E então falou uma pedra
eu digo-vos que se estes se calam, as pedras vão gritar. (Lucas 19:40)
Gerardo Carlos C. Oberman
Crescia o silêncio naqueles dias.
Antes do grande silêncio.
Calaram os hosanas,
A caminho das rotinas incapacitantes.
De povo submetido e acovardado.
Calaram os clamores esperançosos
Na vida nova e na terra justa.
Onde a dignidade deixava de ser utopia.
Calaram os amigos, os companheiros,
Calaram os pedros e os joãos.
Enquanto o mestre chorava a sua solidão.
Jesus é preso, torturado e crucificado.
No meio de todos esses silêncios,
A partir do ódio, da incompreensão,
Do medo de perder privilégios,
Do medo de que a religião fique sem dogmas,
Do pavor dos hipócritas.
Que viam desmascaradas e expostas
As suas ambições e a sua moral de ocasião.
Morre esperando o grito dos seus seguidores,
A Palavra profética da sua comunidade nascente,
A reivindicação furiosa de um povo
Que tivesse compreendido a sua proposta
Libertadora e curandeira...
Mas só há silêncio, um silêncio crescente
Que durou até a madrugada
Do primeiro dia da semana.
E então falou uma pedra,
Cansada do silêncio cúmplice
Diante das mortes injustas.
Falou uma pedra
E saiu do seu lugar de opressão;
Incentivou a libertar a vida e a soltar a luz
E a anunciar que a palavra voltaria a falar.
E a ressuscitar em todas as vozes
Que a se fará mais forte que à imposição dos silêncios que,
Em todo tempo e lugar,
Calam diante da dor dos inocentes,
Do sofrimento dos pobres,
E da opressão das vidas justas.
Gerardo Carlos C. Oberman