Belo Horizonte, (MG), 13 de novembro de 2015.
Estimad@s colegas,
Estimado P. Sinodal Geraldo Graf:
Nossos pensamentos continuam tomados pela catástrofe no distrito de Bento Rodrigues, município de Mariana(MG). A mineração é uma atividade altamente agressiva e de elevado risco ambiental. No entanto, as informações são de que nem a empresa, nem o município fizeram o plano de contingência recomendado. Sirenes não foram instaladas para a eventualidade de um desastre e as famílias se queixaram de que até o domingo 08 de novembro (três dias depois), não haviam sequer sido recebidas pela Samarco. Atualmente, grande parte das 700 famílias que perderam tudo, está hospedada em hotéis e na casa de parentes. Elas ainda não podem voltar para suas casas em ruinas, porque a área atingida continua isolada. Como sabemos o desastre se estendeu também para outras cidades de Minas Gerais e do Espírito Santo.
Qual é o papel das igrejas nesses momentos? Claro que a oração, o kyrie eleison e a solidariedade imediata são atitudes que sempre devemos praticar. Porém, em situações de catástrofes sempre há dois momentos muito importantes.
O primeiro momento é de ajuda imediata, de mobilização urgente para resgatar vidas, enviar recursos, alimentos, primeiros socorros. Geralmente é o momento da ajuda nacional (e internacional) que se faz visível através dos governos, igrejas ou organizações não-governamentais. No caso de Mariana, foram muitas as doações, ao ponto de a prefeitura pedir que se suspendesse a doação de alimentos e aceitar somente doações em dinheiro.
A medida que passam os dias (e já faz uma semana), chega o segundo momento que é o da reconstrução. Reconstrução não significa somente levantar paredes. Também significa reconstruir vidas, reconstruir esperança. As catástrofes produzem muitos questionamentos, inclusive em relação ao poder de Deus. Nesse momento surgem perguntas de todo o tipo: Se Deus é bom, porque Ele permite que essas coisas aconteçam? Estamos sendo castigados por Deus pelos nossos pecados?Por que eu não mereci o cuidado de Deus?Perdemos casa, animais e a própria roça foi esterilizada pela crosta de ferro que o barro deixou: O que os responsáveis pela Samarco (a empresa Vale do Rio Doce e a empresa australiana BHP) farão para proteger e indenizar as famílias das vítimas? Que plano eles tem para conter os efeitos do desastre e descontaminar a área afetada?Não seria melhor ir embora desse lugar?O que a comunidade quer reconstruir? Que tipo de sociedade queremos daqui para a frente? Qualquer reconstrução também é a oportunidade de retificar, de fazer mudanças.
Nesse segundo momento, émuito importante a presença e o acompanhamento das igrejas. É o momento de ajudar as pessoas a reencontrar o amor de Deus e não o castigo de Deus. Pensando nos 500 anos da Reforma, não teríamos aqui uma grande contribuição a dar a partir da teologia da teologia da cruz e do Deus absconditus?Já tivemos cursos e seminários na IECLB que apontavam nesse sentido. Não seria o momento de voltar a pensar numa pastoral de consolação?Entendo que não estamos preparados para dar esse acompanhamento. Temos o desejo de ajudar, mas não sabemos o que fazer. Por isso, saber como acompanhar as pessoas em situação de catástrofe é um desafio que precisamos aprender. No caso de Mariana, nesse momento parece que não faltam recursos financeiros para ajudar as pessoas afetadas. O que falta são recursos humanos e pastorais. Por isso, seria muito importante motivar nossas comunidades e nosso Sínodo Sudeste a capacitar pessoas para fazer o acompanhamento a pessoas que passaram por situações de catástrofe. Fica o desafio.
Paz e Bem.
P. Nilton Giese