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ID: 13

Destruir ou moldar o mundo

Artigo

16/01/2004


De julho de 1997 a julho de 2003 trabalhei como assessor teológico para assuntos do Brasil e da América Latina no norte da Alemanha, no Centro de Missão Mundial e de Serviço Cristão ao Mundo (NMZ). O NMZ é uma instituição da Igreja Evangélica Luterana da Alemanha e congrega uma equipe de 17 assessores e assessoras, representando os cinco continentes. Durante esses seis anos tive a oportunidade de viajar muito e conhecer vários países, culturas e realidades diferentes. Através deste artigo quero compartilhar com vocês a preocupação com o caminho que a atual dita globalização está tomando..

Na verdade penso que, com a globalização, uma nova etapa histórica está tomando forma e é necessário desmistificar algumas teses a seu respeito. A globalização prometeu o fim da miséria. Evidencia-se, entretanto, o contrário. Ela produz mais miséria e empurra a humanidade para novas guerras de distribuição. Apregoa-se a liberdade de mercado, e o resultado é a provocante desigualdade social. O livre mercado, sem nenhum controle, é desumano, brutal, excludente. Reserva prosperidade apenas para uns poucos e joga a grande massa na miséria. A diferença entre os mais ricos e os mais pobres cresce de forma preocupante. A renda total dos 10% mais ricos é 65 vezes maior que a dos 10% mais pobres. Cientistas políticos estão prevendo para os próximos anos inúmeros levantes e guerras civis.

A partir desses fatos quero desmistificar algumas teses que ouço por aí. Tese 1: a globalização traz prosperidade para todos. O que se vê, porém, em todos os continentes, é a globalização reforçando a pobreza. Tese 2: a globalização é a vitória do capitalismo. Isto é falso. A globalização é a vitória das empresas multinacionais sobre o capitalismo. Tese 3: a globalização aproxima os povos e produz a paz. Isto é falso. A globalização gera novas guerras civis e novas guerras de distribuição e retaliamento. Tese 4: a globalização une o mundo. Isto é falso. A globalização divide o mundo. Governantes de diversos países manifestam a sua disposição de intervir a favor de uma globalização com rosto humano. É questionável se conseguirão realizar seu intento, pois já faz tempo que a política está subserviente à economia. As empresas multinacionais há muito tempo se distanciaram da política. Culturas e políticas nacionais não lhe interessam.

Como pastor e teólogo, creio que o nosso mundo tem salvação. Creio num mundo de cura. Creio no Deus bíblico da justiça e da esperança. O mundo e toda a criação são uma expressão da sua esperança. Ao criar a terra, os mares, os animais, as plantas e a humanidade, Deus imaginou um mundo bom. Imaginou um lindo e grande jardim onde pudesse passear e conviver com as pessoas. Entregou ao ser humano o domínio sobre todas as coisas para que cuidasse da criação, pudesse viver em comunidade e ser feliz na companhia do Criador. O projeto de Deus para com a humanidade toda é de uma vida com amor, comunhão, paz e justiça social.

É esta fé que me dá a liberdade de questionar a globalização atual e de afirmar que é necessário moldá-la de uma maneira diferente. Para tanto, é necessário desenvolver estratégias de ação política que privilegiem a justiça social e global e que possibilitem a preservação da boa e bela criação de Deus.

Ari Klebelkamp
pastor da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB)
na Paróquia da Paz
em Joinville - SC

Jornal ANotícia - 16/01/2004

 


Autor(a): Ari Klebelkamp
Âmbito: IECLB / Sinodo: Norte Catarinense
Área: Missão / Nível: Missão - Sociedade
Natureza do Texto: Artigo
ID: 7636

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