A Ceia em Emaús de 1601 é uma das principais pinturas a óleo do artista barroco italiano Caravaggio (1571-1610). Uma das características do barroco – movimento da Contra Reforma – foi que a pintura não tinha o objetivo de ilustrar, mas seu objetivo agora era impressionar e instigar a curiosidade das pessoas. Caravaggio era o mestre do tenebrismo, a qual consiste na aplicação de um fundo escuro, muitas vezes completamente negro e incidência de focos de luz sobre os detalhes, normalmente nos rostos.
A cena reflete o instante no qual Jesus abençoa a refeição, revelando-se aos seus interlocutores e que retribuem com expressões de espanto ou de choque. Embora Jesus conste no centro da ação, o alvo da atenção é espanto dos dois discípulos. Os movimentos dos bracos e da boca dos que estão na cadeira mostram que eles tomaram um susto.
Jesus não surge aparentando ser uma divindade, nem mesmo aparece com a barba da crucificacão. Sua aparência tem características andrógenas (masculino e feminino), que simboliza a promessa de vida eterna e de harmonia, entendido aqui como a união dos contrários.
O ambiente parece ser de taberna. (Caravaggio era conhecido como farrista e foi numa briga na taberna que ele matou um jovem em 1606. Por isso teve que fugir de Roma e teve sua cabeca à prêmio). O taberneiro parece nem estar aí, com expressão de quem não está entendendo nada.
Os discipulos: um com o cotovelo dobrado, como quem quer se levantar da cadeira. A sua posicão de costas ajuda na inclusão do espectador que olha a pintura. O outro com uma concha sobre o peito, o que caracteriza sua condicão de peregrino - daqueles que empreendem a viagem pela fé. Ele estende as suas maos, num gesto que desafia a perspectiva (unido a luz com as sombras) e faz referencia a crucificacão de Jesus. Sobre a toalha branca, existem iguarias (a carne, a fruta) mas também em destaque encontramos o pão e o vinho. A mesa da taberna em Emaús transforma-se na mesa da última ceia de Cristo, um altar. O pão e a jarra de vinho lembram a Santa Ceia. A cesta de frutas, pintadas com suas imperfeições e colocada perigosamente na borda da mesa, quase caindo. A uva negra (símbolo de morte), a uva branca (símbolo de ressurreição), as romãs (símbolo da paixão de Cristo), as maças (pecado original) e o peixe sobre a mesa (símbolo cristológico).
No entanto, essa pintura não foi bem aceita e cinco anos depois, em 1606, Caravaggio pinta uma segunda versão da Ceia de Emaús. Nessa segunda versão os gestos estão mais contidos, fazendo que a presença de Jesus seja mais importante que a interpretação.