Um provérbio chinês diz: “Quem monta um tigre, dele não mais poderá apear”. O poeta alemão Wolfgang Goethe colocou na boca do aprendiz de feiticeiro o lamento queixoso: “é impossível afastar os espíritos que outrora eu invoquei”. A simbologia das palavras é clara. Se, por um lado, experimentamos avanços científicos para o bem da humanidade, desconfiamos que as obras fantásticas, frutos da tecnologia podem significar riscos e prejuízos.
É incontestável a influência exercida pela tecnologia sobre o estilo de vida e de convivência humana. Viver e organizar a vida a partir do mundo natural é pressuposto descartado. O ser humano tornou-se sempre mais um cidadão emancipado no mundo desenhado pelas próprias capacidades. Verdade é que criamos e desenvolvemos tigres; agora são eles que andam por aí e nos amedrontam. Tentamos fugir das tragédias ambientais, ora provocadas por águas destruidoras, ora pelo fogo incontrolável ou por ventos devastadores.
O centro da Itália foi atingido por abalos sísmicos, cuja força acabou em larga destruição. Face à tragédia o que o poder público italiano está fazendo é aconselhar as populações em risco a buscar lugar seguro nas praias. Se, por um lado, a humanidade deseja liberdade da tirania das forças da natureza, por outro, ela se afoga nas águas da escravidão moderna, orquestrada pelos regentes do mercado globalizado. A humanidade passa a ser vítima das suas próprias obras. Torna-se refém de organizações que não cumprem o que prometem. É fascinante o poder nas mãos dos meios de comunicação. A Televisão, especificamente, gera hoje uma consciência coletiva de abrangência nacional. A última edição do Big Brother Brasil repetiu a sua capacidade de promover a conscientização coletiva nacional. O programa é de mediocridade e de obscenidade gritantes; seu poder de fogo, no entanto, é capaz de envolver uma nação inteira, resultando em solidariedade empática e conscientização coletiva.
São muitos os tigres que andam soltos por aí. Quando neles montados, não mais conseguimos descer do seu lombo. Creio que a linguagem simbólica é igualmente aplicável à esfera eclesiástica. O Cristo da Páscoa é o protesto contra o modelo de vida submisso às leis da produtividade desenfreada; é antídoto à mediocridade. O poder da vida venceu o poder da morte. A oferta da Páscoa traz esperança e permite que apostemos no mundo são. Sob sua influência, esperamos um mundo transformado!
Manfredo Siegle
Pastor Sinodal do Sínodo Norte-Catarinense
da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB)
em Joinville - SC
Jornal O Caminho - 05/2009