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ID: 363

Como afrontar as divergências na igreja?

2 Coríntios 4.13-5.1

10/06/2018

Prezada Comunidade
Estimados rádio-ouvintes:

Corinto era uma cidade grega de grande importância. Ela ficava bem próxima de Atenas, a grande capital da Grécia. Corinto era uma cidade banhada por dois mares e, por isso, era um dos mais importantes portos da época do apóstolo Paulo. Portanto, a cidade de Corinto era cosmopolita. Lá tinha gente de diversas partes do mundo.

Era uma cidade muito movimentada, com pessoas disputando espaços, criando possibilidades e modelando um jeito de vida na cidade grande. Havia um intenso comércio, as mais variadas profissões, categorias sociais, expressões sociais, culturais e religiosas. Para que alguém participasse de alguma religião, as possibilidades eram amplas e diversificadas.

O apóstolo Paulo morou 18 meses em Corinto e começou a formar ali uma pequena igreja cristã. Mas isso não foi bem visto pelos judeus-cristãos, como o apóstolo Tiago e o apóstolo Pedro. Naquele tempo, os judeus- cristãos consideravam o cristianismo como uma seita dentro da religião judaica. Por isso, para tornar-se cristão as pessoas deveriam primeiro aceitar a religião judaica. Isso significava colocar-se sob as autoridades da religião judaica. Estudar as leis do judaísmo e realizar todos os rituais de purificação e de adesão ao judaísmo, inclusive a circuncisão. O local apropriado para o estudo e a preparação de novos cristãos era a sinagoga.

Conforme os judeus-cristãos, somente podia falar e ensinar algo sobre Jesus quem fosse credenciado pelo grupo dos judeus-cristãos. Eles se consideravam as únicas autoridades da igreja, porque eles foram discípulos de Jesus Eles conheceram e conviveram com Jesus e por isso diziam ser a autêntica autoridade da igreja.

Esse grupo de judeus-cristãos tinha um problema com o apóstolo Paulo. Eles diziam que o apostolo Paulo não tinha a mesma autoridade que eles, porque o apóstolo Paulo não foi discípulo de Jesus. Além disso, o apóstolo Paulo não ensinava nas sinagogas, mas ia nas casas das pessoas e ele também não exigia que as pessoas obedecessem a religião judaica antes de se tornarem cristãos.

O apóstolo Paulo se defendia dizendo que era verdade – ele não foi um discípulo de Jesus – mas ele creu primeiro para depois falar. Por isso, ele fala a partir de sua fé. Para o apóstolo Paulo, mais importante que decorar leis judaicas era reconhecer que Deus quer despertar em nós a fé em Jesus Cristo. Assim como Deus ressuscitou a Jesus entre os mortos, assim Deus também vai ressuscitar a todas as pessoas que nele crerem e vai levar a todos os ressuscitados para junto dele no céu. Por isso, os problemas do mundo podem nos fazer sofrer, mas a fé em Deus sempre vai nos animar, quando cremos em Deus nada nos poderá separar do amor de Deus que está em Cristo Jesus. Nós podemos perder tudo nessa vida, mas ninguém nos poderá tirar a nossa fé e os benefícios que Jesus nos conquistou com a sua ressureição. Portanto, os sofrimentos desse mundo não são um castigo de Deus, mas nós devemos lutar contra o sofrimento, porque o que vemos com os nossos olhos aqui nesse mundo não é nada comparado ao que Deus nos dará no céu. Pela fé em Jesus, a morte não nos separa de Deus, A morte apenas nos liberta do sofrimento dessa vida para nos levar para mais perto de Deus. As igrejas fundadas pelo apóstolo Paulo cresciam e se multiplicavam em pequenos grupos, que se reuniam nas casas. Eram grupos muito semelhantes aos grupos de estudo bíblico que nós temos hoje.

Portanto, a palavra de Deus nos quer falar hoje sobre a missão da igreja cristã e a correta maneira de lidar com as dificuldades e as divergências na igreja.
A missão da igreja é evangelizar – é falar do amor de Deus. Mas o anúncio do Evangelho não pode estar atrelado a uma cultura. Evangelizar não é exigir mudanças culturais. Para o apóstolo Paulo isso estava muito claro: anunciar o Evangelho não significava obrigar as pessoas a aceitar os costumes dos judeus. Também hoje as igrejas não deveriam Evangelizar para tornar as pessoas adeptas a sua denominação. Para o apóstolo Paulo, o que importa é relacionar a mensagem de vida do Evangelho com as preocupações, as angústias, os medos das pessoas. Evangelizar é conseguir falar ao coração das pessoas.

Uma segunda coisa importante sobre evangelizar é que a igreja deve ir ao encontro das pessoas no seu trabalho, nas suas casas, no lugar onde elas estão. Jesus quer estar presente no dia-a-dia das pessoas. O templo é o local de encontro de todos, mas as pessoas precisam reunir-se em suas casas. Elas precisam compartilhar seus problemas e apoiar-se uns aos outros. Isso significa viver em Comunidade. Na comunidade a palavra de Deus quer nos lembrar que não estamos sozinhos. Na comunidade alimentamos nossa fé, pois quando nos reunimos em culto somos constantemente lembrados que Deus sempre realiza a sua promessa.

