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ID: 363

A importância de João Batista no ministério de Jesus

11/12/2015

Joao Batista, pintura de Guido Reni  (1575 -1642) pintor do Barroco italiano.

Prezada Comunidade:

Qual foi a importância que João Batista teve na vida de Jesus? Em que sentido a mensagem e o movimento de João Batista prepararam o caminho para Jesus e seu movimento? Gostamos de pensar que Jesus teve plena consciência desde sua infância de que ele era o Filho de Deus, de que ele havia vindo ao mundo para pregar o Reino de Deus e que deveria morrer na cruz, para assim salvar a humanidade. Imaginamos também que Jesus sabia que, a partir de determinado momento de sua vida, ele teria que abandonar a carpintaria de seu pai José, e começar a anunciar a vinda do Reino de Deus. Mas, as coisas foram assim tão simples? Ou será que Jesus precisou da ajuda de outras pessoas para compreender sua tarefa e sua missão no mundo? João Batista parece ter jogado um papel crucial. Todos sabemos que esse pregador do rio Jordão batizou a Jesus. Mas será que a ação de João Batista se limitou apenas ao batismo de Jesus?

Quem era João Batista?
Flavio Josefo foi um historiador do primeiro século da era cristã. É curioso saber que ele dedica mais comentários à atuação de João Batista do que à Jesus. Flavio Josefo menciona a originalidade do movimento de Joao Batista: Aparece no deserto e mesmo assim tem uma extraordinária convocatória. As pessoas vão para o deserto para escutá-lo. João inventa o batismo. A água sempre foi um elemento religioso importante para a purificação, mas antes de João ninguém havia submergido outra pessoa na água em nome de Deus. E por fim, Josefo menciona a novidade do discurso de João Batista, ao dizer que praticar a justiça entre as pessoas é mais importante do que fazer sacrifícios a Deus.

No primeiro século a religião judaica vivia um período de profundo letargo, dominada oficialmente por dois grupos dentro do judaísmo: os fariseus, que eram um partido religioso, e os saduceus, que eram um partido político-religioso.

A situação política opressiva que reinava no país, o cansaço moral pela espera de um Salvador que não chegava nunca, a vida escandalosa da classe governante (supostamente representante de Deus) e a degradação dos próprios sacerdotes do templo (mais preocupados com os seus próprios interesses, do que em animar a fé do povo), tudo isso havia esfriado a devoção das pessoas e desanimado a prática religiosa.

Nesse contexto, aparece João, o filho de um sacerdote do templo, chamado Zacarias. João e vivia no deserto, levava uma vida austera. Vestia-se com pele de camelo e um cinturão de couro, ao estilo dos velhos profetas,, e se alimentava de insetos e de mel silvestre (Mc 1.6). Sua voz se espalhou como um trovão no tranquilo deserto da Palestina. Com um discurso forte, João Batista enfatizou que ser religioso não significava rezar mais e nem correspondia a fazer mais sacrifícios no templo. Ser religioso para João Batista era ter mais compromisso com as pessoas, praticando a justiça e a misericórdia.

A sua pregação sobre o juízo de Deus se assemelhava a dos profetas do Antigo Testamento. A novidade de João era que esse juízo de Deus viria com castigo e era iminente. Em pouco tempo Deus mesmo iria castigar com fogo a todos que não se arrependessem de seus pecados (Mt.3.7-12). No entanto, havia uma possibilidade de escapar desse castigo de Deus, se a pessoas se arrependessem de seus pecados e se dispusesse a uma mudança de atitudes de vida em relação as outras pessoas.

As pessoas que o escutavam, ficavam magnetizados pelo seu discurso. Muitos vinham de longe em busca de seus conselhos. Aqueles que aceitavam seus ensinamentos e se dispuseram para essa mudança de vida, João lhes pedia que recebessem o sinal do batismo no rio (Mc 1.4-5). Esse batismo não se limitava a um ritual de purificação como no judaísmo. A novidade era que requeria um arrependimento e uma mudança ética da pessoa. Já não bastava com dizer “sou filho de Abraão”. O compromisso do batismo deveria “dar bons frutos” em relação a outras pessoas.

