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ID: 363

Marcos 10.46-52

23/10/2015

Marcos 10.46-52

Estimada Comunidade:

O nome Bartimeu vem da junção do sufixo BAR que indica filho de . Diz-se que Timeu foi um General que servia a Israel no destacamento de Betel e que ao aposentar-se se tornou um bem sucedido na região. Quando o domínio do Império Romano aconteceu seus bens foram confiscados, o soldo da aposentadoria cortado.

Tornou-se um revoltoso. Liderou vários ataques e que se moviam na direção de desestabilizar o governo romano na região. Identificado pelo império Romano como uma pessoa perigosa aos seus objetivos, Timeu foi perseguido, preso e morto crucificado por causa das suas sedições. Mandaram cegar ao filho Bartimeu após a morte de seu pai para evitar que se tornasse um revoltoso ainda mais perigoso do que foi seu pai.

Naquela época era comum a crucificação de um grande número de pessoas que prejudicassem a ordem e o governo do império opressor. Como também era comum eliminar os filhos homens ou torná-los deficientes para que não seguissem o exemplo de seus pais. Tanto melhor se deixassem vivos com alguma deficiência porque seriam um verdadeiro outdoor ambulante avisando “não sigam o exemplo de Timeu. Vejam o que aconteceu a ele e a seu filho.”

Bartimeu é apresentado no texto de Marcos como o primeiro seguidor autoconsciente de Jesus, diferente dos discípulos que foram chamados e da multidão de curiosos que o acompanhava ocasionalmente. Bartimeu é um cego que quer ver. É cego realista, não vive dos sonhos, mas de esmolas; não exilou a esperança, sofre o exílio.

Cabe a ele também abrir o segredo messiânico. A utilização do título messiânico, Filho de Davi, é a possível causa para a reação da multidão que temia ser associada a um ato de rebeldia com dimensões políticas na Palestina ocupada. Mas esse título não é rejeitado por Jesus, não obstante as perigosas conotações políticas que suscitava.

O cego está sentado à beira do caminho. Não tem destino. Ele fica sabendo através da multidão que Jesus está passando e se põe a gritar: Jesus, Filho de Davi, tem compaixão de mim. Quanto mais os passantes o repreendem e admoestam a se calar, tanto mais ele berra, até que Jesus pára e o manda chamar.

Bartimeu se arroga o direito de gritar, de chamar a atenção para a sua situação pessoal, a sua dor e o seu desejo de cura: Jesus, Filho de Davi, tem compaixão de mim. Jesus pára e o chama. Os que antes o repreendiam, mandando que se calasse, agora o consolam e animam. Bartimeu se levanta. Atira longe a sua capa – caracterizando que a sua vida de esmoleiro está definitivamente encerrada e, depressa, vai ao encontro de Jesus, como se já estivesse enxergando. À pergunta de Jesus: Que queres que eu te faça? Bartimeu responde: Mestre, que eu torne a ver!, ou, literalmente: Eu quero levantar os olhos!

Em estilo telegráfico são narrados os acontecimentos centrais: Vai, a tua fé te salvou, e: Imediatamente tornou a ver, e seguia Jesus estrada afora. Bartimeu decisivamente era um homem com vontade própria; em vez de ir, como Jesus mandou, ele o começou a seguir. A fé o transformou em sujeito de sua história, abriu-lhe os olhos, fez com que levantasse os olhos, libertou-o para o seguimento a Jesus.

A liberdade começa a ser gestada pelo grito. Gritava ainda mais alto quanto mais o repreendiam. Tornara-se um cego incômodo - porque chamar a Jesus de Filho de Davi era politicamente perigoso, pois a expressão naquele tempo significava ser o libertador que lideraria a revolta contra a dominação romana. Por isso, as pessoas pediam que ele parasse de gritar. Seus gritos poderiam ser ouvidos pelos soldados romanos e nesse caso, todos os que estavam ali corriam perigo. Portanto, a cegueira era a limitação que seu próprio corpo lhe impunha. Mas a mudez era uma imposição social. Gritar abria-lhe o seu espaço de rebeldia possível. Jesus escuta seu grito rebelde e, parado, manda chamá-lo. Bartimeu ergue-se de um salto, lançando de si a capa. Na Palestina era costume que esmoleiros pusessem a capa a sua frente para recolher os donativos.