Mas, além dos cultos na igreja e dos estudos bíblicos nas casas, o apóstolo Paulo também enfatizava que Jesus quer estar presente na vida das pessoas, nas suas lutas pelo pão de cada dia. Por isso, uma pessoa cristã deve dar testemunho da fé também fora da igreja. Isso significa participar dos movimentos sociais e reivindicativos. Por exemplo, ser solidário com os professores que lutam por uma melhor educação, ser solidário com o pessoal da saúde que luta por assistência médica de qualidade nos serviços públicos de saúde. Até mesmo apoiar e fazer greve – também isso não é algo ruim. Aliás, a greve demonstra que existe algo ruim que precisa ser melhorado. A greve demonstra que o sistema tem um problema. E é esse problema que precisa ser corrigido.

Portanto, o apóstolo Paulo falava mais de Deus como o Deus da Vida. O Deus que ressuscitou a Jesus da morte porque Deus não se conforma com o sofrimento de ninguém. Para o apóstolo Paulo, evangelizar era tornar as pessoas mais ativas nesse mundo. Deus é o Deus da vida e ele quer que essa vida aqui na terra já seja uma vida melhor.

Somente devemos ter um cuidado.
O que uma pessoa cristã não pode fazer é apoiar grupos ou regimes autoritários que só falam em repressão, violência e que querem resolver as coisas com a morte. Não podemos esconder que o Brasil é um dos países mais violentos do mundo. No ano passado foram assassinadas 60 mil pessoas. Nem na Síria, que está em guerra, morreu tanta gente. É claro que precisamos mais segurança, mas isso não se resolve com intervenção militar. O Rio de Janeiro é um exemplo disso. A violência e os assassinatos não diminuíram com a intervenção. Durante essa semana que passou um dos delegados que está investigando o assassinato da vereadora Marielle e do motorista Anderson desabafou: No Rio de Janeiro não existe estrutura para avançar nas investigações. A absoluta maioria dos assassinatos fica na impunidade porque a polícia não tem estrutura para investigar. Portanto, o que precisamos melhorar não é a repressão, mas sim as estruturas de punição da criminalidade.

Foi preciso muito diálogo entre o apóstolo Paulo e os judeus-cristãos para se chegar uma unidade que valorizasse as duas coisas: a devoção a Deus e o cumprimento das leis religiosas e o testemunho público do Deus da Vida. Aceitar que Deus ressuscitou Jesus dos mortos e com isso Deus derrotou todos os poderes da morte. A morte já não tem mais a última palavra sobre o ser humano. Deus é um Deus da Vida, por isso ele quer que todos nós defendamos a vida de toda a criação de Deus. E a cruz de Cristo deve sempre lembrar-nos dos sofrimentos e das dores das pessoas. A cruz está vazia de Jesus - porque já ressuscitou - mas ela ainda está cheia de pessoas cujos sofrimentos e dores devem despertar em nós a solidariedade e o desejo de lutar contra os poderes da morte.

Através do diálogo, os dois grupos perceberam que um não estava contra o outro, mas que um complementava o outro. Na igreja devemos louvar a Deus no culto, mas também podemos falar e tratar dos problemas pessoais e dos problemas sociais. Esse é o Evangelho integral.

Martim Lutero certa vez falou sobre as pinguelas para explicar o comportamento cristão. No século XVI não havia grandes pontes como hoje. As pinguelas eram muito usadas na travessia dos rios. Eram estreitas. Davam passagem para uma só pessoa ou animal pequeno de cada vez. Não dava para encontrar-se no meio da pinguela. Alguns animais também usavam pinguelas para atravessar os rios. Observava- se que, quando duas cabras se encontravam sobre a pinguela, elas tinham um comportamento significativo. O que faziam? Ir para trás? Elas não conseguem ir para trás. Virar-se e voltar? Elas não podem se virar. Passar lado a lado? Não podem passar lado a lado, pois a pinguela é muito estreita. Lutar uma contra a outra? Se elas lutarem e derem cabeçadas uma na outra, ambas podem cair no rio e afogar. O que elas fazem então? O que a natureza lhes ensinou? Uma se abaixava, e a outra pulava por cima. Assim, as duas podiam seguir tranquilamente seu caminho.

Martim Lutero dizia que assim deveria ser o comportamento de uma pessoa diante da outra. O orgulho e a arrogância trazem solidão e morte, mas a humildade edifica bons relacionamentos e amizades. Antes de arrogantemente se enfrentar, guerrear e se destruir, as pessoas deveriam dialogar, clarear as diferenças. No caso da 2ª Carta aos Coríntios, o apóstolo Paulo buscou o diálogo. Diante das divergências ele não propôs quebrar os pratos – romper com as pessoas que pensavam diferente dele sobre o que é evangelizar. Mas ele dizia assim: “Não pregamos a nós mesmos, mas a Cristo Jesus como Senhor e a nós mesmos como vossos servos, por amor a Jesus” (2 Co 4.5). Essa é a proposta e o desafio que a Palavra de Deus nos traz hoje. Amém. 
 


Autor(a): Nilton Giese
Âmbito: IECLB / Sinodo: Sudeste / Paróquia: Belo Horizonte (MG)
Área: Confessionalidade / Nível: Confessionalidade - Prédicas e Meditações
Área: Comunicação / Nível: Comunicação - Programas de Rádio
Testamento: Novo / Livro: Coríntios II / Capitulo: 4 / Versículo Inicial: 13 / Versículo Final: 18
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Prédica
ID: 47538
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