Rute 1. 6-22
A Igreja está inserida no mundo, num contexto específico, numa sociedade que tem seus anseios e preocupações.
Como igreja cristã nós não ficamos isolados dos acontecimentos diários, mas precisamos incluir os temas e assuntos de nossa sociedade na nossa reflexão bíblica e cristã. Digo isto porque nesta semana se iniciam as comemorações pelo dia das mães, uma celebração a nível mundial e como Igreja luterana somos comprometidos com este assunto e convidados a refletir sobre ele através da Bíblia que é nosso guia para todos os momentos da vida.
Gostaria de desafiar vocês, cada um e cada uma a pensar sobre os textos bíblicos que falam a respeito de mulheres, textos onde elas agem, onde elas estão presentes e são valorizadas, respeitadas, vocês lembram de alguns textos que falam sobre as mulheres? Quais? (compartilhar)
No Antigo Testamento existem dois livros que levam o nome de mulheres: Ester e Rute
Sobre o livro de Rute queremos ler um texto,
O livro de Rute nos fala de um romance, de uma história que aconteceu na época dos juízes (1.100 a.C). Essa história fala de relações humanas, das mais simples às mais complexas, sendo que o assunto da terra, da lei, da cultura , da justiça , do amor, da família do povo são abordados neste pequeno livro do AT.
O fio vermelho do livro sobre as relações humanas é a defesa da vida e dos direitos de duas mulheres e de suas comunidades.
A história se baseia na vida de rute e Noemi e dos acontecimentos que as envolvem. Rute é jovem, Noemi é uma senhora de idade. As duas ficaram viúvas. Sem a referência masculina as duas se vêm sem futuro, em especial Noemi. Ela fica desanimada e quer deixar tudo para trás, deseja voltar para seu povo, Belém. Rute é de Moabe, país vizinhio de Israel. Noemi, seu marido e filhos foram para Moabe, terra de rute, por causa da fome. Lá viveram alguns anos. Lá os filhos de Noemi se casaram, portanto Rute é uma das noras de Noemi.
Aconteceu que todos os homens da história morreram. Naquele tempo, eram os homens que protagonizavam os direitos e os poderes. Ficar sem um homem como referência era ficar desolada e desamparada de direitos, à margem da sociedade. Mesmo sem a presença masculina as duas se encontram numa situação extremamente difícil. Elas passam a depender da solidariedade da família do marido. As viúvas sem filhos não tinham direito à terra nem aos meios de produção, sendo que ficavam economicamente dependentes de outros que tinham acesso à terra. Estando viúvas elas também eram excluídas do ponto de vista reprodutivo, pois Ter muitos filhos era sinal de Bênção no AT.
A situação realmente estava complicada para aquelas mulheres.
Noemi então, decide voltar para Judá, na cidade de Belém de onde havia saído. Rute insiste e quer ir junto com Noemi, mas Noemi acha melhor que Rute volte para sua família, pois ela é jovem e tem a oportunidade de casar-se novamente. Em Judá, Noemi sabe que tudo vai ser difícil.
Sabe que não vão encontrar a solidariedade da família para reconstruir sua vida, muito menos a de rute, pois em Judá ela é considerada estrangeira que tem menos direitos que o povo de lá. Mas Rute insiste em se comprometer com o futuro de Noemi e faz até um juramento em nome da amizade e consideração que tem para com ela. Apesar da falta de perspectivas e das dificuldades, as duas voltam juntas para Judá.
Na solidariedade de uma para com a outra encontra-se a resistência e a busca por novas relações que superam a dependência da dominação masculina da época. Porque se amam e são solidárias, expressam sua amizade de forma incomum, as duas mulheres vão em busca de novos caminhos, de soluções para os problemas e dificuldade de suas vidas.
