Marcos 10.46-52
Estimada Comunidade:
O nome Bar-timeu vem da junção do prefixo BAR que indica filho de com o nome do pai (TIMEU). Diz-se que Timeu foi um general que serviu a Israel no destacamento de Betel e que ao aposentar-se se tornou um comerciante bem sucedido na região. No entanto, Timeu não concordava com a crueldade dos soldados romanos sobre as pessoas. Por isso, ele foi para o lado da oposição.
Tornou-se um revoltoso. Liderou vários ataques contra o governo romano na região. Identificado pelo império Romano como um líder da oposição, Timeu teve todos os seus bens confiscados. Foi perseguido, preso e morto crucificado por causa da sua posição política.
Naquela época era comum a crucificação/crucifixão dos opositores ao governo do império romano. A cruz era um castigo político. Como também era comum castigar os filhos crucificados tornando-os deficientes (os soldados cortavam a mão, o pé ou cegavam os olhos das crianças) para que as crianças não seguissem o exemplo de seus pais. Como deficientes, eles somente podiam pedir esmolas. Não havia outro lugar para eles na sociedade. A deficiência servia de alerta para todos: Se você se revoltar contra o governo, vamos crucificar você e vamos castigar os seus filhos.
Diz o Evangelho que o cego Bartimeu estava sentado à beira (margem) do caminho. É uma pessoa que está na margem, ou melhor ainda que foi marginalizado, pois como ouvimos antes, Bartimeu não nasceu cego. Ele não está nessa situação de marginalizado por vontade de Deus. Ele foi feito cego por um governo opressor. Não sabemos a quanto tempo Bartimeu era cego. Mas sabemos que era um cego inconformado com a sua situação. Um dia Bartimeu ficou sabendo que Jesus estava na cidade de Jericó. Ele tinha ouvido falar que muitas pessoas o estavam seguindo a Jesus. Muitas pessoas o chamavam de Mestre. Bartimeu sabia das promessas de Deus no Antigo Testamento, de que um dia Deus enviaria um descendente do rei Davi, que iria ocupar o trono de Israel e expulsar todos os dominadores estrangeiros. Israel seria próspero de novo, assim como foi no tempo do rei Davi. Por isso, quando ele escuta que Jesus está passando pela estrada, ele começa a gritar: Jesus de Filho de Davi. E as pessoas imediatamente mandam que ele se calasse. Pois também os soldados romanos sabiam que essa expressão FILHO DE DAVI era uma expressão política da oposição.
Mas Bartimeu não para de gritar: Jesus, Filho de Davi, tem compaixão de mim. É o grito de um marginalizado, que pede que esse líder Jesus lhe escute. Muitas pessoas querem abafar o grito desse marginalizado Bartimeu. Querem que ele se cale. No entanto, o grito de Bartimeu é um grito politico. Ele deseja que as autoridades o ouçam, que as autoridades parem para ver a situação de marginalidade. Quanto mais gritava, mais as pessoas o constrangiam e o repreendiam para que calasse suas opções políticas. Essa gritaria do marginalizado e o alvoroço daqueles que o estavam reprimindo chama a atenção de Jesus . E Jesus pára e manda chamar o cego.
Bartimeu se levanta imediatamente – de um salto. Atira para longe a sua capa e, depressa, vai ao encontro de Jesus, como se já estivesse enxergando. . Parecia que Bartimeu já estava enxergando que a sua vida iria mudar dali para frente.Com aqueles gritos Bartimeu chamou a atenção para a sua situação social, para a sua dor. Com o seu grito, Bartimeu conseguiu chamar a atenção das lideranças para que olhassem para a situação dos marginalizados. E quando Jesus escuta os seus gritos, Jesus pára e o chama.
À pergunta de Jesus então é: Que queres que eu te faça? Bartimeu responde: Mestre, que eu torne a ver!, ou, literalmente: Eu quero abrir os meus olhos!
Bartimeu sabe exatamente o que ele deseja. O diálogo entre Jesus e Bartimeu é curto:
- Vai, a tua fé te salvou, disse Jesus, e - imediatamente - Bartimeu começou a ver.
