Há poucas semanas, os meios de comunicação deram amplo destaque à declaração do bispo de Olinda sobre o aborto. O fato por trás da notícia era a decisão tomada pelos médicos de realizar o aborto de gêmeos em uma menina de nove anos, que fora estuprada pelo próprio padrasto. Segundo a legislação brasileira, o aborto é permitido somente em casos de estupro e/ou de risco de morte para a grávida. O bispo condenou os médicos, a menina e a mãe desta, citando o direito canônico da Igreja Católica. O religioso declarou que se excomunga quem pratica qualquer tipo de aborto, pois se trata de um crime contra a vida.
Façamos um pequeno exercício mental: imagine uma menina com aproximadamente nove anos. Pense na alegria que ela despertou nos seus pais quando nasceu. Pense na mãe dela. Quantas noites ela passou em claro quando a menina estava enferma e necessitava de cuidados especiais. Pense na menina quando ela foi batizada. Como foi bom acolhê-la na comunidade. Pense nela quando ela foi à escola pela primeira vez, o quanto chorou por não querer sair de perto da mãe; pense na sua exultação quando voltou da escola contando sobre as novas amizades. Pense nas bonitas conversas ao redor da mesa do jantar, nas muitas perguntas sobre Deus, vida e até sobre sexualidade. Agora pense naquele dia em que um homem a violentou. Pense no choque ao descobrirem que estava grávida e de gêmeos. Pense na angústia de seus pais ao receberem a comunicação dos médicos de que a menina corria sério risco de morte. Pense no conflito de consciência dessas pessoas em ter que autorizar o aborto.
Agora... Pense que essa menina poderia ser a sua filha!
Percebemos que é muito fácil fazer julgamentos quando se trata da tragédia dos outros. Nosso juízo muda quando o problema passa a ser nosso.
Nossa missão é defender a vida e não concordar com a prática de abortos irresponsáveis e clandestinos. Aliás, o problema é bem mais amplo, pois teremos que incluir a discussão sobre as relações sexuais irresponsáveis e violentas. Recomendamos cautela com os pré-julgamentos. É preciso analisar caso a caso sob a luz do Evangelho. Muito antes de julgar, devemos acolher e oferecer nosso cuidado aos que são atingidos por tais tragédias, aos que precisam tomar decisões difíceis e imediatas, aos que carregam um peso de culpa muito grande por causa de tais decisões extremas.
Somos a favor da vida, de uma vida digna e plena para todos, de acordo com a vontade de Cristo.
Pastor Geraldo Graf
Publicado na edição 84 do Informativo dos Luteranos - maio/2009