No espelho da Bíblia, os seres humanos, criaturas de Deus, descobrem o rosto da sua própria vida. Enxergam melhor quem eles são, como agem e quais são as verdadeiras intenções da sua ação. Vejamos a história bíblica da Torre de Babel (Gênesis11)! Os habitantes de Babel resolveram queimar tijolos, construir uma torre bem alta para que se tornassem famosos evitando que fossem espalhados por toda a terra. Sem dúvida, uma intenção contrária à vontade do Deus-Criador. Assegurar a fama, garantir o poder próprio às custas do nome de Deus, expor o potencial criativo próprio para engrandecer-se a si mesmo, foi ali que residiu o grande engano em Babel.

A qualidade dos propósitos, sempre que resultam em obras ecumênicas, depende da intenção dos seus executores.

Quando o ser humano se emancipa de Deus e assume o lugar que só cabe a Deus, então Babel, onde tudo está fora do lugar, continua sendo realidade. O espírito da unidade quebra à medida que grupos ou pessoas poderosas centralizam as idéias e as decisões em razão do potencial de influências que lhe é próprio.

Graças a Deus, a fortaleza que era a Torre de Babel, na cidade da confusão, não está com a última palavra. No capítulo seguinte, em Gênesis 12, Deus inicia uma nova página na história com as suas criaturas e criações. Mediante a escolha de Abrãao e de Sara, o Senhor lhes dá uma promessa especial: ser bênção. Pessoas humanas, criaturas de Deus são escolhidas como fonte do bem, tornam-se instrumentos a serviço da bondade, sinal de confiança depositada na humanidade.

Sendo inspirados pelo espírito ecumênico, confessamos que Deus nos tem chamado no decorrer de 2005 para somarmos esforços, em favor de uma espiritualidade que promove a fraternidade e que renova a fé e a esperança, por causa de Jesus Cristo, Senhor da Igreja.

Recebemos a incumbência de participar da missão de Deus, aperfeiçoando as relações entre as Igrejas. De forma ecumênica, nos empenhamos no combate à fome, à violência, aprendemos do Evangelho a desafiarmos a sociedade em favor de relações justas e humanas. O Evangelho da Paz nos motivou para que em conjunto pudéssemos testemunhar a paz. Isto ocorreu, por exemplo, quando participamos da Campanha Ecumênica da Fraternidade e, recentemente, nos colocando a favor de uma sociedade brasileira onde o porte das armas deixa de ser considerado um direito, mas antes uma ameaça à vida própria e à existência alheia.

A história da Torre de Babel, os testemunhos em torno de Abraão e de Sara e, em especial, a mediação da vida e obra de Jesus Cristo fortalecem o espírito da unidade e nos desafiam a trabalharmos com um talento precioso que Deus nos deixou.

Manfredo Siegle
pastor sinodal do Sínodo Norte-catarinense
da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB)
em Joinville - SC
Diocese Informa - 11/2005