Inovador, ousado, pesquisador, animador, companheiro são algumas das marcas do pastor e professor Dr. Milton Schwantes. Nascido no seio de família luterana humilde em Tapera (RS), nunca abandonou sua origem de filho de pequenos agricultores, sempre presente em suas mensagens e pesquisas teológicas.
Na Faculdade de Teologia ele foi descobrindo a Teologia e foi a Heidelberg-Alemanha, onde doutorou com a tese “o direito dos pobres”, em Teologia Bíblica. Quando retorna, traz na bagagem a chave da leitura bíblica a partir dos pobres. Com esse novo jeito de leitura, Milton torna-se mestre para mim e tantos outros. Aprendi com ele uma leitura comunitária da Bíblia, a partir da formação de um povo. Êxodo 1 a 14 foi uma das primeiras portas que ele nos abriu. Traduzimos o texto num seminário de 14 estudantes, onde cada vocábulo e letra do hebraico nos motivava para novas curiosidades e ele nos enriquecia com seus conhecimentos do aramaico. Foi o mestre que abriu portas para o conhecimento que até hoje se alargam para o diferente.
Guardarei o professor Milton Schwantes como um grande construtor de pontes entre as teologias europeia e a latino-americana. Um verdadeiro mestre na teologia acadêmica e ao mesmo tempo alguém que se renovava permanentemente na teologia popular. Com um pé firme nos meios acadêmicos e o outro no presente, saboreando a Teologia encarnada nos movimentos sociais. Hei de conservá-lo vivo na memória como professor e mestre, sobretudo como conselheiro de épocas em que atuei pela IECLB em Rondônia, para servir como pastor de forma ecumênica em comunidades da Amazônia, na Pastoral da Terra e nas pastorais sociais.
Creio que todos que conheceram Milton pessoalmente ou pela leitura de seus livros e textos sabem do valor significativo da sua contribuição na leitura bíblica, na caminhada das Comunidades Eclesiais de Base-CEBs, no ecumenismo e na espiritualidade de uma fé comprometida com a dignidade da vida em plenitude universal.
Deve-se lembrar ainda que, Milton com seu jeito convicto foi capaz de levar a Teologia latino-americana a grandes congressos internacionais e inter-religiosos. Não temia expor suas ideias em grandes debates também perante outras religiões.
Assim, dedico esta coluna, com saudades, e em solidariedade ao pastor e conselheiro, que faleceu no último dia 1° de março em São Paulo. Lembrando que a sua trajetória nesta terra é simplesmente uma vida doada por uma causa de vida em plenitude. Deus vê e Deus ouve! (Gn 12.25), assim reza o título de um dos seus últimos livros.