No meu tempo de infância, nos finais de tarde de verão, eu gostava de correr e brincar na chuva. Com muita insistência, eu conseguia convencer os adultos a permitir que eu me molhasse. Mas havia uma recomendação: Só um pouco, logo você deve tomar banho e se recolher. Para aproveitar ao máximo o pouco tempo que tinha, corria e rolava nas poças de água formadas no gramado de nosso jardim.
De acordo com uma teoria, o Carnaval seria a última oportunidade de diversão e de ingestão de carne antes do longo jejum da Quaresma. A palavra carnaval teria sua origem no latim carne vale significando: Carne, adeus! O Carnaval, também chamado de Entrudo pelos portugueses, foi trazido pelos mesmos ao Brasil. O Entrudo português era constituído de brincadeiras, de correrias, mela-mela de farinha, ovos e água mais tarde substituídos por batalhas de confetes, serpentinas e lança-perfumes.
Outra teoria localiza a origem do Carnaval nas antigas festas em honra ao deus Dionísio (Baco). A palavra carnaval viria de carrus navalis (um carro, com um enorme tonel, distribuía vinho ao povo). Sabe-se também que, na antiguidade, os povos se reuniam com os rostos mascarados e os corpos pintados para espantar os demônios das más colheitas. Os gregos festejavam a volta da primavera, simbolizando o renascer da natureza.
A fusão de todas essas antigas tradições, envolvendo festas na mesma época, pode ter dado origem ao Carnaval que hoje conhecemos. No entanto, ele se afastou radicalmente da intenção pré-quaresmal de uma última diversão antes do silêncio e jejum. O Carnaval tem acentuado mais as orgias dionisíacas, dando vazão à malícia e à sensualidade, tão promovidas pela mídia.
Em 1890, o poeta Olavo Bilac afirmou que o Carnaval desapareceria porque aquilo que só se fazia durante três dias do ano, passou a ser feito o tempo todo. Agora, a prostituição cresce livremente, ao ar pleno, ao sol claro, como uma grande flor rutilante. Para Bilac, o Carnaval era não mais nem menos do que a apoteose da prostituição, da embriagues e do descaramento, a glorificação do impudor (Veja - 06.02.08, pág. 106).
Afinal de contas, um cristão pode se divertir no Carnaval? Para opor-se ao Carnaval, muitos cristãos se apóiam em I Coríntios 6.12 (Tudo me é lícito, mas nem tudo convém). No entanto, cabem algumas ponderações para não se cair em extremismos: O cristão saberá ser contrário ao Carnaval-sexo, ao Carnaval-bebedeira, ao Carnaval-falta de respeito. Ao cristão é permitido alegrar-se e expressar essa alegria corporalmente. Usando os critérios bíblicos da sobriedade e do amor, o cristão saberá escolher bons ambientes que possa freqüentar (que tal um encontro familiar e com amigos, um retiro...).
Pastor Geraldo Graf
Publicado na edição 81 do Informativo dos Luteranos - fevereiro/2009