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ID: 20

A INTOLERÂNCIA COMO ÉTICA CRISTÃ.

28/10/2016

O título soou estranho? Mas afinal, é isso que vemos em boa parte dos movimentos religiosos cristãos hoje em dia. Não é algo que deveria ser natural ao cristianismo e nem aos seguidores da Reforma. Especialmente se considerarmos que o Cristo não impôs sua pregação aos seus interlocutores. Jesus conversava com as pessoas e até discutia com elas; nunca se negou a uma boa prosa ou debate. E Lutero? Sua vida foi pautada na defesa da Palavra. Tanto que os/as luteranos/as ficaram conhecidos como protestantes.

Vejamos Jesus: em certa ocasião ele mudou de idéia ao ouvir atentamente a mulher cananéia. Foi numa discussão com os fariseus que questionavam sobre o fato dos discípulos não lavarem as mãos antes de comer. Jesus lhes responde com a palavra do profeta Isaías: ‘Este povo me honra com os lábios, mas o seu coração está longe de mim. Em vão me adoram; seus ensinamentos não passam de regras ensinadas por homens’” (Mt 15.8-9). Já a mulher cananéia humildemente se achega a Jesus clamando por misericórdia para sua filha que estava endemoniada. Jesus fala que não é certo tirar o pão dos filhos e dar aos cachorrinhos. Ao que ela responde: “até os cachorrinhos comem as migalhas que caem da mesa” (Mt 15.27). E Jesus muda de idéia e a elogia: Mulher, grande é a sua fé! Seja conforme você deseja” (Mt 15.28). Aqui Jesus dá uma lição nos fariseus que sempre estavam tão certos de suas certezas religiosas. Assim concluímos que Deus pode ouvir, mudar de idéia e incluir quem ele quiser!

E Lutero? Imaginemos um Lutero que ficasse calado diante da situação da Igreja em sua época. Um Lutero que não questionasse o que estava acontecendo. Um Lutero que se enquadrasse naquilo que as autoridades instituídas exigiam dele. Um Lutero conservador, dócil e subserviente. Um Lutero que não debatesse e não ouvisse. Um Lutero que não mudasse várias vezes seu pensamento, cativo à Sagrada Escritura. Um Lutero que não protestasse. Um Lutero sem a Palavra. E então? Certamente eu não estaria escrevendo esse texto e nem você o estaria lendo. Pois, não haveria Reforma!

É um absurdo o que que acontece hoje na nossa sociedade. Disputas polarizadas, compreensões reducionistas e imposição de verdades grassam. As ideologias se confundem com a teologia. Ninguém ouve ninguém. Na verdade, cada um/a tenta impor sua visão aos demais; não raro, ao invés de incluir, querem eliminar ou diminuir quem pensa diferente. Ao invés de diálogos, há monólogos. E as mídias sociais (facebook, whatshap, etc.) incentivam isso. Falta olhar nos olhos, falta conversar de perto, falta sentir o/a outro/a.

O que percebemos em meio a sociedade é que muitos julgam sem critério e se colocam na posição de Deus. Quando Deus mesmo se tornou humano e nos perdoou por graça, absolvendo-nos de nossa culpa. Mas, sabe como é? O pecado do/a outro/a é sempre mais grave que o meu pecado e admitir o próprio erro é algo dolorido”. Há inclusive pessoas e grupos que justificam suas ações e pensamentos manipulando a Sagrada Escritura. É aí que se forma um tipo de ética cristã deturpada pelo mundo que leva a condenar quem pensa, crê ou sente diferente. E assim caminha a humanidade: arrogante, intolerante; querendo assumir, sempre de novo, o lugar de Deus.

No dia 31 de outubro serão 364 dias para a comemoração dos 500 anos da reforma. As igrejas que surgiram desse movimento ficaram conhecidas como protestantes. Mas, não devemos protestar à toa e nem perder a ocasião para isso quando necessário. Hoje, junto com cristãos/ãs de diferentes denominações seguimos o exemplo de Cristo: ponderamos, dialogamos e debatemos e até mudamos idéias. E isto nos leva a olhar criticamente para nossa sociedade e a nos perguntar com Lutero: o que revela a Cristo”? Não somente na sagrada escritura, mas em meio ao cotidiano das pessoas sofridas. Nesse sentido, vivemos pela fé e sob a justiça graciosa de Deus; buscando “juntos/as no caminho o seu Reino (cf Mateus 6.33). Portanto, somos convidados/as a viver uma ética Cristã verdadeira, baseada no amor, que leva à humildade, à tolerância, a inclusão e ao diálogo.


Autor(a): Pastora Neida Inês Altevogt Sander
Âmbito: IECLB / Sinodo: Uruguai
Natureza do Texto: Pregação/meditação
Perfil do Texto: Meditação
ID: 40099

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