A adolescente Helena Müller é luterana e participa ativamente da Comunidade Cristo Libertador, de Joinville. Outro dia ela foi desafiada por sua professora de Literatura para escrever um livro. Para cumprir sua tarefa, optou pelo tema “idoso”. Interessante! Ouvi de sua boca que, desde criança, na companhia de sua mãe, visitava um Ancionato; que quando daquelas visitas, ela subia numa cadeira e lia histórias infantis para as moradoras e os moradores da Instituição; que depois de terminadas as leituras, era aplaudida; que tais experiências a teriam impulsionado a entrevistar pessoas da Terceira Idade que vivem em ancionatos; em suas casas ou na companhia de seus familiares.
Ela escreveu de forma amorosa, determinada e corajosa sobre os relatos que ouviu das pessoas idosas. Em geral é assim que as jovens e os jovens não respeitam as pessoas idosas. A Helena respeita. As adolescentes e os adolescentes de nossa sociedade quase não dão atenção às pessoas da Terceira Idade. A Helena se esmera em fazê-lo. Sim, ela comprova o carinho que dispensa às pessoas que adentraram na velhice, enquanto registra suas histórias no seu livro que intitulou “Uma Vida para Recordar”.
O tema “velhice” é muito mascarado pela sociedade que, sempre de novo, tenta mascará-lo como “melhor idade”. Se fosse, realmente, a melhor idade, as pessoas idosas não se queixariam tanto da falta de visitas de seus familiares; da depressão que insiste em lhes fazer companhia e até comprometer sua saúde psicológica, emocional e social. Se a Terceira Idade fosse, realmente, a melhor idade, então as pessoas idosas não se queixariam das doenças que insistem em tomar conta dos seus corpos frágeis e debilitados. As pessoas idosas são, na sua grande maioria, pessoas solitárias, esquecidas, abandonadas à própria sorte. E isso, com certeza, não é a melhor idade ou a melhor fase de suas vidas.
Enquanto lia as entrevistas das pessoas que se dispuseram a contar as suas histórias, eu me lembrei do trabalho que a Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil iniciou em suas Comunidades, e isso, já lá nos idos dos anos 80. Já naqueles tempos se centrava o foco nas pessoas da Terceira Idade. Os grupos de convivência foram sendo construídos sob o eixo da espiritualidade cristã; da ludicidade; da dança; da comunhão e, hoje, eles são realidade em quase todas as Comunidades Luteranas do nosso país. Eu testemunho, sem medo de errar, que os Grupos de Pessoas Idosas promovem a vida; trabalham com a esperança, com a fé e, assim, fazem a diferença na vida das pessoas que são avançadas em dias. Celebrar a vida é preciso.
A leitura deste livro certamente evocará reflexões profundas que, certamente, contribuirão para uma atuação mais humana, solidária e cristã. Os apanhados registrados pela Helena oferecem não só conhecimento teórico, mas experiências práticas da vida vivida num ancionato ou em casa. As histórias de vida são verdadeiras “pérolas” que impressionam e emocionam. Seria de grande proveito se este livro pudesse cair nas mãos do voluntariado e demais profissionais que atuam junto às pessoas idosas.
A nossa sociedade precisa de gente como a Helena que possui um coração solidário, atencioso e amoroso com as pessoas idosas. Eu sei que nas nossas Comunidades existem muitas “Helenas” sensíveis às necessidades e carências daquelas e daqueles que sofrem com a marginalidade imposta pela sociedade em suas vidas.