Da Nigéria vem o ditado: É preciso cozinhar as pedras até que estejam moles. Lembrei-me desse ditado, quando se trata da liberdade de convivermos ecumenicamente e, isto, com muito fôlego e persistência. Há muitas forças contrárias que gostariam de apagar a chama nesta cozinha.
Após as festas de final de ano, depois da passagem ruidosa do ano novo, vividas as férias, estamos, agora, em pleno tempo de Quaresma. A velocidade do tempo é grande, foge do nosso controle. A cada novo dia, somos animados a relembrar o milagre de Jesus Cristo em nosso meio.
A descida de Deus das regiões celestiais espelha um fato revolucionário. A notícia sobre a encarnação do Deus Emanuel, o Deus Conosco tem implicações para toda a humanidade. O agir ao contrário do nosso pensar, caracteriza a existência de Deus. A mensagem da revelação do Salvador não afasta ninguém deste mundo. Pelo contrário, é mensagem centrada na realidade do mundo. Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu único Filho: João 3.16. A estrebaria de Belém e a cruz de Gólgota expressam o quanto Deus mostrou a sua face humana, refletem “o espelho do seu coração paterno”. O Deus infinito se torna finito na humanidade de Jesus Cristo.
É Boa Notícia que fortalece o ser humano para que possa fazer frente às contradições entre gerações e etnias, entre a escravidão e a liberdade, entre as religiões, raças e povos inteiros. É mensagem que anima a resistir ao egoísmo e a seus frutos: à violência, à falta de paz e de dignidade, à ausência de justiça. Permanece o convite à atitude altaneira de prosseguirmos de cabeça erguida, esperança inconfundível, na estrada da vida. O fato de Deus “descer do céu” tem como contrapartida o olhar firme e a postura de esperança do ser humano.
A revelação de Deus numa criança frágil, marcada pela cruz desde o princípio, é como a “boca no trombone”, serve de instrumento que ecoa em todas as partes do mundo. É Boa Notícia que causa alegria em toda a humanidade. É desafio à transformação dos humanos e das estruturas humanas que sustentam a lógica da sociedade.
Que poderia eu desejar nesta época do ano? Que juntos possamos continuar realizando o nosso serviço inspirados no exemplo do Cristo, de modo fraterno, no espírito da reconciliação e no espírito da unidade! A ação de salvação de Deus desafia ao mandato ecumênico. Não negamos as diferenças no mundo dos seres humanos; diferenças existem, também, na igreja. As convicções diferenciadas exigem argumentos, e, argumentos enriquecem a comunhão, promovem o diálogo e sugerem respeito mútuo. Desigualdades dividem e geram animosidade; estas, sim, carecem de superação, devem ser eliminadas para que o espírito da unidade e o mandato de Cristo prevaleçam e “o mundo creia”. Faz sentido organizarmos, juntos, a Campanha da Fraternidade, no espírito ecumênico.
Grande é a novidade inaugurada pelo Cristo da manjedoura e da cruz. Servindo ao bem é possível construir uma vida na esperança de que o Deus da graça cuida e cuidará, no futuro, de cada um e de cada uma. Em favor da salvação da humanidade, Deus é perseverante cozinhando pedras, até que fiquem moles. No espírito da comunhão, nossa tarefa é de cooperarmos com a sua prática culinária.
Pastor Sinodal Manfredo Siegle