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ID: 13

Causa e efeito

Artigo

01/03/2005


Quem não conhece a partir da física a lei da causa e do efeito?.

O evento da Páscoa passou. Persiste, no entanto, o espírito da Páscoa. O testemunho da ressurreição identificado liturgicamente nas comunidades cristãs pela cor branca, pelo brilho das luzes e pela chama do fogo pascal, deixou um rastro de efeitos. O maior desses rastros é a esperança. Quando, em meio à realidade da morte se redescobre a vida, então a esperança pode evoluir à vontade. A presença do ressuscitado caminhando ao lado dos dois amigos, rumo à aldeia de Emaús, acendeu esperança. O reconhecimento de que o companheiro na estrada era o Cristo da cruz aconteceu em torno da mesa no partilhar do pão. Logo depois, o Cristo da Páscoa apareceu junto dos 11 discípulos. Quando ainda estão atemorizados e marcados pelo sentimento da derrota e da frustração, o Senhor saúda seus amigos recolhidos e anuncia: Paz seja convosco. A confiança e a dúvida se confundem, situam-se lado a lado como se fossem irmãs gêmeas. O Mestre não censura quem duvida, leva os discípulos duvidosos a sério. O recado é dado: Cristo vive! A esperança não está morta.

É verdade, o cristianismo é a religião da esperança por excelência. A esperança é o fermento na massa, cria vida nova, desenvolve valores novos, transforma as pessoas, enfim, se alguém está em Cristo é nova criatura, as coisas antigas já passaram, eis que se fizeram novas! Na manhã do terceiro dia, as mulheres rumam ao túmulo. O dia está para clarear. Os sentimentos, assim como os pensamentos, estão centrados na tragédia que se abateu na vítima da cruz. É impossível compreender o que aconteceu, mas as mulheres retornam diferentes, irradiam espanto e alegria. Em seus ouvidos soam ainda as palavras dos mensageiros de Deus. O anúncio foi consolador: Não temais, porque buscais Jesus, o ressuscitado. Ele não está aqui, ressuscitou!

Páscoa... ressurreição...vida nova...certeza de vida eterna...: mensagem-efeito que vem do túmulo vazio. A razão humana tem enormes dificuldades com esse tipo de mensagem. Não confere com a lógica deste mundo e de sociedade. A fé e as dúvidas humanas continuam andando lado a lado. É a mesma experiência que os discípulos de Jesus fizeram, reunidos em Jerusalém. Jesus desconhece heróis da fé, nem mesmo no grupo de seus amigos mais próximos. Trata-os com seriedade!

Na casa dos dois discípulos, na localidade de Emaús, Jesus faminto pediu algo para comer e foi atendido. Comeu na presença deles. O que oferecemos nós, testemunhas da esperança, nos dias de hoje, a quem encontramos com fome e sede? Será alimento, dinheiro, uma ferramenta, água, roupa, um pedaço de terra ou repartimos palavras confortadoras, carinhosas, palavras de bênção quem sabe, um aperto de mão, um abraço caloroso, gesto de paz?

Páscoa, a causa, tem efeitos, estes precisam virar semente frutífera. Digam adiante, não fiquem com a esperança só para vocês. O poder da esperança, o anúncio de que as portas abertas à vida nova estão à mostra são efeitos da Páscoa e não podem ser retidos. É impossível ficar parado perante o poder da Páscoa-esperança. Silenciar diante dos gracejos do poder da morte, sobremodo conhecidos em todas as partes da sociedade humana, revela atitude covarde. A força da esperança que nasce da cruz e da Páscoa anima a trilhar caminhos de esperança, em especial ali onde nada mais se pode esperar. As mulheres, cedo no primeiro dia da semana, rumam ao sepulcro. Querem fazer o mínimo, que na realidade é o máximo que podem, embalsamar o corpo do amigo, prestar uma última homenagem, matar a saudade, buscar consolo, tornar o luto mais suportável. Na manhã daquele domingo, raiava o novo dia e tudo ficou mudado naquele cenário de tristeza. O túmulo, agora vazio, transforma-se em fonte de esperança.

O mundo desenvolvido, que experimenta avanços gigantescos, aposta em mais consumo, em maior bem-estar e submete a sociedade aos caprichos da economia. O Deus de Jesus Cristo não tem lugar neste tipo de mundo. O único lugar que lhe restou, no início de sua vida, foi a manjedoura e, no fim da vida, a cruz. O projeto de Deus parece uma grande utopia, porque passa pela valorização do pecador, da criança, das pessoas que nada são. É Deus mesmo, o promotor da esperança pascal, quem reconhece a humanidade dos pobres e o valor dos excluídos. Lá onde os poderosos e os estrategistas do mundo se encontram em busca do sucesso e de novos avanços, famintos e sedentos pelo mercado gordo, ali o Deus da fé cristã não tem lugar.

A esperança, enquanto esperança cristã, é direcionada às pessoas cujo futuro não é nada rosado. Vida que renasce na fonte da esperança é vida que aprende a amar; é existência nova que reparte o amor justamente com as pessoas que estão à mercê da desgraça, do desprezo e tendo o futuro ameaçado.

Manfredo Siegle
pastor sinodal do Sínodo Norte-catarinense
da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB)
em Joinville - SC

Jornal A Notícia - 01/04/2005


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