017

Mateus 5,17-37:

O sermão da Montanha (Mateus 5-7) começa com as Bem-aventuranças e continua com a exposição da Lei de Moisés ( a Torá) e a interpretação que Jesus Cristo dá a essa Lei.

No mundo antigo, configurado com os patamares do autoritarismo, dos impérios, do feudalismo, das monarquias absolutas... o ser humano aceitava como natural que o “mundo lá de cima” devesse ser estruturalmente igual no mundo daqui de baixo. No mundo lá de cima, Deus está sentado em seu trono. Por isso, no mundo aqui de baixo o poder está com o imperador ou o rei ou o senhor feudal. No mundo lá de cima, Deus tem um grupo de anjos para servi-lo e no mundo aqui de baixo o rei (imperador, senhor feudal, ou seja o governante) tem um grupo de pessoas que devem vigiar o povo para que as ordens ditadas pelos reis sejam cumpridas.

No entanto, essa forma de pensar e essa estrutura política mudou radicalmente. O regime antigo do autoritarismo, imperialismo, da obediência cega, da submissão absoluta e a-racional teve seu fim. Os impérios, reinos e monarquias foram extintos e apareceram as repúblicas e as democracias e os direitos dos “cidadãos” (que já não são súditos).

A partir da Reforma de Martin Lutero fomos compreendendo que a realidade - na maioria das vezes - é fruto da vontade de pessoas, que usam o nome de Deus para legitimar seu poder. Lutero enfatizava: as nossas autoridades não são divinas. O que elas fazem, nem sempre é vontade de Deus.

Podemos pensar que a situação de violência e de medo, que vivemos hoje em muitas cidades do Brasil, tem a sua causa na falta de obediência às leis de Deus que estão no Antigo Testamento. Em situação de crise, sempre aparecem aqueles que apelam para a obediência cega as Leis do Antigo Testamento. Mas, - devemos reconhecer - a nossa realidade é apenas uma consequência catastrófica do mal exemplo que dão os nossos governantes. Políticos existem para cuidar da justiça, do bem-estar comum, da paz, da harmonia, da equidade. Para preservar isso, eles sempre deveriam escolher entre o mal menos ao invés do mal maior. Quando eles se esquecem disso, ou quando temos maus governantes - eles acabam destruindo a justiça, a paz e o bem-estar social.

No Sermão da Montanha, vemos que Jesus está preocupado com as boas relações entre as pessoas, mas também está preocupado com a justiça, o bem-estar e a paz e por isso retoma a lei de Moisés. Sem desrespeitar a lei do Antigo Israel, Jesus aponta – que não se trata apenas de impor as velhas leis, mas as pessoas precisam ter consciência e responsabilidade com as consequências de suas atitudes.

O mundo no tempo de Moisés era muito diferente do mundo do tempo de Jesus. As proibições de assassinato, do adultério, do divórcio e do juramento não estão abolidas por Jesus, mas elas precisam ser atualizadas para a realidade de Jesus. Para Jesus, a Lei não deve apenas proibir, mas ela deve orientar. É preciso lembrar que a vontade de Deus quer tocar o ser humano em seu mais íntimo e não somente em sua ação externa.
Por isso, Jesus não apenas proíbe o assassinato, mas aponta para a importância da reconciliação. A boa vontade e a ação de reconciliar-se com o próximo são tão importantes, que devem preceder até mesmo ao culto a Deus. A oferta a Deus somente deve ser entregue, após restabelecidas as boas relações com as pessoas.

Sobre o adultério e o divórcio, Jesus fala da relação entre homem e mulher, das relações familiares e dos matrimônios. Na sociedade de Jesus o matrimônio era patriarcal. No entanto, Jesus não acha bom essa superioridade do homem sobre a mulher. Por isso, ele restringe o poder masculino e protege a integridade da mulher e acentua que as responsabilidades devem ser compartilhadas entre homem e mulher.

