Domingo Cristo Rei?
Podemos encontrar, também na liturgia protestante, a referência ao último domingo do ano eclesiástico como o domingo do Cristo Rei. Mas falar de Cristo Rei é cada vez mais complicado. Vejamos, por que?
A origem desta festa ao Cristo Rei foi estabelecida em 1925, pelo Papa Pio XI, com uma intencionalidade muito clara, que o catolicismo deveria ser a religião oficial dos estados cristãos. É preciso lembrar que o Papa Pio XI não foi nada ecumênico. A criação desta festa tinha uma conotação política de grandiosidade. Para o Papa Pio XI, ao confessar a Cristo como Rei Universal, se queria vincular a igreja católica romana como sua única representante sobre a terra. A realeza reconhecida de Cristo deveria inevitavelmente fazer com que se respeitasse a igreja romana. E mesmo que a igreja romana não governasse diretamente os países, ela deveria ter uma estreita e harmoniosa colaboração com os poderes políticos.
Também o conceito de monárquico não combina com a organização política na maioria dos países de hoje. A maior parte dos países são repúblicas e mesmo nos lugares onde persiste a monarquia, ela deixou de ser clássica e se adaptou a uma forma democrática chamada de parlamentarista. Mas mesmo assim, é cada vez mais difícil falar de Deus e de Cristo como um rei e de seu projeto como um reino. Uma comunidade modelo pode ser comparada a uma monarquia? Ou uma família? Alguns teológ@s estão sugerindo que come;emos a falar em Projeto, em utopia de Deus, em democracia de Deus.
Uma terceira dificuldade está na questão de gênero. A teologia feminista vem rechaçando a expressão machista God’s Kingdom, que se refere a um king, não a uma queen.
Mesmo assim, seria interessante também ressaltar algumas questões teológicas sobre essa problemática:
1) Jesus nunca se proclamou rei. Quando Poncio Pilatos perguntou a Jesus se ele era o rei dos judeus, Jesus responde: Isso é você que está dizendo, não eu (Joao 18.37). O que Jesus fez foi colocar-se à serviço do Reino de Deus. O Reino de Deus era o seu “leit-motiv”, o estribilho da vida de Jesus, o centro de sua pregação, o motivo dos seus milagres, a razão de sua fidelidade até a morte e morte de cruz. O compromisso e a fidelidade a Deus dirigiram a vida de Jesus. O que dirige a minha vida?
2) Se Jesus não foi rei e nem se proclamou sendo rei, qual é o sentido em que nós o proclamemos assim?
3) Qual a relação entre Cristocentrismo ou reinocentrismo?
4) O Novo Testamento fala da aclamação ou da espera de um Messias, um libertador. Hoje, quando se fala na vinda de um Messias ou de um rei, na verdade não se espera nada.
5) A chamada parábola do juízo final (Mateus 25.31-46) nos diz que o critério com que seremos “examinados” não é o dos títulos pomposos e teologicamente incoerentes, como esse de chamar a Jesus de rei.
Talvez devêssemos regatar que na liturgia protestante, o último domingo do ano eclesiástico é chamado de Domingo da Eternidade.