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ID: 20

O Individualismo ainda pode ter lugar na Igreja cristã?

07/02/2020

Graça e paz sejam com vocês. O lema bíblico da primeira semana do mês de fevereiro é um resumo da missão de Jesus. Jesus leu no livro do profeta Isaías: O Espírito do Senhor está sobre mim, pelo que me ungiu para evangelizar os pobres; enviou-me para proclamar libertação aos cativos e restauração da vista aos cegos; para pôr em liberdade os oprimidos. Lc 4.18.

Estamos vivendo numa época em que a simples leitura de palavras de Jesus em que ele define sua missão, são suficientes para que grupos se autoproclamam ou autodefinam e rotulem outros grupos. Uma definição não consegue abarcada a amplitude do cristianismo. Evangelizar os pobres, proclamar libertação aos cativos, restauração da vista aos cegos e libertação aos oprimidos não é tarefa de grupo A ou grupo B, mas é a definição da missão das pessoas cristãs. A cristandade foi revestida de Cristo no Batismo e serve a Cristo.

No Batismo assumimos a missão do próprio Cristo. “Para Lutero, o objetivo do Batismo é tornar a pessoa bem-aventurada. O Batismo nos torna pessoas bem-aventuradas porque realiza em nós o perdão dos pecados e nos une a Cristo.” Somo feitos discípulos e discípulas de Cristo, anunciamos e vivemos do perdão que ele nos dá diariamente. Logo, os ensinamentos de Jesus não podem ser atribuídos a este ou aquele grupo. Evangelizar, libertar pessoas oprimidas em todos os sentidos, é tarefa de todas as pessoas cristãs, faz parte do seu DNA.

Há em marcha uma particularização ou pessoalização de Cristo. Nos afastamos do ensinamento mais elementar de Jesus que encontramos em Mateus 6.9-13 que é o Pai Nosso. No Batismo Deus nos diz: tu és meu, tu és minha. Ele chama cada um e cada uma de nós pelo nome. O chamado é pessoal, mas não individual. Esta compreensão é uma convocação para a realização do Batismo no seio da comunidade. O Senhorio de Cristo vai além do satisfazer os meus desejos pessoais e particulares. Ele ouve nossos gritos de socorro e atende os pedidos conforme julgar necessário. Ele nos deixa ou coloca no mundo exatamente para exercitarmos o ser batizado com outros irmãos e irmãs, num exercício constante de troca de saberes, fortalecendo a fé no único Senhor, Jesus Cristo. Assim, já não é Pai Meu, mas Pai Nosso. Não há mais motivo para nos vangloriarmos do meu Cristo, porque ele é tanto o teu Salvador quanto o meu.

O cristianismo é por excelência uma forma de organização comunitária. É a comunhão de pessoas batizadas que receberam a mesma incumbência, qual seja, perdão e vida nova em Cristo. Na proposta de Jesus não há espaço para exploração de qualquer ordem. Nas palavras de Lutero, o Batismo tem a função de “tronar a pessoa bem-aventurada”. Já não servimos mais a determinado grupo com interesses particulares, mas a Cristo que quer tornar a bem-aventurança comunitária.

A proposta comunitária de Jesus para seus discípulos e discípulas podemos encontrar também como motor na parábola dos talentos em Mateus 25.14-30. A finalidade com que os talentos ou dons foram distribuídos não é guarda-los para si ou enterrá-los, mas trabalhar com eles e fazer com que se multipliquem, trazendo benefício para todas as pessoas. Aqui há uma grande confusão de conceitos. Esta parábola propõe a bem-aventurança para todas as pessoas. Numa linguagem bem simples, nas palavras de Jesus: “tudo o que vocês querem que os outros façam a vocês, façam também vocês a eles; porque esta é a lei dos profetas”. Mt 7.12.

Queridos irmãos e irmãs! Podemos ver essa interdependência também se olharmos para a sociedade. Um único motorista irresponsável no trânsito coloco em perigo todos os demais. A desigualdade social crescente faz toda a sociedade padecer porque há irmãos e irmãs sofrendo para que outras possam viver bem. Esta divisão deve nos levar a rever conceitos em uso, pois diferem do que Cristo nos ensinou no Pai Nosso e quando leu o livro de Isaías com o que identificou seu ministério: O Espírito do Senhor está sobre mim, pelo que me ungiu para evangelizar os pobres; enviou-me para proclamar libertação aos cativos e restauração da vista aos cegos; para pôr em liberdade os oprimidos. Lc 4.18.

Caros irmãos e irmãs! Fomos batizados para sermos bem-aventurados. Jesus nos convida a colocarmos os dons a serviço do bem-estar de toda a comunidade para seu pleno crescimento. Para que isso aconteça, é necessário exercitarmos o diálogo e o respeito com quem pensa de forma diversa. Sejamos construtores de uma sociedade de pessoas bem-aventuradas. Amém.
 


Autor(a): Pastor Jair Luiz Holzschuh
Âmbito: IECLB / Sinodo: Uruguai
Área: Confessionalidade / Nível: Confessionalidade - Prédicas e Meditações
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Meditação
ID: 55027

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