Jesus mostra que os nossos braços, os nossos olhos, são apenas porta vozes daquilo que já decidimos em nosso coração. As nossas atitudes apenas demonstram as nossas decisões. E para Jesus, não é o cérebro que decide – é o coração. Por isso, a raiva, a ira, o ódio que levamos em nosso coração contra alguém – se não for controlado dentro de nós – pode nos levar ao assassinato. Alimentar o ódio vai nos destruindo por dentro. Também o adultério ele não acontece apenas na traição, mas ele já começa na concepção de que as mulheres são inferiores e que elas existem para agradar e satisfazer os desejos carnais dos homens. O olhar adúltero é uma demonstração dessa concepção machista. 

Jurar era um ato público de comprometer-se em dizer a verdade ou de agir da forma anunciada. A lei do Antigo Testamento previa não jurar falsamente, conforme o segundo mandamento do Decálogo. Não tomarás em vão o nome de Deus ... (Êx 20.7 e Dt 5.11). No entanto, Jesus via que o juramento era algo exigido pelas instituições falidas e corrompidas. Jurar em nome de Deus era uma forma de dar credibilidade a palavras e ações falsas.
Jesus diz que não devemos jurar por ninguém. O que devemos fazer é ter um discurso franco, honsto, sincero e confiável. “Seja, porém, a tua palavra: sim, sim; não, não”. A comunicação sincera, a honestidade – ser uma pessoa honesta – isso é uma marca do reino de Deus.

Portanto, Jesus nos mostra no Sermão da Montanha que cada um de nós tem uma responsabilidade diante de Deus. Que as pessoas não podem dizer – eu fiz isso porque todo mundo faz. E nem mesmo podemos dizer que fizemos o que nos mandaram fazer. Diante da injustiça, se alguém nos manda fazer algo éticamente errado - nós temos o direito a desobedecer.

Para viver em sociedade, para viver em comunidade, é necessário cuidar do respeito entre as pessoas. Nem sempre podemos dizer abertamente tudo o que queremos dizer. Quem é sincero demais, é visto como uma pessoa chata.

Mas também não devemos ter uma atitude conformista, que diante da realidade aceita tudo como sendo a vontade de Deus. Como luteranos devemos sempre lembrar que Martin Lutero já alertava que as autoridades somente são legítimas quando elas estão à serviço da vontade de Deus. Autoridades corruptas, desonestas, opressoras, não são legítimas aos olhos de Deus. E devemos resistir a tudo aquilo que não for da vontade de Deus.

Por isso, seguindo o exemplo de Jesus, também podemos dizer que o mundo do século XXI é diferente do mundo do tempo de Moisés. Não dá para tomar as Leis do Antigo Testamento ao pé da letra. As leis do Antigo testamento precisam ser atualizadas para a nossa realidade. Elas devem ser atualizadas com o objetivo de preservar o respeito, a reconciliação e a honestidade entre as pessoas. E quanto aos governantes, sua principal tarefa deveria ser cuidar da justiça, do bem-estar e da paz entre as pessoas. Quando os governantes se desviam dessa tarefa, então eles deixam de ser legítimos aos olhos de Deus.
Amém.

Oremos:
Cristo, querido Senhor e Mestre, tu nos revelas constantemente o correto significado de tua palavra. Permite que a entendamos sempre melhor. Fortalece-nos através de tua palavra e ajuda para que também vivamos e atuemos de acordo. A ti louvor e gratidão com o Pai e o Espírito Santo para sempre. Amém.
(Martim Lutero “A serviço de Deus”)
 


Autor(a): Nilton Giese
Âmbito: IECLB / Sinodo: Sudeste / Paróquia: Belo Horizonte (MG)
Área: Confessionalidade / Nível: Confessionalidade - Prédicas e Meditações
Testamento: Novo / Livro: Mateus / Capitulo: 5 / Versículo Inicial: 17 / Versículo Final: 37
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Prédica
ID: 41168

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