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Lucas 17.11-19

Os dez leprosos e o samaritano agradecido

08/10/2016

 

Lepra era uma doença caracterizada por manchas brancas, inchaço e tumores na pele. A pessoa acometida de lepra era forçada a retirar-se do convívio social e morar longe das pessoas que não tinham a doença, geralmente fora dos muros das cidades. A lei ordenava que, quando uma pessoa doente de lepra se aproximasse de alguém, deveria carregar um pequeno sino e de longe deveria gritar: “Imundo, imundo!”, reforçando assim seu estigma.

O sofrimento havia unido 10 pessoas em suas vidas. O texto dá a entender que nove eram judeus e um era samaritano. Judeus e samaritanos não se davam, mas amargavam juntos a mesma dor: estavam doentes de lepra.

A desgraça é capaz de estabelecer comunhão entre pessoas separadas. Judeus e samaritanos mantinham uma inimizade histórica entre si. De repente, a doença une seus caminhos, e os leprosos judeus passam a conviver com o samaritano em seu grupo. Ajudam-se mutuamente, são solidários e intercedem uns pelos outros.

A desgraça, a doença, o sofrimento ainda hoje permanecem unindo a vida de pessoas. Basta pensar em quantas amizades surgem em leitos de hospital e em filas de espera para tratamentos de saúde. A solidariedade, a intercessão e a ajuda mútua acontecem quase que naturalmente enquanto a dor é partilhada.

O texto bíblico nos diz que quando os 10 leprosos enxergam a Jesus – vindo de longe - eles começam a gritar pedindo socorro: “Jesus, Mestre, compadece-te de nós!”. De longe eles pedem ajuda. São solidários uns com os outros. Não intercedem apenas por si e pela cura individual. Sentem, literalmente na pele, o drama um do outro e, por isso, colocam-se juntos a clamar pela misericórdia de Jesus.

Jesus não se move em direção a eles. Não há diálogo entre os dez e Jesus. Mas ele os vê. E assim, à distância, dá uma ordem. Sem examiná-los, sem tocá-los, Jesus ordena que eles devem ir e se apresentar ao sacerdote. Segundo Levítico 14.1-32, o sacerdote era responsável por examinar a pessoa e verificar se ela estava realmente curada e, depois de ordenar o ritual de purificação, declarar que a pessoa estava apta para retornar à vida social e cultual.

Os dez não questionam, eles obedecem. A obediência à ordem recebida revela que, mesmo sem Jesus ter prometido ou afirmado que eles seriam curados, caso fossem até o sacerdote, eles confiavam que assim aconteceria. E todos receberam alta de sua doença. Estavam curados.

Os nove judeus talvez considerassem a cura como algo natural. Cessado o sofrimento, em muitos casos as pessoas nunca mais se encontram. Elas foram importantes uma para a outra num momento de aflição.

Mas um deles entendeu a sua cura como dádiva graciosa de Deus e sentiu-se impelido a agradecer. E a gratidão não pode esperar. Seu retorno acontece no momento exato em que ele se percebe curado das chagas que cobriam sua pele.

Jesus não esconde sua surpresa e sua decepção. Pergunta pelos outros nove. Eles não tinham motivos para dar glórias a Deus? Surpreendeu a Jesus e certamente também aos discípulos que a adoração e o gesto de gratidão vieram de onde não se esperava. E aqui o gesto desse homem desbanca todos os preconceitos e de quebra ainda questiona a suposta superioridade da religiosidade judaica. Jesus já havia contado a parábola do “bom samaritano”, temos agora um “samaritano agradecido”.

Jesus acolhe a gratidão do homem e diz: Levanta-te e vai; a tua fé te salvou (v. 19). Aqui Jesus fala em salvação. Até o momento, o assunto era cura física. Os nove acreditaram que Jesus tinha poder para salvá-los do sofrimento causado pela lepra.

As curas ocorreram porque existiu obediência. É verdade, a obediência é esperada de toda pessoa cristã. Assim afirma Hebreus 5.8-9: [Jesus] embora sendo Filho, aprendeu a obediência pelas coisas que sofreu e, tendo sido aperfeiçoado, tornou-se autor da salvação eterna para todos os que lhe obedecem... A fé levou as pessoas a obedecerem a ordem de Jesus. E a cura não foi retirada após a falta de gratidão dos nove. A graça e a misericórdia divinas não se deixam limitar ou orientar pela ação humana. Ainda assim, o gesto de gratidão é admirado e reconhecido por Jesus.

Buscar a Deus na ânsia de ter seus pedidos atendidos e suas necessidades sanadas ainda está muito em voga. E é bom que a fé em Deus leve as pessoas até Deus. Mas, na mesma proporção parece que a gratidão e a obediência à sua palavra seguem em baixa.
Como nós somos? Somos gratos? Se refletirmos nossa vida e compararmos com a história dos dez leprosos, com quem nós nos parecemos: com os nove ou com o samaritano?

Jesus destaca o agradecimento e a generosidade do samaritano. Fé sem gratidão e sem generosidade pode ser considerada fé? O que ganhamos de Deus e pelo que agradecemos?

Uma forma de agradecimento foram o louvor e o retorno do samaritano. O texto de 2 Coríntios 9.6-15 – que também ouvimos hoje - ressalta como sinal de gratidão a generosidade. A generosidade pode ser vista na assistência ao próximo, na coleta, no apoio a projetos e atividades da igreja.

A contribuição financeira dos membros da Igreja é uma oferta de gratidão a Deus. Ela representa o reconhecimento de que tudo o que a pessoa tem e recebe provém Deus. Deus abençoa com dons, tempo e bens e os seus filhos e suas filhas de Deus se mostram generosos ao colocar à serviço da causa de Deus uma parte desses recursos recebidos.

Na nossa Comunidade, as pessoas fazem as suas ofertas de forma espontânea, generosa, alegre, regular e sem constrangimento, assumindo seu compromisso com a missão de Deus. A manutenção de atividades comunitárias já existentes, bem como a incrementação e consolidação de projetos novos, se tornam possíveis graças às ofertas e às contribuições dos membros da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil.
Na parábola dos dez leprosos, a ausência de gratidão foi a atitude padrão. A exceção foi que somente um voltou para agradecer.

Jesus nos alerta para que o agradecimento não seja também uma exceção, mas a regra. Todos nós deveríamos ter a necessidade de expressar a nossa gratidão a Deus. Quando agradecemos por meio de nossa contribuição financeira ou pessoal, nós admitimos a nossa total dependência do perdão de Deus, de sua misericórdia e de seu amor.

Que a graça de nosso Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus nosso Pai e a comunhão do Espírito Santo estejam entre nós. Amém.
 


Autor(a): Nilton Giese
Âmbito: IECLB / Sinodo: Sudeste / Paróquia: Belo Horizonte (MG)
Área: Confessionalidade / Nível: Confessionalidade - Prédicas e Meditações
Testamento: Novo / Livro: Lucas / Capitulo: 17 / Versículo Inicial: 11 / Versículo Final: 19
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Prédica
ID: 39845

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