A motivação em escrever sobre este tema é porque muitos nesta época do ano se encontram em férias. Outro motivo, porque entendo a necessidade constante de haver equilíbrio entre o trabalho e o lazer/descanso, buscando uma vida saudável em sanidade física, mental e emocional. Sabemos que isto não é fácil e nem simples, mas um constante desafio para todos nós. Quero inicialmente levantar a problemática, para depois irmos em busca de respostas.
Fomos gerados em uma “cultura do trabalho” o que desde cedo aprendemos que “o trabalho dignifica o ser humano”. O que de fato é verdade, pois a própria Palavra nos orienta: “Observe a formiga, preguiçoso, reflita nos caminhos dela e seja sábio!” (Pv 6.6), e também, “Com o suor do seu rosto você comerá o seu pão” (Gn 3.19a). Neste aspecto temos um legado precioso de nossos antepassados, que em sua maioria “suaram a camisa” para com muito esforço conquistarem seu espaço de vida e, para muitos, sua sobrevivência.
Por outro lado, encontramos algumas más interpretações desta “cultura do trabalho” porque muitos entendem que quem não “produz” não é pessoa digna. Deixe-me exemplificar isso. Como pastor, não poucas vezes me deparei com pessoas idosas que lutam terrivelmente em aceitar a sua condição de não mais poderem “produzir” algo, algumas dependentes de seus familiares. Pela sua idade avançada, com seus inúmeros problemas de saúde, muitos em decorrência de excessos no trabalho pesado. O que podemos perfeitamente compreender, pois alguém que trabalhou de sol a sol por toda a vida e agora se encontra numa condição de nem poder se gerir, causa uma tremenda crise e muitos entram em depressão.
Então, neste caso mencionado, lhe pergunto caro leitor: esta pessoa idosa perdeu a sua dignidade humana, o seu valor por não poder mais “produzir” algo como antes? Nós sabemos que não, embora que numa visão extrema da “cultura do trabalho” é isto que está em muito arraigado na mente das pessoas. Mesmo na realidade de um mundo pós-moderno, com tanta informação, sabemos que o “improdutivo” é colocado à margem da sociedade. Embora tenha sido produtivo a vida inteira.
Além disso, existe hoje um número cada vez maior dos chamados Workaholic, expressão norte-americana que teve sua origem na palavra alcoholic = alcoólatra. Por sua vez, Workaholic se traduz por “viciado em trabalho”. Há estudos sérios a respeito deste problema que têm levado pessoas a extremos, muitas perdendo sua saúde e desestruturando suas famílias. Peço que você se informe mais a respeito deste assunto.
Francamente, se por um lado o preguiçoso não conquista nada na vida e se torna um “parasita” para os outros, por outro, o extremo de uma cultura do trabalho escraviza pessoas e reduz seu valor ao que produz e não ao que é, independentemente de sua “produção”: Imagem e Semelhança de Deus (Gn 1.26-27).
Facilmente transfere-se esta visão deturpada da cultura do trabalho para dentro da igreja. Ela apenas ganha outra roupagem, mas o princípio é o mesmo. Se alguém se envolve dia e noite na sua Comunidade, muitas vezes em vários grupos e funções, ao mesmo tempo, não tendo mais tempo para sua família, para o seu devido descanso e lazer, isto é visto como virtude. O contrário também é verdade, o que se pode deduzir erroneamente que descanso e lazer são coisas negativas e que a vida cristã é feita apenas de renúncias.
Entenda onde quero chegar. Não estou fazendo apologia ao descompromisso com a sua Comunidade cristã, mas que reflitamos acerca de equívocos e excessos. Numa visão cristã equilibrada, há espaço para um envolvimento saudável nos trabalhos da igreja, mas sem deixar de lado a família e o espaço para se curtir um hobby, esporte ou outras coisas que não estejam diretamente ligadas a ela, sem crise de consciência. Obviamente que estou falando de coisas que não firam os princípios da Palavra e que não nos afastem da vida no Corpo de Cristo.
Entendo que as renúncias fazem parte do ser cristão e que precisamos ser responsáveis em tudo o que fazemos dentro ou fora da igreja. O que necessitamos é buscar o equilíbrio, sem pendermos para os extremos, que em algum momento terão suas consequências físicas, emocionais e espirituais. A única busca, que nunca é demasiada, é a de estarmos no centro da vontade de Deus. E esta só é possível pela fé em Jesus Cristo e em humildade e amor.
Como aprendemos com o sábio Salomão, “há tempo para todas as coisas...”, portanto, há tempo de trabalhar, ir à igreja, envolver-se de corpo e alma no serviço do Senhor, e termos nosso lazer e descanso. O que devemos colocar em primeiro lugar é Deus e seu Reino, ademais a família, nossa saúde integral e o Corpo de Cristo.
Um abençoado Ano Novo a todos!