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Mateus 21.33-46 - Sobre a teologia da graça

09/10/2017

Mateus 21.33-46
Prezada Comunidade:

Agora faltam somente 23 dias para o dia 31 de Outubro, para os 500 anos da Reforma Luterana.

Os textos bíblicos que ouvimos hoje nos querem falar sobre a graça de Deus e da nossa vivência no dia a dia, em resposta a essa graça de Deus.

A parábola dos trabalhadores na vinha, que Jesus nos conta, fala de um agricultor que plantou a sua vinha, cuidou dela e arrumou tudo para que pudesse produzir o seu vinho. Construiu inclusive uma torre para que a plantação pudesse ser vigiada. Tudo organizado, tudo pronto. Mas por algum motivo ele precisa viajar e por isso deixa a sua vinha aos cuidados de uns arrendatários, que deveriam cuidar com carinho, com amor e dedicar-se ao trabalho como o dono da vinha fazia.

No tempo certo o dono enviou alguns dos seus emissários para que estes fossem receber a parte que lhe cabia, mas os arrendatários eram maus. Eles maltrataram os emissários e os mandaram embora sem nada. Então, o dono da vinha enviou outros emissários, mas também estes foram expulsos para fora da vinha e alguns até foram mortos. Por fim, enviou o seu próprio filho pensando que este os arrendatários respeitariam. Como estava enganado! Os arrendatários pensaram que matando o filho do dono ficariam com a vinha para si. Então executaram o filho. O que o dono da vinha deveria fazer com os arrendatários? pergunta Jesus. A resposta faz com que os interlocutores de Jesus se deem conta de que é deles mesmos que fala.

E podemos dizer que Jesus não fala somente dos líderes judeus. Ele também quer falar para nós como sua Comunidade, como sua igreja.

Mas o que é que está errado? Afinal, esses trabalhadores (assim como muitos de nós ainda hoje) certamente se mataram no serviço para que as parreiras produzissem uvas. Devem ter trabalhado de madrugada, até em domingos e feriados, estragando a saúde e negligenciando a família. O que mais se poderia exigir deles? Todo o seu esforço deu resultado. As parreiras produziram muitas uvas e as uvas deram muito vinho. O que – então - está errado nessa história, afinal?

Exatamente! A usurpação. Os arrendatários dizem: O dono da vinha está longe e por isso nós - os arrendatários - somos os donos do campinho. O parreiral é nosso, e agora aqui vale tudo, menos o primeiro mandamento: EU SOU O SENHOR SEU DEUS, NÃO TERÁS OUTROS DEUSES ALÉM DE MIM.! Não, no nosso parreiral nós somos os senhores. O proprietário aqui não manda mais. Isso se chama usurpação. A usurpação acontece, quando o proprietário é posto de lado.

A usurpação é bem camuflada. Ela pode esconder-se sob o manto do esforço, da dedicação, do trabalho. Ela é muito sutil. Tão sutil que já nem mais a percebemos.

Mas ela está aí. E ela está aí toda vez que a vontade do proprietário passa para o segundo plano ou é posta em escanteio de vez. Ela está aí quando nós passamos para o primeiro plano. A usurpação se dá quando eu tomo o lugar do proprietário. Quando nós nos esquecemos que todos somos arrendatários. Somos passageiros pela vida. 

E agora notem o detalhe da parábola: não há um arrendatário que seja inocente! Isto é que é o terrível. Aqui não é possível apontar o dedo. Aqui só se pode olhar para dentro, bater no peito e baixar a cabeça. E assim como esses arrendatários, também nós não temos álibi. Nós somos constantemente alertados pelos emissários do proprietário, pela leitura da Bíblia que diz: Misericórdia quero, e não sacrifício! Ou: Tornai-vos praticantes da palavra e não somente ouvintes. Pelo próprio Filho que diz: Nem toda pessoa que me diz: Senhor, Senhor entrará no reino dos céus, mas aquela pessoa que faz a vontade de meu Pai que está nos céus.

Sim, nós somos alertados constantemente e nós sabemos. Por isso, os arrendatários respondem: O dono da vinha deve matar sem piedade aqueles criminosos e arrendar o parreiral a outros, que lhe entreguem os frutos no tempo certo.

Portanto, a parábola nos fala do cuidado de Deus para que todo nosso esforço produza muitos frutos. Nós nos esforçamos e os frutos apareceram. Tudo certo até aqui. O problema começa quando nos apropriamos desses frutos e negamos reconhecer as bênçãos de Deus. Quando achamos que tudo o que temos na vida veio somente por nosso próprio esforço. Nesse momento, o que era bênção de Deus se torna um problema, um peso e as vezes té uma maldição. Deus não nos tira os frutos de nosso trabalho, mas ele tira de nós a alegria e o gosto por aquilo que temos e somos.