Jesus disse: Vai, você está curado porque teve fé. Mas Bartimeu não foi a lugar nenhum. Ao contrário, ele começou a seguir a Jesus. Ele não quer ir para longe desse Filho de Davi. O Evangelho de Marcos nos mostra que a primeira pessoa que começou a seguir – conscientemente – a Jesus foi Bartimeu. Os discípulos foram chamados por Jesus para que o seguissem. Bartimeu decide ele mesmo seguir a Jesus, mesmo que Jesus o tivesse mandado embora. A fé e a gratidão pela bêncão que Jesus lhe concedeu transformou o Bartimeu em seguidor de Jesus. Esse é o líder que nós precisamos. Um líder que escuta os marginalizados.
O Evangelho parece nos dizer que a nova vida para os marginalizados somente vai ser possível com o grito dos próprios marginalizados. Assim como foi com Bartimeu, também hoje muitas pessoas querem abafar esse grito dos marginalizados. Também hoje o grito dos marginalizados é um incômodo.
Mas Bartimeu não aceita a sua condição de marginalizado. Ele corre em direção a Jesus e Jesus lhe pergunta:
- O que queres que eu te faça?
- Mestre, eu quero ver de novo. Ele quer decidir seu próprio destino. Ele não quer viver das esmolas de ninguém. Ele quer ter a possibilidade de decidir a sua própria vida.
Jesus mesmo confirma, que isso é possível pela fé que se fez grito, salto e rebeldia. Somente quem tem fé em Deus é capaz de reconstruir a sua própria vida, de reconduzir o seu próprio destino. Jesus o despede já com a vista restaurada: Vai, a tua fé te salvou (v. 52). E Bartimeu não vai embora. Essa mudança que ele sentiu, de um mestre que ouviu o seu grito, que olhou para sua situação e o retirou de sua situação de marginalizado, a esse Jesus que escuta os clamores dos pobres, a esse Jesus ele quer seguir.
Outras pessoas precisam ouvir a sua experiencia. Outras pessoas também precisam sentir que Jesus ouve os clamores dos marginalizados. Por isso, ele não vai embora, mas segue a Jesus para dizer: Eu gritei – gritei muito – e o mestre Jesus me ouviu e então as coisas melhoram para mim.
Prezada Comunidade: Vejam que belos ensinamentos nos deixa o Evangelho de hoje.
1- Quando Jesus ouve o clamor dos marginalizados ele pára. Parece que não tem jeito: Quando os pobres clamam a Jesus, ele ouve e a compaixão se remexe dentro dele. E mais: Alguma resposta ele dará!
2- Quem crê se ergue!
Ainda sentado, Bartimeu grita por Jesus. E ao ser chamado por Jesus, ele se ergue. Ele se ergue de maneira muito decidida! Vejam bem, ele não se ergue após ser curado da cegueira, mas antes! Pela fé podemos nos erguer, ainda que doentes, ainda que frustrados, ainda que desempregados, marginalizados.
3- Quem crê tem nova visão!
Ao falar com Jesus, Bartimeu pede para ver de novo. Ele deseja uma nova realidade, uma mudança para sua situação de marginalizado.
4- Quem crê em Jesus faz uma nova caminhada!
Depois do milagre, da mudança de vida, Bartimeu seguiu a Jesus estrada fora. Ele não abandonou a Jesus. Ele quer dar o seu testemunho aos marginalizados. É necessário gritar muito para que as lideranças ouçam e vejam a situação dos marginalizados. E quando a liderança nos escutar é preciso dizer claramente: Os pobres não querem mais esmolas, queremos uma mudança de vida.
Esses são os ensinamentos que o Evangelho nos traz hoje. Mas para que essa história realmente se faça realidade para nós hoje, devemos nos perguntar. Com quem nós nos identificamos: Com o cego Bartimeu ou com as pessoas que querem que ele se cale?
Estaríamos nós dispostos a nos levantar, - isto é - a nos solidarizar com os marginalizados e aceitar que Jesus mude nossa maneira de ver as coisas e a aceitar seguir por um novo caminho?
Que a luz de Deus nos dê uma nova visão das circunstâncias que estamos vivendo. Amém.
Oremos:
Ó Deus, Pai de bondade, que nos criaste para caminhar, para sair ao encontro dos demais e de ti e que abres diante de nós o caminho que devemos percorrer. Nós te pedimos que ilumines nossos olhos para que possamos caminhar sem tropeço e ajudar otro@s a caminhar também. Por Jesus Cristo, nosso Senhor. Amém