A história continua. Quando Rute e Noemi chegam em Judá todo o povo comenta a tristeza das duas e fica com pena delas. Para as duas viúvas que já não tem mais direitos à terra porque não tem nenhum homem da família, a única coisa que resta é sobreviver com as sobras da colheita. Esta é uma antiga lei que vale para elas: os pobres têm direito de pegar o que fica nas plantações depois da primeira colheita.
Acontece que o dono da plantação é Boaz, um parente distante de Noemi. Ele se interessa por Rute somente por sua aparência. Mas quando fica sabendo de sua procedência e de sua história de fidelidade e compromisso com Noemi, fica mais impressionado e facilita o trabalho para ela.
Rute está interessada na solidariedade e no compromisso para com ela e Noemi.
Com o passar do tempo, Rute e Boaz se conhecem e tem uma relação amorosa. Eles planejam e passam a avaliar e planejar o futuro. Boaz, como parente distante de Noemi não tem a obrigação legal de casar-se com Rute e resgatar as terras de Noemi. Outros parentes mais próximos é que tinham essa obrigação. Mas Boaz vai querer algo mais do que a lei simplesmente porque ama Rute e se solidariza com ela. Boaz vai superar os mecanismos que faziam da lei um instrumento de indiferença. Ele só descansa quando se casa com Rute e resgata as terras de Noemi.
Esta história do livro de Rute contada em quatro capítulos, tão simples e pequena é muitas vezes deixado de lado nas interpretações nas comunidades cristãs. Este livros não fala de uma grandiosa revelação de deus a um profeta, de uma grande acontecimento, milagre ou cura, mas simplesmente conta a história de vida de duas mulheres que lutam para continuar juntas e sobreviver em meio a uma sociedade injusta e indiferente. A bíblia também tem dessas coisas, histórias de vidas que querem mostrar a presença de Deus nas relações humanas.
Podemos nos perguntar, onde está Deus nesta história, onde podemos ver sua atuação, sua revelação?
Justamente no compromisso de amizade e solidariedade de Rute para com Noemi. Na promessa de que ficaria junto a ela até que a morte as separasse, na fidelidade à sogra já velha e cansada de viver, na luta pelo trabalho e por ser reconhecida por alguém que se interessasse com amor e justiça por elas, Deus está presente nas relações humanas, é um Deus presente, um Deus-conosco.
Querida comunidade, que ensinamentos esta história traz para nossas vidas?
Este livro quer ressaltar a importância da amizade na vida humana, especialmente amizade entre mulheres. Na vida existem momentos que estamos abaladas, tristes, às vezes até no fundo do poço e Deus quer estar presente nestes momentos através de pessoas, especialmente daquelas que são nossas verdadeiras amigas e amigos.
A amizade é poderosa e pode transpor barreias, assim como fizeram Rute e Noemi, duas viúvas que perderam tudo e comprometidas uma com a outra foram refazendo suas vidas, encontrando no caminho pessoas solidárias que valorizaram o gesto de amor que uma fez para com a outra.
Além de amigas também fica o exemplo de uma mãe que perdeu seus filhos e não deixou de lutar pela vida, foi em busca de novos desafios e teve a ajuda de pessoas solidária. Cantemos para homenagear todas as mães por tudo que nos ensinaram, pela luta e resistência em meio às dores da vida!
GRAÇAS DOU POR MINHA MÃE
Graças dou por minha mãe, pela vida que levou,
Graças por lições preciosas que ela humilde me ensinou.
Graças por toda a ternura com que sempre me tratou,
E também pelo castigo que em amor me aplicou.
Graças dou por seus cabelos, que o tempo branqueou,
e também, seu rosto amado, que a idade enrugou,
graças dou por sua mão que alegre acariciou,
pelo corpo que bondoso me gerou e amamentou.
Graças dou por sua voz que me fez adormecer,
E por tudo quero sempre me lembrar e agradecer,
Graças dou por sua ausência de meus olhos, minha mãe,
Quando então sua presença sinto em meu coração.
Pastora Cristina Scherer
Paróquia Litoral Norte Catarinense