Caminheiros e viajantes circulando pelas estradas e pelos caminhos do Norte catarinense são presenteados, nesta época do ano, com matas de um verde exuberante e pintadas com uma variedade de cores vivas..
Árvore, sem grande porte, o jacatirão fala sua linguagem própria. A cada ano, acontece a mesma metamorfose fantástica à medida que muda a vegetação numa belíssima paisagem rica de cores. A monotonia do cotidiano e a rotina que enerva o ser humano são quebradas. Irrompe o colorido dos jacatirões em flor, árvores fortes ao lado de outras miúdas, mas igualmente belas. Muda a estação do ano, transforma-se a vegetação, a bela e boa criação de Deus. Manifesta-se a marca de uma ação privilegiada do Criador.
Em meio ao mosaico diferenciado das formas das pétalas e do verde forte, marcas das plantas e matas vivendo ao sabor do tempo, do sol e da chuva, sobressaem as cores equilibradas do jacatirão, símbolo da mata atlântica. As cores, branca e roxa, revestem jacatirões à semelhança de uma rede florida.
Quem não conhece a fala das cores? O branco, apontando para a pureza, sinaliza a paz, anuncia ordem e justiça. Construir pontes em direção a outra pessoa é possível, porque há paz. A cor branca nos dá a liberdade de apostar na reconciliação e na fraternidade.
As pétalas brancas são equilibradas pelo roxo, a cor da sabedoria, do bom senso, a cor do equilíbrio. O ser humano avançou a passos largos no mundo da tecnologia e das ciências. Estagnou, porém, na vivência que valoriza a sabedoria, uma característica de humanidade verdadeira. As ciências e a sabedoria precisam andar de mãos juntas. É preciso investir na sabedoria, promover atitudes e políticas sábias, uma contribuição fundamental da Igreja cristã.
O mundo das ciências evidencia eu papel buscando o bem-estar da sociedade humana, logo sua importância é inquestionável. Mas não são os avanços científicos que, por si só, já garantem a qualidade de vida e criam as condições ao bom relacionamento entre as criaturas e criações.
O belo jacatirão, uma bênção de Deus. A natureza toda, obra maravilhosa da palavra criadora de Deus, fala sua própria linguagem, portanto não a compreende quem se sentir dominado pela ânsia de dominar. Sua linguagem é incompreensível a quem se submete servilmente ao ímpeto da agressividade e do espírito destruidor.
Sempre que nossas matas se cobrem das flores coloridas, até parece que o princípio da criação não está tão distante assim. Somos convencidos de que o momento inicial da beleza da criação continua vigorando, hoje! O tempo, em que aos olhos de Deus tudo era bom e belo, se torna bem presente na humanidade.
Apesar das delícias tão próximas do mundo criado e dos jacatirões em flor, o ser humano é marcado pela sensação de queda. Será uma queda sem volta? A experiência da queda fez os humanos acreditarem que possuíam mais sopro divino dentro de si do que qualquer outra criatura. Então, o espírito dominador nos separou daquele princípio que era tão bom. A sociedade humana priorizou o monopólio que traz benefícios para alguns segmentos, ao invés da vida em comunhão para todas as pessoas; privilegiou a política da subordinação dos mais fracos e desprotegidos, ao invés de desenvolver gestos acolhedores e carinhosos. O mundo passou a ser dividido a partir das escalas hierárquicas. Nessa visão de mundo, sustentamos as desigualdades e as injustiças com todas as suas conseqüências.
Jacatirões em flor, um sinal de mudança. A novidade toma conta da paisagem, nada precisa ficar como está. O branco e o roxo tornam-se símbolos da paz, do comprometimento e da sabedoria. A bela criação nos brinda com um fino presente de Natal: o jacatirão, árvore fantástica! Seus frutos promotores da alegria e da esperança são ofertados por suas frágeis pétalas coloridas, a cada novo ano. São sinais da natureza que facilitam a compreensão da mensagem do nascimento do Salvador. Para o mundo doentio, existe possibilidade de cura e promessa de salvação.
Paz e sabedoria são meus bons desejos neste Natal, na realidade, uma boa notícia embutida nas cores branca e roxa, marcas do jacatirão em flor. Paz e sabedoria, presentes deste Deus tão humano, parceiro nosso, encarnado na criança de Belém.
Manfredo Siegle
pastor sinodal do Sínodo Norte-catarinense
da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB)
em Joinville - SC
Jornal ANotícia - 19/12/2003