Uma releitura do mês de julho, prestes a findar, indica para uma série de acontecimentos relativos a nossa história particular no sul do Brasil. Destaco, entre os marcos históricos, a festa da imigração; de modo específico, a imigração alemã, no dia 25 de julho. Há 180 anos passados, desembarcavam às margens do rio dos Sinos, onde hoje se localiza a cidade de São Leopoldo, no Estado do Rio Grande do Sul, as primeiras pessoas procedentes da Alemanha. Outros grupos de imigrantes europeus, de várias nacionalidades, aportaram antes e muitas outras em tempos posteriores..
Há 153 anos, desembarcaram na antiga Colônia Dona Francisca, que hoje se identifica, em parte, com a cidade de Joinville e arredores, as primeiras levas de imigrantes europeus; em sua maioria, alemães, suíços, italianos e açorianos. Não eram ricos nem poderosos, pelo contrário. Em sua maioria, os novos habitantes da terra brasileira somavam pequenos colonos, comerciantes de pouco capital, artesãos, sapateiros, marceneiros, carpinteiros. Gente simples, pessoas trabalhadoras. Saíram de sua pátria com uma enorme vontade de vencer na vida, buscando o desenvolvimento pessoal e familiar. Na pátria, se apresentavam enormes dificuldades. Havia escassez do pão de cada dia. Quem podia garantir o futuro? Sair para uma nova terra seria uma grande oportunidade para progredir! Um sonho que acalentava uma vida mais feliz e de melhor qualidade. Imigrantes corajosos se aventuraram e rumaram em direção aos mares do Sul, à procura de terra fértil e abundante, à procura de trabalho e de vida nova.
A história revelou que muitas esperanças se concretizaram. Desenhou-se a paisagem do progresso, do desenvolvimento agrário, de colheitas generosas. Aos poucos, surgiu o crescimento industrial e a atividade comercial. A vida dos colonos e imigrantes obteve um novo colorido. Jamais faltaram o esforço, trabalho dedicado, a criatividade, bem como o sacrifício e muito espírito de luta. Para os trabalhadores e trabalhadoras da terra, a roça tornou-se um chão promotor de esperança. Mas é responsável lembrar também das esperanças que falharam. Muitos sonhos permaneceram meros sonhos e, por isso, geraram desânimo e frustração. Promessas ouvidas, ainda na terra pátria, que não aconteceram, tal qual as sementes lançadas que não germinaram e deixaram de produzir bons frutos.
Com certeza, a fé, esta confiança forte em Deus Jesus Cristo, acompanhou as levas de imigrantes, desde o início até os dias de hoje! O apoio que experimentaram, na vida em comunidade, as celebrações que promoveram comunhão, a prática das orações, os acontecimentos comunitários, suas festas fortaleceram o ânimo dos bravos imigrantes. As raízes da resistência e da coragem, frutos da fé, abriram portas e novos caminhos. A roça, lugar de sustento para inúmeras pessoas, tornou-se, de fato, roça da esperança! Festejar a persistência dos bravos imigrantes, num dia especial, no Dia do Imigrante, assim como não silenciar diante das injustiças sofridas continuam sendo tarefas a ser executadas pelas lideranças dos movimentos que organizam as populações em suas lutas no ambiente rural e urbano.
A Igreja cristã tem o dever de apoiar as iniciativas em favor da vida que nascem nestes movimentos. Apostar no dia de amanhã, por causa da semente da esperança, é incumbência perene, que não passa. Tanto a roça como a cidade precisam ser lugares de paz e de esperança!
Manfredo Siegle
pastor sinodal do Sínodo Norte-catarinense
da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB)
em Joinville - SC
Jornal ANotícia - 30/07/2004