Um conhecido teólogo nos meios luteranos chamado Gottfried Brakemeier lembra em artigo recente que o termo ecumene tem sido acertadamente utilizado para expressar a diversidade reconciliada do corpo de Cristo. Mas, lembra que o termo significa mais. Ele tem também um sentido mais abrangente, envolvendo toda a terra habitada, o mundo de Deus. Dentro deste mundo se movem as pessoas, dentro dele constróem relações afetivas e sociais. Dentro deste mundo assumem papéis, às vezes destruíndo, às vezes construíndo a natureza, à vezes promovendo, às vezes prejudicando a paz e a justiça.
Brakemeier, em seu artigo, afirma:
ecumenismo deve extrapolar a esfera estritamente eclesiástica e manifestar-se em cuidados com as enfermidades globais. É claro que o ecumenismo eclesiástico não se condiciona à paz em seu meio ambiente. Esta não é premissa da unidade cristã. Mas proíbe-se separar a paz em Cristo da paz na terra, da qual fala a mensagem de Natal (Lc 2.14).
Isto não significa assumir um papel que cabe, por exemplo, às Nações Unidas. Significa, antes, lembrar que a fé tem uma forte dimensão social, de responsabilidade pública, de desarmar os antagonismos, erradicar o ódio, construir comunhão e habilitar para a diversidade para conviver em paz e justiça. No encontro destas atribuições que brotam da fé viva, autêntica, inspirada pelo Espírito Santo, é que se move um importante setor do ecumenismo. Quando um incêndio destrói a casa do vizinho, não se pergunta de que religião ele é, mas todas as pessoas se engajam para apagar o fogo e salvar seus pertences. Quando há uma campanha por alimentos, não se prioriza as famílias e uma ou outra denominação, mas a solidariedade vai sempre em busca do mais necessitado, do mais carente. Quando ONGs se organizam pela divulgação dos métodos não-violentos de resolução dos conflitos, estão propondo uma mística ecumênica nesta ação, uma espiritualidade engajada, uma leitura aberta, dinâmica dos textos bíblicos.
Muitas vezes tenho ouvido relatos e queixas de pessoas que se sentem cansadas na caminhada ecumênica. Dizem: embora todas as Igrejas sérias concordem com ela, a velocidade está muito lenta. Em resposta, tenho chamado a atenção para os aspectos relatados acima. Estou convicto de que a prática ecumênica é muito maior do que parece. O problema é que em muitos casos não é vista como tal. Aqui residem alguns desafios importantes:
a) Mudar um pouco o conceito de mística, de espiritualidade.
b) Conseguir enxergar e sentir no ato social motivado pela fé, um ato religioso.
c) Conseguir realizar a luta pela justiça como seguimento do mandato de Jesus Cristo.
d) Entender o sofrimento humano como contrário ao desejo de Deus e sua superação como ato aprovado por Deus.
e) Desenvolver a consciência o clamor do povo sensibiliza a filantropia de Deus e chama para a ação transformadora no mundo.
Investir em novos conceitos, em novos entendimentos dos passos ecumênicos, pode se transformar numa atitude libertadora. Este investimento não vai resultar em novas instituições eclesias, (não é este o seu propósito), mas em um mundo mais calmo, mais equilibrado e mais cheio de paz.
Carlos Musskopf
pastor da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB)
em Joinville - SC
Diosece Informa - 11/2004