Martim Lutero falava muito sobre a liberdade cristã. Ele dizia que uma pessoa cristã está livre porque Jesus a libertou através do perdão de todos os seus pecados. Mas uma pessoa cristã também é serva de Deus para amar e servir ao seu próximo. Isso quer dizer que Deus não quer que sejamos seus escravos. Um escravo deve entregar tudo ao seu senhor. Um escravo não tem a sua vontade respeitada. Deus não exige tudo de nós. Ele nos dá a vida e Ele nos dá a liberdade para vive-la. Nessa liberdade Ele apenas pede que consideremos sempre o primeiro mandamento: EU SOU O SENHOR SEU DEUS, NÃO TERÁS OUTROS DEUSES ALÉM DE MIM. Você é livre para fazer qualquer coisa nessa vida. Mas, aquilo que você vai fazer - ou está fazendo - esse mandamento deve estar em primeiro lugar. Se você não pode servir a Deus com o que você está fazendo – então isso não é vontade de Deus para você. E mesmo que você produza frutos fora da vontade de Deus, esses frutos serão amargos.

Mas ainda não podemos parar por aqui. Porque esta parábola também fala dos pastores(as) – dos ministros(as), dos emissários, dos empregados do dono da vinha. Ela diz algo essencial sobre a tarefa desses emissários/empregados. Esta parábola nos ajuda a enfocar a tarefa do emissário. Segundo esta imagem, emissários/empregados do dono da vinha tem as seguintes características:

1º. - Sua tarefa é lembrar os arrendatários do compromisso que eles têm com o dono da vinha. Por isso, uma das tarefas é recolher os frutos que cabem ao proprietário.

2º. Mas cuidado, diz Jesus. Essa tarefa dos emissários/empregados é uma tarefa perigosa. Geralmente os emissários não tem êxito. Eles se deparam com portas trancadas, com ouvidos fechados e com muita gente agressiva. Por isso, a tarefa pastoral precisa constantemente esperar contra a esperança, como diz Paulo (Rom 4.18).

3º. E é nisto também que está o consolo. Deus age pela fraqueza dos seus empregados. Todo momento de fraqueza, frustração, que alguém padece como empregado do proprietário, é participação no destino do Filho. O Filho é a pedra rejeitada que se tornou pedra angular, base, fundamento único para a eternidade. Sofrer como empregado é ser irmão do Filho, é ser parte do Filho, é ter o proprietário por Pai.

E agora vem algo para todos nós como Igreja Evangélica de Confissão Luterana em belo Horizonte. Nós somos os arrendatários que Deus colocou a seu serviço aqui na Comunidade Luterana de Belo Horizonte. Deus é o dono da igreja aqui em Belo Horizonte e Deus está abençoando os nossos esforços com bons frutos.

Mas devemos sempre lembrar que Deus é o dono da vinha e não tentar tomar o lugar de Cristo. Como igreja luterana celebramos com alegria os 500 anos da Reforma Luterana, mas que a nossa alegria seja a de servir a Deus, com gratidão por tudo aquilo que Dele recebemos. Devemos reconhecer que todos os frutos de nosso esforço, os frutos de nosso trabalho, na igreja e na nossa vida familiar - são bênçãos que Deus nos concedeu. Deus sempre preparou as condições para que o nosso trabalho não fosse em vão. Ele sempre foi na frente de nós, ele sempre foi dormir mais tarde e acordou mais cedo que nós, para preparar o terreno para que os nossos esforços produzissem muitos frutos.

Por isso, sejamos diferentes dos arrendatários da parábola. Reconheçamos e agradeçamos pelas bênçãos que Deus concedeu ao nosso esforço e também entreguemos a parte que corresponde a Deus. E nunca esqueçamos que as conquistas dos nossos esforços são bênçãos que Deus generosamente nos concedeu.

Que a graça de nosso Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus nossos Pai e a comunhão do Espírito Santo estejam com cada um e cada uma de nós. Amém.
 


Autor(a): Nilton Giese
Âmbito: IECLB / Sinodo: Sudeste / Paróquia: Belo Horizonte (MG)
Área: Confessionalidade / Nível: Confessionalidade - Prédicas e Meditações
Testamento: Novo / Livro: Mateus / Capitulo: 21 / Versículo Inicial: 33 / Versículo Final: 46
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Prédica
ID: 44205

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