Na transição de um novo ano não deixa de ser interessante familiarizar-se com as datas festivas pré-fixadas do novo ano. É assim que o calendário assume um rosto mais pessoal e próximo.
A maioria das igrejas cristãs define o ritmo dos dias e meses com base no calendário gregoriano, datado do século 16. Ele divide o tempo em antes e depois do nascimento de Cristo. Vale lembrar que a história das comunidades cristãs em suas origens não esteve atrelada ao ano zero, o ano do nascimento do Filho de Deus. O acontecimento relacionado à Paixão de Cristo e ao evento da Páscoa tornou-se referencial prioritário na vida das primeiras comunidades. A narrativa do nascimento de Cristo e as demais novidades concebidas a partir de Belém são frutos da releitura dos fatos relativos à paixão e à ressurreição de Jesus. Segundo a tradição cristã, o Cristo crucificado e ressuscitado em Jerusalém sempre foi idêntico ao menino nascido em Belém.
O que era antes de Belém? Na realidade, nada começa do zero! Muito antes do Natal da criança, em Belém, o povo eleito vivenciou a presença cuidadora de Deus. Foi na solidão do deserto que o povo da Antiga Aliança interpretava esperançoso a voz do Salvador. Em meio aos vales desnivelados, sem o verde da vida, os caminheiros experimentaram o valor do frescor da água. Sucedeu que, no silêncio do deserto, Israel sentiu os embalos da esperança redobrada.
Terminada a bela criação, Deus descansou de sua obra, restou a saudade desse descanso. Bem antes dos fatos acontecidos em Belém, cumpriu-se a promessa de que a vinda do Salvador prescindia de preparo especial. Surgiu a figura exótica de João Batista, nasceu filho de Isabel e de Zacarias, o profeta no templo. Zacarias, no hebraico, é testemunho que indica Deus se lembra. O nome encarna um propósito gracioso de Deus.
Natal combina com esperança; é certeza que satisfaz, de forma duradoura. A esperança cristã não engana, nem reprime - é força que devolve o vigor a vidas secas e anima pessoas caídas. É expressão de confiança que nasce de ação pioneira, iniciativa de Deus, na história da humanidade. Aos olhos humanos as esperanças estão acabando. O que esperar, ainda, diante da fragilidade humana e do poder do pecado que corrompe a existência humana? O salmista denuncia a vida, quando degradada a pura vaidade.
Deus em sua essência é o autor da esperança. O aperitivo do reino de Deus, visível no Cristo da ressurreição, anima a festejar a história do nascimento do Salvador. Nada começa do zero. A novidade de vida e o sonho de um novo dia de amanhã são interferências dos céus que correspondem à graça de Deus, jamais produção humana.
Natal tem lugar especial neste mundo tão religioso, porém, distante do Deus da Verdade. Celebrar Deus que se faz carne, este é o espírito do verdadeiro Natal. Quando Deus nasce homem, não mais faz sentido encobrirmos o rosto com máscaras, como se o mundo carecesse de pequenos deuses! Reitero desejos de um alegre e abençoado tempo de Natal! .
Ari Knebelkamp
pastor da Paróquia da Paz
da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB)
em Joinville - SC
Jornal A Notícia - 06/01/2006