O êxito desse fervoroso pregador foi extraordinário. João não ia ao encontro das pessoas, mas as pessoas vinham ao encontro dele. Era muito difícil ficar indiferente. Muitos jovens que se haviam afastado da religião, voltaram a comprometer-se com Deus.

João não pedia nada para ele. Ele também não pregava uma mudança radical nas estruturas sociais e religiosas. O que ele pedia é que cada qual fizesse a sua parte praticando a justiça. A todas as pessoas que ele batizou, ele as enviou de volta a seus lugares, somente pedindo que a partir do batismo fossem justos e realizassem boas obras (Lc 3.8-14).

Mesmo assim, um pequeno grupo se formou ao seu redor. Esse grupo acompanhava seus ritos batismais (Jo. 1.28.35-37), ajudava nas pregações (Jo 3.23), recebia ensinamentos mais aprofundados (Jo 3.26-30) e compartilhava da espiritualidade ascética do jejum (Mc 2,18)e da oração (Lc 11,1).

Jesus vai ver e ouvir o profeta

Também o jovem Jesus foi atraído pela mensagem de renovação espiritual de João Batista e, por isso, viajou de Nazaré até o vale do rio Jordão para ver e ouvir o profeta. Jesus escutou sua mensagem escatológica que pode ser resumida em três pontos:

a) O mundo (a história) está sob a iminência do juízo de Deus.
b) o povo de Israel se afastou da vontade de Deus, e por isso, corre o risco de ser consumido pelo fogo do juízo de Deus
c) é necessário mudar de atitude – viver praticando a justiça e a misericórdia - e confirmar essa mudança com o batismo.

Alguns comentaristas afirmam que provavelmente este encontro com João Batista impressionou tanto ao nazareno, ao ponto de ter despertado nele sua vocação posterior. O batismo de Jesus fez com que ele abandonasse sua vida silenciosa, que até então ele levava em Nazaré. Antes de ser batizado por João Batista, Jesus era um desconhecido.

Jesus aceitou a mensagem de João, da mesma forma que muitos outros judeus, e foi batizado por João, como relatam os Evangelhos (Mt 3.13-17; Mc 1.9-11; Lc 3.21-22). Conforme os Evangelhos sinóticos, no momento do batismo, desceu sobre Jesus o Espírito Santo, proclamando publicamente que Jesus é o Filho de Deus. Depois disso, Jesus se retirou 40 dias para o deserto, como preparação para iniciar a sua missão de proclamar o Reino de Deus. João Batista vivia no deserto. Por isso, o texto parece sugerir que Jesus – por algum tempo - se integrou ao grupo de discípulos de João Batista.

No Evangelho de João (Joao 1.35-57) ouvimos de dois discípulos de João (André e um outro anônimo) que reconhecem a Jesus como um Mestre e começam a segui-lo. Surge assim um novo grupo. Mais tarde eles convidam também a Pedro e Natanael, para seguir ao novo Mestre. Desta forma, reforça-se a suspeita que todos eles pertenciam ao mesmo grupo de João Batista.

Mais adiante, também no Evangelho de João (3.22-4.3), lemos que Jesus e seus discípulos foram para a região da Judéia e ali chegaram a batizar as pessoas. João também estava batizando em Enom, perto de Salim, porque lá havia muita água. Alguns discípulos de João tiveram uma discussão com um judeu sobre e cerimônia da purificação. Então eles foram falar com João:
- Mestre, aquele homem que estava com o senhor no outro lado do rio Jordão está batizando as pessoas.

Parece que, depois do batismo, por algum tempo – Jesus foi discípulo de João. Os discípulos de João sabiam que Jesus havia sido batizado por João e que esteve por algum tempo entre o grupo de João. Agora os discípulos veêm que Jesus saiu do grupo de João, formou seu próprio grupo e começou a batizar por conta, reunindo seus próprios discípulos e fazendo uma espécie de competição, com quem antes foi seu mestre. Somente com essa tela de fundo pode-se entender os sentimentos de frustração e rivalidade do grupo de discípulos que ainda permaneciam com João. Mas Jesus não queria essa rivalidade, por isso continua o evangelho de João: “Quando Jesus ficou sabendo que – ele estava ganhando mais discípulos e batizava mais pessoas do que João, ele saiu da Judéia e voltou para a Galiléia (Jo 4.1-3).

