Os gritos dos que trabalham nas colheitas têm chegado até os ouvidos de Deus, o Senhor Todo-Poderoso. Tiago 5.4b
Resido num município do interior catarinense, que fica numa região chamada de “Vale da Produção”; o qual tem sua economia baseada no agronegócio. Especificamente na produção de leite, suínos e aves. E nestes últimos dias acompanho o drama de tantos membros da igreja, produtores rurais, que estão perdendo sua produção em decorrência da paralisação do transporte. Esta paralização ocoontece a nível nacional devido ao preço abusivo dos combustíveis que inviabiliza o trabalho do setor e a corrupção presente em todas as esferas da sociedade brasileira. Cito alguns relatos: um produtor disse que despejou perto de mil litros de leite na esterqueira da sua propriedade. Outro comentou que os frangos estão recebendo a ração fracionada como “lanche”, para mantê-los vivos devido a escassez do alimento. Os produtores de suínos estão começando a alimentar os animais com a silagem das vacas. Uma granja enterrou quarenta mil ovos por não conseguir escoar a produção.
A agonia está estampada nos rostos sofridos destes trabalhadores e trabalhadoras. Todas vítimas de um sistema econômico e político injusto, que explora a classe trabalhadora e sobrecarrega com altos impostos a população brasileira. Sejam agricultores, operários, funcionários públicos, prestadores de serviço ou os transportadores de carga, todos e todas são igulamente atingidos neste tempo de protestos e indignação.
Ao ouvir o desabafo dos produtores, tenho lembrado a eles que, mesmo em meio a tanta injustiça econômica, Deus continua sendo fiel. Ele ouve o clamor do seu povo que sofre com esse sistema injusto, que explora o suor dos trabalhadores e trabalhadoras. É o mesmo Deus que ajudará a carregar também essa cruz, nestes dias de incerteza e depois deles. E por isso, ninguém precisa desesperar, pois o Senhor é maior do que todos os pensamentos e atitudes egoístas de pessoas oportunistas que ganham com o caos e o sofrimento de seus irmãos e irmãs.
Cristo mesmo enfrentou toda espécie de injustiça por amor de nós. Ele nos precedeu, carregando a cruz em nosso lugar. E também dá novas forças para carregarmos a nossa cruz e a cruz de nossos semelhantes, pois triunfou sobre a morte e sobre os poderes infernais. Prometendo estar ao lado dos seus para todo sempre (Mateus 28.20b). E com autoridade disse: “porque eu vivo, vós também vivereis”(João 14.19).
Mas nesta hora também há um tema importante a pautar: por mais difícil que seja o momento, nasce com ele a oportunidade de ensaiarmos a prática da solidariedade. O convite Jesus já nos fez de colocar o amor a serviço dos que sofrem, como fruto da fé que nos liga a Ele. Pois assim como o Senhor ouve o clamor do seu povo, somos por ele chamados a emprestar nossos ouvidos para ouvir o desabafo de quem sofre e encontrar juntos caminhos para uma sociedade mais solidária e fraterna. Necessitamos urgentemente encontrar formas de promover a bondade, a partilha e o serviço aos necessitados. Agricultores e caminhoneiros, somos irmãos na fé e precisamos nos unir cada vez mais. Pois tempo de crise é também tempo de exercitar a fé na prática do bem, como Cristo nos ensinou. Sugiro inclusive a leitura da carta aos Romanos, no capítulo 12. 9 – 21, que recomenda várias virtudes a partir da fé.