São palavras de recomendação ditas pelo profeta de Deus, Jeremias, a seus compatriotas deportados na Babilônia, aproximadamente, 600 anos antes do nascimento de Cristo. Anuncia que vida nova para os exilados em terra estranha consiste em regressar à pátria e contemplar um antigo sonho de todo o pequeno agricultor em Israel: ser proprietário de um chão para plantar e produzir, ter uma casa própria e família..
O Sínodo Norte-catarinense da IECLB realizou, nos dias 21 e 22 de maio, em São Bento do Sul, sua 7ª Assembléia Sinodal, que contou com a presença de cerca de 300 representantes, provenientes de suas bases comunitárias.
Fruto de um projeto de interação e objeto de reflexão e atualização, construímos naquela assembléia uma casa, chamando-a de casa da esperança. Ter casa faz parte de nossa organização social e cultural. O bem-estar das pessoas passa pelo sonho de que a casa própria é um ideal a ser alcançado, mais cedo ou mais tarde. Em sua obra A Cidade no Deserto, o conhecido autor da literatura universal Antoine de Saint-Exupéry escreveu: Acima de tudo, eu sou uma pessoa que tem lugar para morar. O filósofo Martin Heidegger dizia: Ser verdadeiramente pessoa humana, viver como criatura mortal e finita, nesta terra, significa ter um lugar onde morar. Lugar para morar pressupõe a experiência da casa digna. A realidade que aponta as condições de moradia para milhões de pessoas pobres, no Brasil e fora de nosso País, está em oposição à qualidade de vida, ao ideal de vida digna, de bem-estar, fruto de uma moradia aconchegante, porto seguro e acolhedor para a pessoa humana, para toda a família. Quanta vida de aparência há nas favelas brasileiras ou sob as lonas pretas erguidas provisoriamente na beira de muitas estradas brasileiras à espera de terra para produzir, chão para sobreviver! E não são os grandes blocos de cimento armado em nossas cidades ou nossas casas de custódia mais parecidas a silos, verdadeiros depósitos para pessoas, do que espaços qualificados, fonte de vida em comunhão, de aconchego, um porto seguro?
Ter casa própria não deixa de ser somente um alvo, aquele ideal desejado. A casa, objeto de moradia, além de meta, transforma-se, igualmente, em fonte, lugar que irradia bem-estar, define-se como espaço promotor de sentimentos da boa acolhida, assemelha-se ao ninho de comunhão, oportuniza o congraçamento e anima à solidariedade. Edificar casas da esperança: não será uma vocação especial, um projeto de toda família orientada pelo bom espírito de Jesus-Deus? O projeto casa da esperança favorece a arquitetura das portas abertas, por isso, acolhe caminheiros, realiza-se como lugar de abraços e de festa, espaço comprometido com a democracia e espelha vidas em constante reconciliação. Na realidade, um balão de ensaio, laboratório para a nova sociedade humana. Apesar de Jesus Cristo não ser proprietário de nenhuma casa, muitas vezes, ele estava em casa. Sentava em torno da mesa e anunciava que a comunhão de mesa era uma prefiguração do reino de Deus, na dimensão da grande comunhão ecumênica, universal.
Construí casas! Assim é a recomendação do profeta Jeremias. Fazer de nossas casas moradias que se fundamentam na justiça, criar espaços que servem à tranqüilidade e à integridade da família, habitação que acolhe e oportuniza o acesso a forças novas, um lugar de festa e de celebração. Trata-se de um projeto de portas abertas, vertente da novidade de vida, a serviço da esperança e da salvação, num mundo cheio de contradições. É desse jeito que se fortalece a identidade própria e se coopera na construção da nova sociedade!
Manfredo Siegle
pastor sinodal do Sínodo Norte-catarinense
da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB)
em Joinville - SC
Jornal ANotícia - 04/06/2004