Portanto, temos aqui três relatos que falam que no início da vida pública Jesus, ele também batizou, por algum tempo. E que essa prática havia sido adquirida por seu antigo formador, na época em que ele próprio – Jesus – fez parte do grupo de João.

Mas quanto tempo Jesus ficou no grupo de João Batista? Ao certo não sabemos. No entanto, não deve ter sido por muito tempo, considerando que a vida pública de Jesus durou somente 3 anos. Ao que parece, enquanto Jesus esteve no grupo de João Batista, ele descobriu a sua missão. Sentiu que o Pai o chamava para que anunciasse a presença do Reino de Deus. Assim, Jesus começou a desenvolver seu ministério de forma independente e com um conteúdo diferente.

O movimento de Jesus.

O que separou Jesus de Joao Batista foi o conteúdo da sua mensagem. Para Joao Batista o juízo e o castigo de Deus eram iminentes. A prédica de Jesus, no entanto, não anunciava o castigo de Deus, mas sim a misericórdia e o amor de Deus. Jesus e seus seguidores também mudam de metodologia. Não continuam vivendo no deserto, mas percorrem os povoados e cidades. Jesus também tem uma atitude de vida e espiritualidade distinta de Joao. Não promove o jejum, mas sim comunhão de mesa, comendo e bebendo com os pecadores. Não se refugia no deserto, mas vai ao encontro das pessoas nos caminhos e nos povoados. Desta forma, surge o movimento de Jesus dos Evangelhos.

Certamente Jesus era Deus. Mas ele também foi plenamente humano. E uma das características do ser humano é a lenta assimilação das coisas novas. Jesus parece ter experimentado esta mesma pedagogia, como nos demonstra o Evangelho de Lucas 2.51-52: “Conforme crescia, Jesus ia crescendo também em sabedoria, e tanto Deus como as pessoas gostavam cada dia mais dele”. Os Evangelhos dizem que Jesus era Deus e que dentro dele habitava toda a divindade de Deus. Mas para exteriorizar essa divindade, Jesus devia passar pelas limitações da compreensão humana.

Pensar que Jesus sabia de todas as coisas com total clareza e perfeição, além de não corresponder aos Evangelhos, revela uma concepção simplista do Senhor. Desde que o Filho de Deus se fez ser humano, parece que Deus quis atuar através dele de forma natural, isto é, segundo as características do mundo para o qual havia sido enviado. Por isso, Jesus teve fome, teve sede, calor, sono, alegrias, tristezas e até dúvidas no momento da prisão e crucificação.

Assim como Maria e José foram o fator humano para que Jesus tivesse uma família, assim também parece que Joao Batista foi o fator humano para que Jesus descobrisse sua vocação.

O fósforo e a vela:
Certo dia o fósforo disse para a vela:
- Minha missão é te acender.
- Ah, não, disse a vela. Tu não vês que se me acendes meus dias estarão contados. Não faz uma maldade dessa não.
- Então queres permanecer toda a tua vida assim dura, fria, sem nunca ter brilhado, perguntou o fósforo.
- Mas ter que me queimar. Isso dói. Consome as minhas forças, murmurrou a vela.
- Tens toda razão, respondeu o fósforo, esse é precisamente o mistério de tua vida. Tu e eu fomos feitos para ser luz. O que eu, como fósforo, posso fazer é muito pouco. Mas se passo a minha chama para ti, cumprirei com o sentido de minha vida. Eu fui feito justamente para isso: para começar o fogo. Tu és vela. Tua missão é brilhar. Toda tua dor, tua energia se transformará em luz e calor.
Ouvindo isso a vela olhou para o fósforo que já se estava apagando e disse:
- Por favor, acende-me.
Amém


Autor(a): Nilton Giese
Âmbito: IECLB / Sinodo: Sudeste / Paróquia: Belo Horizonte (MG)
Testamento: Novo / Livro: Lucas / Capitulo: 3 / Versículo Inicial: 7 / Versículo Final: 18
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Prédica
ID: 36216

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