Em 1995 realizei um retiro com o grupo de jovens em que nos ocupamos com o tema morte. O grupo tinha integrantes dos 16 aos 26 anos e lembro que não foram poucos os que manifestaram nunca terem pensado no assunto por diversas razões: nunca haviam perdido alguém muito próximo, nunca haviam participado de um velório, contavam com a lei natural de que a morte é destino certo somente depois que se alcança determinada idade... Continuei acompanhando a vida de muitos desses jovens e, vez ou outra, acabei encontrando alguns em sepultamentos, inclusive de crianças e de jovens da sua idade.
A morte faz parte da vida e ignorar esse fato pode tornar ainda mais difícil o enfrentamento quando ela, sorrateiramente, arrancar de nós alguém sem cuja presença nunca nos imaginamos.
São tantos os sinais de morte ao nosso redor e tantas as ameaças constantes à vida (crescentes índices de acidentes no trânsito, mortes em tragédias naturais ou decorrentes de balas perdidas, novos vírus ou bactérias que surgem e que ceifam vidas), mas continuamos achando que isso só acontece com os outros.
Enquanto pensarmos assim, perdemos a grande oportunidade de aprender o que a realidade da morte - por mais que a repudiemos - tem a nos ensinar: a vida é uma dádiva que não nos pertence! Deus a dá graciosamente e somos apenas administradores quanto ao seu uso. É como se vivêssemos de aluguel sem um contrato com prazo determinado; a qualquer momento o proprietário poderá querer seu bem (o sopro de vida) de volta.
A realidade da morte presente neste mundo está sempre dando alguns sinais pedagógicos de que nada do que temos ou vivemos durará para sempre. Vale a pena ler o Livro de Eclesiastes e nos defrontar com a sabedoria antiga e suas reflexões sobre a fugacidade da vida! Assim como a natureza passa por mudanças ao longo das quatro estações do ano, as paixões vêm e passam, muitos relacionamentos têm início e fim, os bens estragam, novos amigos vêm e vão... E o que podemos fazer diante disso? Simplesmente viver! Mas viver conscientes de que nosso tempo com tudo o que nos cerca tem prazo indeterminado, não eterno, por isso, não deve ser desperdiçado. O nosso apego à vida e ao que temos e somos não deve ser maior do que a certeza de que tudo isso é apenas emprestado e passará.
Jesus procurou fazer com que seus discípulos entendessem isso quando falou que aquele que planta e faz planos com a colheita ignora o que lhe pode acontecer nessa mesma noite e quando ensina que é preciso gastar a vida com o Reino de Deus (Lc. 12.16-31). Por isso: Semeie de manhã e também de tarde porque você não sabe se todas as sementes crescerão bem, nem se uma crescerá melhor do que a outra (Ec 11.6).
P.a Aneli Schwarz
Publicado na edição 78 do Informativo dos Luteranos - novembro/2008