Uma das marcas registradas da época natalina é a música. As tradicionais melodias são tocadas quase até à exaustão, seja no comércio, nas diversas apresentações de grupos ou corais. Nos cultos e celebrações não é diferente, afinal queremos celebrar e nos alegrar em conjunto relembrando como os louvores nos trazem o sentimento de que estamos mais próximos uns dos outros, pois reconhecemos que a presença de Deus continua edificando nossas vidas e reforça nosso sentimento de comunidade.
Claro, a música também está muito presente na bíblia. Os salmos são o maior exemplo de como o seu conteúdo era entoado nas celebrações e encontros comunitários. Muitos deles foram transformados em cânticos que são entoados já há décadas nas diferentes igrejas pelo Brasil a fora. Alguns deles só há pouco tempo chegaram oficialmente no seio da IECLB!
No Novo Testamento também aparecem várias expressões musicais. As que mais chamam a atenção são os cânticos em Lucas 1 e 2. Ali alguns personagens que fizeram parte da história da salvação entoaram seus louvores ao Senhor pelo fato de serem escolhidos ou presenciarem a revelação do Deus encarnado. Menciono cinco cânticos do terceiro evangelista.
Em primeiro, o cântico beatitude, entoado por Isabel ao receber a visita de Maria, Lucas 1.42-45. Maria foi chamada pela mãe de João Batista de “a mais abençoada de todas as mulheres”. Isabel reconheceu que diante dela estava a mãe de seu salvador.
Depois vem o magnificat, entoado pela própria Maria, 1.47-55, que engrandece a Deus por ser escolhida para ser mãe do salvador. Reconhece que Deus não escolheu pessoas poderosas, mas uma humilde serva para cumprir sua vontade. Um cântico muito semelhante é encontrado em 1 Samuel 2, quando Ana agradeceu ao Senhor ao vencer sua esterilidade.
Em terceiro lugar temos o benedictus, o cântico de Zacarias, 1.67-79, que depois de ficar mudo durante nove meses por duvidar de que Deus pudesse dar à Isabel um filho, extravasou como uma metralhadora, com palavras de louvor profetizando a vinda da luz para o mundo que estava em trevas, anunciando que o salvador iria “guiar nossos passos no caminho da paz.”, v. 79.
Em seguida, depois de alguns solos, os anjos colocaram em ação o seu afinadíssimo coral, o glória in excelsis deo, 2.14. Glorificaram ao Senhor nas alturas, anunciando a chegada do salvador. Ao se deslocar para ver recém-nascido, os pastores também cantaram. Indo um pouco além do que o testemunho bíblico relata, creio que faltou ao evangelista citar o conteúdo deste cântico! Certamente já podemos imaginar qual foi o seu teor, com certeza de muita gratidão. O interessante nesta história é que os pastores não eram pessoas bem vistas na sociedade da época. Eles disputavam entre si a concorrência de forneceram os animais para o templo e não poucas vezes superfaturavam as suas “mercadorias”. Se fossem investigados pela operação lava jato certamente seriam presos! E foram justamente eles que tiveram a honra de serem os primeiros a presenciar a natividade. Como Deus age de forma ilógica, escolhendo algumas pessoas de menor credibilidade para serem protagonistas de sua história!
Por último, aparece o velho Simeão, com seu nunc demitis, 2.29-32. Ele havia recebido a promessa de Deus de que não morreria antes de tomar o salvador em seus braços. E assim aconteceu. Ele mesmo disse que poderia ser “demitido”, partir em paz deste mundo, pois seus olhos já tinham visto a salvação, v.29-30.
Fiquei pensando o que estes cânticos têm a nos dizer nesta véspera de Natal. Não posso concluir outra coisa a não ser reconhecer que Deus usa diferentes meios e diversas pessoas para cumprir a sua vontade. Deus usa aquilo que achamos o mais improvável para manifestar seu amor. Não são as pessoas mais poderosas, por que elas normalmente não têm sensibilidade e agem com arrogância. Porém, o Senhor se utiliza de quem tem um coração aberto para receber sua mensagem e entender seu plano de salvação. Sua salvação não é por mérito, porque nos consideramos “bonzinhos”, participantes e contribuintes fiéis, mas é por causa de sua misericórdia. Estas ações de Deus não são explicadas logicamente, mas apenas entendidas pela fé. Uma fé capaz de alcançar e transformar pessoas desacreditadas, as quais se tornam um verdadeiro testemunho diante da sociedade.
Portanto, Natal é o momento do encontro com o Deus transformador e renovador da nossa fé. Somente a partir deste encontro com Jesus é que vamos perceber o quanto o Espírito Santo nos capacita e nos faz vivenciar a boa nova da salvação.