O gesto tem um profundo significado simbólico. O que o alienava do caminho era a condição de cego e mendigo. Romper com esquemas, sistemas e convenções, o grito, o salto e a rebeldia são a incorporação da fé. Bartimeu torna-se sujeito. Já não aceita o lugar que a sociedade lhe reservara. Chega-se a Jesus e expressa o objeto de seu desejo: quer ver! Já não lhe basta ter a sua libertação que lhe reservava um lugar entre o resto de Israel a quem Javé mesmo guiará de volta à terra, conforme a promessa de Jeremias 31. Bartimeu quer decidir seu próprio caminho. Isso, como Jesus mesmo confirma, lhe é possível pela fé que se fez grito, salto e rebeldia. O Mestre o despede já com a vista restaurada: Vai, a tua fé te salvou (v. 52). E foi. Não de volta, mas pelo caminho que o havia salvo, seguiu ao causador de sua fé e de sua salvação.

Gostaria de acrescentar nessa reflexão, alguns pensamentos do colega Gerson Kappel em www.luteranos.com.br Ele diz: Quando Jesus ouve o clamor de Bartimeu, ele pára. Parece que não tem jeito: Quando alguém clama a Jesus, a compaixão se remexe dentro dele. E mais: Alguma resposta ele dará!

Nesse texto podemos destacar três ensinamentos importantes:

1- Quem crê se ergue!

Ainda sentado, Bartimeu crê em Jesus e clama. Ao ser ouvido e chamado por Jesus, ele se ergue. E ele se ergue de maneira muito decidida! Um cego joga a capa, levanta e vai. Notemos que ele não se ergue após ser curado da cegueira, mas antes! Pela fé podemos nos erguer, ainda que doentes, ainda que frustrados, ainda que desorientados.

2- Quem crê tem nova visão!

Ao falar com Jesus, Bartimeu pede para ver de novo. E a visão é restaurada. É um milagre. Milagres não ocorrem a todo instante, mas ocorrem.

3- Quem crê em Jesus faz nova caminhada!

E depois do milagre, Bartimeu seguia a Jesus estrada fora. Com sua visão nova e restaurada, também iniciou uma caminhada nova com Jesus. Agora também podemos perguntar: Como e para onde eu devo caminhar? Como e para onde nossa comunidade deve caminhar? Uma certeza fundamental e maravilhosa já temos: Crendo em Jesus, ele nos dará visão e estará conosco até o final!

A vida está cheia de “milagres” para quem sabe leva-la, por quem a vive com coragem e fé. E se nós pudéssemos gritar pedindo a ajuda de Jesus? Quais são as nossas angustias? Estaríamos dispostos a nos levantar, - isto é - a aceitar que Jesus mude nossa maneira de ver as coisas e a aceitar seguir por um novo caminho?

Que a luz de Deus nos dê uma nova visão das circunstâncias que estamos vivendo, que a luz divina abra os nossos olhos e nos ajude a caminhar pelos caminhos da vida, a pesar de nossos tropeços. Talvez necessitemos simplesmente “educar os olhos” e voltar a lançar mão da fé, da coragem de existir.

Oremos:
Ó Deus, Pai de bondade, que nos criaste para caminhar, para sair ao encontro dos demais e de ti e que abres diante de nós o caminho que devemos percorrer. Nós te pedimos que ilumines nossos olhos para que possamos caminhar sem tropeço e ajudar otro@s a caminhar também. Por Jesus Cristo, nosso Senhor. Amém
 


Autor(a): Nilton Giese
Âmbito: IECLB / Sinodo: Sudeste / Paróquia: Belo Horizonte (MG)
Testamento: Novo / Livro: Marcos / Capitulo: 10 / Versículo Inicial: 46 / Versículo Final: 52
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Prédica
ID: 35512

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