A sociedade brasileira sofre, perplexa e amedrontada, um fenômeno inédito na sua história: a escalada da violência. Não queremos a violência. Queremos a fraternidade. É urgente e indispensável encarar o problema com sinceridade para tomar consciência das formas e dimensões que ele vem assumindo entre nós e discernir as suas causas. Para compreender a violência, é importante não reduzi-la à criminalidade. Violência é tudo o que fere ou esmaga a dignidade humana, toda a forma de violação do corpo, da consciência e da vida.
Os meios de comunicação informam sobre o aumento dos conflitos nas áreas rurais e nos meios urbanos: aumento das taxas de criminalidade, homicídios, assaltos, roubos, estupros, linchamentos. O desrespeito à vida leva ao ponto ao ponto de matar por matar. A escalada da violência assusta e isola no medo indivíduos e famílias, inibindo a sociedade na busca de soluções eficazes.
À luz da fé, o quadro leva a encontrar critérios cristãos que permitam um reto juízo sobre natureza íntima da violência e de suas causas mais profundas. As diversas formas de violência têm como sua fonte profunda na ânsia imoderada do ter, do poder e do prazer. O pecado das pessoas consiste em não se aceitarem como criaturas, filhos(as) de Deus e irmãos(ãs), responsáveis. A exemplo de Jesus, pela construção de um sociedade fraterna e justa. Através do amor, o projeto de Deus é uma comunidade, na qual a pessoa se realiza e chega à felicidade na medida em que se abre para os outros.
Em Jesus Cristo temos uma postura que combate a violência sem se deixar envolver por movimentos que recorrem à violência. Ele anuncia, com sua vida e mensagem, um novo código de valores. Proclama felizes os mansos, os construtores da paz, os misericordiosos, os que têm fome e sede de justiça. Acima de tudo, Jesus Cristo anuncia um mandamento novo, o do amor, e chega ao extremo de propor perdão e o amor aos inimigos (Mt. 5.1ss).
Aqui está o desafio: como vivenciar o mandamento de Jesus (amor) diante de tanta violência e coisas pessoais? Somente sustentados pela certeza de que o amor é mais forte do que a morte, a graça superior à desgraça. O desafio para cristãos supõe um compromisso com a verdade e a justiça. O cristão se fortalece na esperança fundamentada na fé em Cristo - o cordeiro de Deus que tira do pecador o pecado e não a sua vida.
Jesus convoca todos para a tarefa da transformação do mundo, para que seja possível o amor entre as pessoas, entre as famílias, entre grupos, entre comunidades e nações. A transformação da sociedade, no sentido da justiça, do amor e da solidariedade, não se fará sem um opção por Jesus e o seu reino. Exigirá também a denúncia profética de tudo o que se opõe à dignidade humana e ao plano de Deus, ou seja renovar toda a vida a partir de dentro ( Lc. 4.18), em profundidade.
Cada cristão e cidadão é chamado a se empenhar para vencer a violência. Com a soma dos esforços se tornará possível construir um país mais justo e não-violento. O amor em Cristo vencerá a violência .
Egon Alberto Wutzke
pastor luterano e coordenador da Diaconia Sinodal Joinville
do Sínodo Norte Catarinense
da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB)
em Joinville - SC
Jornal A Notícia - 28/07/2006